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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Felicidade. Por que sediar uma Copa do Mundo é bom pra você?



Nos anos 1920 surgiu na pobre região negra de Transkei, na África do Sul, a crença de que norte-americanos negros chegariam em aviões para destruir os brancos e salvar os escolhidos. Isso deveria acontecer em 1927.

Hoje na África do Sul você encontra uma crença semelhante: que em 2010 os mais ricos do mundo estão chegando em aviões para salvar todo país. No dia de maio de 2004 no qual a África do Sul ganhou o direito de sediar a Copa do Mundo, moradores de Soweto festejaram gritando: "O dinheiro está chegando!".

Metade das pessoas que você encontra em Joanesburgo criou um esquema para 2010: comprar apartamentos para alugá-los durante o torneio, vender salsicha e pudim de milho na frente dos estádios, recrutar camponesas para tecer bandeiras de contas nas cores de todas as seleções participantes. Grande parte das conversas na África do Sul é sobre esquemas assim, e nas colunas dos jornais, quando uma celebridade diz o que está fazendo no momento, geralmente acrescenta: "O mais importante é estar pronto para 2010". O ano se tornou um número mágico, como o Ano da Besta ou 1927.

Os sul-africanos soam como se estivessem em uma viagem espacial coletiva organizada pelo governo e marcada para terminar com um solavanco em 12 de Julho de 2010, o dia seguinte à final. Contudo, eles estão apenas expressando de modo radical uma crença convencional: de que sediar um grande evento esportivo pode enriquecer o lugar. Sempre que um país se candidata a hospedar uma edição da Copa do Mundo ou dos Jogos Olímpicos, seus políticos profetizam "bonança econômica". Eles evocam hordas de visitantes consumistas, a publicidade gratuita das cidades anfitriãs para os telespectadores do mundo, os benefícios a longo prazo de todas as estradas e todos os estádios que serão construídos. Não espanta que quase todos os países desejem receber esses eventos. A disputa para sediar a copa do mundo de 2018 é a mais acirrada de todos os tempos.

Na verdade, sediar torneios esportivos de modo algum deixa o país rico. O motivo pelo qual os países são tão ansiosos para sediar é completamente diferente: sediar deixa sua população feliz. Mas, estranhamente, os candidatos a anfitriões não parecem compreender seus próprios motivos.

A Copa do Mundo brasileira: para quem ela é boa?

Isso levanta a questão óbvia: o Brasil deveria sediar a Copa do Mundo de 2014? Os brasileiros não deveriam ser tão cegos quanto os sul-africanos foram. Eles precisam saber exatamente o que o torneio fará pelo seu país e o que não fará.

Antes de tudo, os brasileiros deveriam ter em mente que, independentemente do que o governo diz, a Copa do Mundo não os tornará mais ricos como um todo (embora a Copa possa ser uma bela oportunidade para quem por acaso é dono de uma empresa construtora de estádios). Nós previmos com confiança que o contribuinte brasileiro gastará mais com a Copa do Mundo do que dizem as estimativas iniciais. Por exemplo: a conta prevista de 1,1 bilhão de dólares para reformar os estádios certamente aumentará nos próximos anos, como aconteceu na África do Sul. E os estádios são apenas uma parcela dos custos da infraestrutura necessária para sediar o evento. Em 2009, as cidades-sede anunciaram um orçamento conjunto de 42 bilhões de dólares em reformas. Apenas a ligação por trem de alta velocidade entre São Paulo e Rio de Janeiro foi estimada em 11 bilhões de dólares. Outros 3 bilhões são destinados a modernizar os aeroportos em ruínas do país.

Mas, em julho de 2014, quando o último dos torcedores tiver partido, o faturamento for contabilizado e os custos extras adicionados, ficará claro que ninguém ganhou muito mais do que teria ganhado na temporada turística habitual. O torneio também não fará muita coisa pela imagem do Brasil e pelo investimento externo do país. Na verdade, se alguns turistas forem assaltados no Rio, a Copa do Mundo afetará negativamente a "marca" do Brasil no exterior.

Pode-se argumentar que o Brasil, assim como a África do Sul, tem coisas melhores nas quais gastar dinheiro do que em uma Copa do Mundo. Os dois países são muito parecidos. Ambos estão entre os países do planeta com maior desigualdade econômica. Isso significa que ambos têm um setor da economia de primeiro mundo com dinheiro e capacidade suficientes para sediar uma Copa do Mundo - mas também um setor de terceiro mundo que necessita desesperadamente dos frutos de todo esse dinheiro e capacidade. Como os sul-africