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quarta-feira, 28 de novembro de 2012
Mitos, Medos e Preconceitos na Adoção de Crianças Maiores
Por Jaqueline Araújo da Silva
A adoção está envolvida por preconceitos que se expressam através de medos, crenças, fantasias, inseguranças, entre outros. Como vimos, as pessoas interessadas em adotar optam pelos recém-nascidos ou crianças com idade menor possível. Em pesquisa realizada por Levy e Féres- Carneiro (2001), verificou-se que quando os requerentes optam pelas crianças com a idade menor possível para adotar com a justificativa de que estes são mais fáceis de serem moldados, na verdade, revelam um desejo de apagar a história passada da criança e cancelar qualquer possível herança genética que venha interferir no projeto de parentalidade.
Para Camargo (2006), os requerentes à adoção sonham acompanhar integralmente o desenvolvimento físico e psicossocial, que se manifestam desde as primeiras expressões faciais, além das primeiras falas e passos. Querem construir uma história familiar e registrá-la a partir dos primeiros dias de vida do filho. Além disso, temem que a criança com idade superior a dois anos possa não se adaptar à realidade de uma família adotante. Acreditam que a personalidade da criança já esteja formada, o caráter incorporado e já não são mais possíveis de detê-los. Neste sentido, Santos (1997) afirma:
Este é outro mito na adoção, que eventuais problemas comportamentais apresentados pelos filhos adotivos decorrem [...] do meio social onde a criança viveu seus primeiros anos (nos casos de adoções tardias) e, neste caso, evita-se o problema adotando-se recém nascidos. (SANTOS, 1997, p.163)
Segundo Camargo (2006, p.91), "[...] os mitos, que constituem a atual cultura da adoção no Brasil, apresentam-se como fortes obstáculos à realização de adoções de crianças maiores, pois potencializam crenças e expectativas negativas ligadas à prática da adoção tardia". De acordo com Vargas (1998), o preconceito social em relação à adoção de crianças maiores é fator determinante para a pouca disponibilidade de candidatos para estas adoções, pois a adoção continua sendo mais aceita quando atende a uma necessidade "natural" de um casal com impedimentos para gerar filhos, desde que estes sejam bebês e ''passíveis de serem educados".
O preconceito com relação à adoção de crianças maiores é ainda muito forte, como se todas as adoções de bebês fossem indicativos de sucesso garantido e todas as adoções de crianças maiores já representassem um fracasso (WEBER E KOSSOBUDZKI, 1996; LEVY E FÉRESCARNEIRO, 2001). Weber (1998) afirma que essas adoções nem sempre trazem problemas, porém elas são diferentes das adoções de bebês, uma vez que as crianças maiores têm um passado que, muitas vezes, deixou suas marcas. Esta autora realizou pesquisa com pais e filhos adotivos e também com a população em geral, sendo que os dados levantados indicam o grande número de preconceitos envolvendo a adoção. De acordo com o levantamento de dados:
1- as pessoas teriam medo de adotar crianças maiores (acima de seis meses) devido à
dificuldade de educação;
2- teriam medo de adotar uma criança que viveu muito tempo em acolhimento institucional pelos "vícios" que traria consigo;
3- teriam medo de que os pais biológicos pudessem requerer a criança de volta;
4- teriam medo de adotar crianças sem saber a origem de seus pais biológicos, pois a
"marginalidade" dos pais seria transmitida geneticamente;
5- pensam que uma criança adotada, cedo ou tarde, traz problemas;
6- acreditam que a adoção beneficia, primordialmente, o adotante e não a criança, sendo um último recurso para pessoas que não conseguem ter filhos biológicos;
7- acreditam que a adoção pode servir como algo para "desbloquear algum fator
psicológico" e tentar ter filhos naturais;
8- acreditam que, quando a criança não sabe que é adotiva, ocorrem menos problemas;
assim, se deve adotar bebês e "fazer de conta" que é uma família natural;
9- acreditam que as adoções realizadas através dos Juizados são demoradas, discriminatórias e burocráticas e recorreriam à “adoção à brasileira" caso decidissem;
10- finalmente, consideram que somente os laços de sangue são "fortes e verdadeiros".
Levinzon (2000) também realizou pesquisa com as famílias adotantes e os dados encontrados foram similares aos de Weber (1998). Levinzon destaca os seguintes medos que comumente habitam o imaginário dos pais adotivos:
1- medo em relação aos pais biológicos da criança: temor que se arrependam a qualquer momento e venham lhe tomar a criança; culpa por tomar para si uma criança cujo sangue não lhes pertence; vergonha, como se tivessem cometido um delito, tendo roubado a criança;
2- medo em relação à criança: medo de que tenha uma má herança biológica; temor de
rejeição e abandono pela criança quando souber de sua verdadeira origem; medo de que a criança vá à procura dos pais biológicos;
3- medo em relação à sociedade: temor de serem censurados pela sociedade; discriminados pela ausência do processo biológico da gestação; desvalorizados por esta forma atípica de parentalidade ou sua compensação na exaltação de seu aspecto filantrópico.
Através destas pesquisas podemos constatar que dentre os inúmeros mitos que povoam o imaginário social e que constituem a atual cultura de adoção, o mito dos laços de sangue é, sem dúvida, o mais dominante, pois insere a crença de que o fator biológico gera o destino final e quase sempre trágico nos casos da adoção. Há, em torno do filho por adoção, fantasias de que ele pode ser “sangue ruim” e, consequentemente, motivo de preocupação e sofrimento para os pais adotivos. O fato de ser adotado parece que já é condição mais que suficiente para ser classificado como problemático, diferente e fora do normal.
Há uma tendência presente no imaginário social em acreditar numa certa garantia decorrente dos laços de sangue e numa fragilidade dos laços formados através da adoção. As fantasias sobre a importância "da descendência de sangue" proporcionam condições para a confusão e discriminação entre a parentalidade biológica e adotiva, atribuindo maior relevância à primeira (WEBER, 1998). Na verdade, os dois tipos de parentalidade têm exatamente a mesma importância, mas fazem parte de contingências diferentes. No entanto, a contingência de ser uma família adotiva traz características especiais que não devem ser negadas, mas, ao contrário, assumidas.
Ainda sobre o preconceito, além do imaginário social, a própria legislação brasileira, conforme debatemos no segundo capítulo, parece contribuir para o fortalecimento dos mitos de que os laços biológicos são aqueles verdadeiros. Assim, os pais adotantes tentam disfarçar ou esconder as relações adotivas e imitar uma família biológica, adotando crianças recém-nascidas e de cor semelhante a sua.
No meio científico também encontramos muitos preconceitos relacionados à adoção. Segundo Weber (2003) e Vargas (1998), as publicações científicas sobre o tema falam acerca das dificuldades encontradas em filhos adotivos. Relatam um ou dois casos de algum distúrbio e atribuem sua etiologia ao fato de a criança ser adotiva, pois a perda inicial dos pais biológicos seria irreparável e causadora de todos os problemas.
Concordamos com Zornig e Levy (2006) quando afirmam que a separação da figura materna para crianças de pouca idade, assim como o desinvestimento materno repentino, produzem efeitos traumáticos. No entanto, ressaltam a possibilidade de as crianças e os pais adotivos conseguirem criar recursos psíquicos surpreendentes. Para estas autoras, a ênfase na qualidade das relações iniciais entre a criança e seus pais deu margem à crença de que crianças abandonadas e/ou vítimas de maus tratos seriam problemáticas e, portanto, não adotáveis tardiamente.
Palácios e Sánchez (1996) realizaram uma investigação comparativa com 865 crianças entre quatro e dezesseis anos de idade, provenientes de três grupos: crianças adotadas, crianças não-adotadas da mesma região de origem das adotadas e crianças institucionalizadas. As comparações foram realizadas em três áreas: problemas de comportamento, auto-estima e rendimento acadêmico. Os resultados mostraram uma grande semelhança entre os adotados e os não-adotados, enquanto que as crianças institucionalizadas obtiveram os piores resultados no conjunto das comparações.
Através de um estudo comparativo entre um grupo de pais e filhos adotivos e outro de pais e filhos biológicos, Santos (1988) avaliou aspectos como afetividade e cooperação entre pais e filhos. Não encontrou diferenças significativas entre eles.
Em relação a adoção de crianças maiores, Weber (2003) realizou pesquisa com pais e filhos adotivos de todo o Brasil e não constatou que a idade avançada da criança no momento da adoção fosse possível fonte de problema. Os casos em que foram relatados problemas no processo adotivo estavam mais relacionados à revelação tardia da adoção para a criança do que outros fatores. Esse assunto será aprofundado no próximo capítulo quando dissertamos sobre a família adotante.
No que se refere à diferença de comportamento entre crianças adotadas quando recémnascidas e adotadas quando maiores de dois anos, Ebrahim (2000) afirma não existir uma relação direta entre problemas de comportamento e idade da criança na época da adoção. Sustenta que as adoções de crianças maiores são perfeitamente viáveis e sua concretização e manutenção dependem, entre outros aspectos, da história da criança, do fato dela desejar ou não a adoção e das ações dos pais adotivos e dos que os cercam. Corroborando este pensamento, Diniz (1994) afirma que, apesar dos primeiros meses de vida serem os mais indicados para a formação de uma relação parental substituta, isto não exclui a possibilidade da adoção de crianças maiores. A concretização da adoção dependerá da vivência da criança e dos motivos que a impossibilitaram de permanecer na sua família biológica, bem como da flexibilidade e capacidade de dedicação dos pais adotivos. Segundo o autor, o fato de a criança ter mais idade não é um elemento inviabilizador da adoção.
Levy (1999) argumenta que, por já ter vivido experiência de abandono da qual muitas vezes se lembra, a criança maior será mais ativa no processo, podendo adotar ou não os pais adotivos como pais. Andrei (2001) também ressalta que quanto mais tardia a adoção, mais vivas serão as lembranças do passado e mais enraizadas na sua memória as ilusões, os sonhos, os desejos e as frustrações dos anos de abandono. Esta autora ainda afirma que as pessoas imaginam a adoção em termos ideais. De um lado, a criança adotada extremamente grata e com o coração transbordante de amor; do outro lado, a família sentindo-se plenamente realizada e recompensada através do seu novo membro. Às vezes, é exatamente essa a situação que ocorre. Outras vezes, o fardo do passado influenciando o comportamento da criança e a surpresa da família diante de manifestações decepcionantes tornam a adoção mais parecida com um desafio.
Ainda nesta discussão, Ferreira (1994) diz que muitas vezes, é exigida da criança recémintegrada uma conduta mais correta do que a de qualquer outra criança, como se o fato de ter ganho uma família significasse a retribuição de uma automática docilidade, educação e bom comportamento. Os pais adotivos esperam atitudes adequadas e resultados imediatos, submetendo a criança a exigências exageradas, que, não podendo ser correspondidas, acabam por produzir um total desajuste em sua conduta.
Sem dúvida, como foi mencionado, a adoção de crianças maiores requer cuidados especiais, porque a criança já traz a marca do abandono inicial e do tempo que permaneceu em acolhimento institucional. Contudo, isto não quer dizer que não sejam possíveis a superação e a adoção mútua entre as crianças e os pais adotivos. Para Vargas (1998), na adoção de crianças maiores, as chances de sucesso ou fracasso das relações que se estabelecem no meio social dependem da capacidade de suporte, trocas afetivas, confiança e companheirismo entre os protagonistas. A procura por uma orientação ou um processo psicoterapêutico pode ser valiosa, auxiliando a família a encontrar um eixo comum que proporcione desenvolvimento.
Assim, é preciso desmistificar a associação errônea entre adoção e fracasso, mito de laços sanguíneos, herança genética entre outras distorções. Na verdade, a adoção não é um processo artificial, falso ou ilegítimo; pelo contrário, envolve relações humanas de afeto e amor que florescem a partir da reciprocidade entre o adotado e a família adotante. Neste sentido, Santos (1997, p. 164) afirma que “[...] faz-se necessário, iniciar um trabalho voltado para a mudança de mentalidade no que se refere à adoção de modo a possibilitar uma superação de pelo menos parte dos equívocos e preconceitos que envolvem este processo”.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERA
Programa de Pós-graduação em Psicologia
"ADOÇÃO DE CRIANÇAS MAIORES:
Percepções e Vivências dos Adotados"
Jaqueline Araújo da Silva
Belo Horizonte
2009
Completo em: http://www1.pucminas.br/documentos/dissertacao_jaqueline_araujo.pdf
Por Cintia Liana
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Pode parecer ilógico -no mínimo pouco prioritário- ajudar um estranho quando as coisas parecem confusas na nossa vida. Mas eu venho aprendendo que este é um poderoso antídoto para os dias em que tudo parece fora do lugar.
Como assim, pergunta o meu leitor mais cético? E eu explico:
Há duas situações clássicas onde podemos auxiliar uma pessoa que não conhecemos. A primeira é através de doações e gestos similares de caridade. Estes atos são maravilhosos e muito recomendáveis, mas não é deles que quero falar hoje. Escolhi o segundo tipo: aquelas situações randômicas onde temos a oportunidade de fazer a diferença para uma pessoa desconhecida numa emergência qualquer. Na maioria das vezes, pessoas com quem esbarramos em locais públicos, envolvidas em situações que podem ir do estar atrapalhado até o precisar de mãos para apagar um incêndio.
Eu vejo pelo menos seis motivos para ajudar um estranho:
1) Divergir o olhar de nossos próprios problemas
Por um momento, por menor que seja, teremos a chance de esquecer nossas preocupações.
Dedicados a resolver o problema do outro (SEMPRE mais fácil do que os nossos), descansamos nossa mente. Ganhamos energia para o próximo round de nossa própria luta.
Esta pausa pode nos dar novo fôlego ou simplesmente ser um descanso momentâneo.
2) Olhar por um outro ângulo
Vez ou outra, teremos a oportunidade de relativizar nossos próprios problemas á luz do que encontramos nestes momento. Afinal, alguns de nossos problemas não são tão grandes assim...
Uma vez ajudei Teresa, a senhora que vende balas na porta da escola de meu filho. A situação dela era impossível de ser resolvida sozinha, pois precisava “estacionar” o carrinho que havia quebrado no meio de uma rua deserta. Jamais esquecerei o olhar desesperado, a preocupação com o patrimônio em risco, com o dia de by Savings Sidekick">trabalho desperdiçado, com as providências inevitáveis e caras. E jamais me esquecerei do olhar úmido e agradecido, apesar de eu jamais ter comprado nada dela. Nem antes nem depois.
Olhei com distanciamento o problema de Teresa. E fiquei grata por não ter que trabalhar na rua, por ter tantos recursos e by Savings Sidekick">oportunidades. E agradeci por estar lá, naquela hora, na rua de pouco movimento, e poder oferecer meus braços para ela.
3) Não há antes, nem depois ...
Na intricada teia de nossos by Savings Sidekick">relacionamentos, dívidas e depósitos se amontoam. Ajudar um conhecido muitas vezes cria vínculos ou situações complexas. Ás vezes, ele espera retribuir. Outras vezes, esperamos retribuição. Se temos ressentimentos com a pessoa, ajudá-la nem sempre deixa um gosto bom na boca. Se ela tem ressentimentos conosco, fica tudo muito ruim também.
Já com estranhos são simples. É ali, naquela hora. Depois acabou. E não há antes. Que alívio!
(mas não vamos deixar de ajudar os conhecidos dentro de nossas possibilidades, hein?)
4) A gratidão pelo inesperado é deliciosa
Quem se lembra de uma vez em que recebeu uma gentileza inesperada? Não é especial? E nem sempre estamos merecendo, mal-humorados por conta do revés em questão.
Ou quando ajudamos alguém e recebemos aquele olhar espantado e feliz?
Ontem mesmo, eu estava numa fila comum de banco. Um senhor bem velhinho estava atrás de mim. Na hora em que fui chamada, pedi que ele fosse primeiro. “Mas por que, minha filha?”. “Pelos seus cabelos brancos”, respondi. Ele, agradecido, me deu uma balinha de hortelã. Tudo muito singelo, muito fácil de fazer, mas o sentimento foi boooom.
5) Quase sempre, é fácil de fazer.
Uma vez eu fiquei envolvida por uma semana com uma mãe e um bebê que vieram para São Paulo para uma cirurgia e não tinha ninguém para esperar no aeroporto. Levei para um hotel barato, acompanhei por uma semana e tive medo de estar sendo usada, reforçada pelo ceticismo de muitas pessoas ao meu redor. No final, deu tudo certo e a história era verdadeira.
Mas na maioria dos casos, não é preciso tanto risco ou tanto tempo. Uma informação; um abaixar para pegar algo que caiu; uma dica sobre um produto no supermercado. Dar o braço para um cego (nunca pegue a mão dele, deixe que ele pegue o seu braço, aprendi com meu experiente marido). Facílimo, diria o Léo. E vamos combinar, fácil é tudo que precisamos quando o dia está difícil, certo?
6) Amor, meu grande amor
Finalmente, ajudar estranhos evoca o nosso melhor eu. É comum termos sentimentos de inadequação, baixa auto-estima e insatisfação conosco quando estamos sob tempo nublado. E ajudar o outro nos lembra que somos bons e capazes. Ajudar um estranho demonstra desapego, generosidade, empatia pelo próximo. E saber que somos tudo isto quando o coração está cinza... É para olhar com orgulho no espelho, não?
Portanto, se hoje não é o seu dia... Faça o dia de alguém. E se é um dia glorioso... Vai ficar melhor!
Fonte:http://www.vivermaissimples.com/2011/03/vida-dificil-ajude-um-estranho.html
Fonte:http://www.vivermaissimples.com/2011/03/vida-dificil-ajude-um-estranho.html
Karoline Toledo Pinto
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Um espaço verdadeiramente democrático , não limitamos e restringimos qualquer tipo de expressão , não toleramos racismo preconceito ou qualquer outro tipo de discriminação..Obrigado Claudio Vitorino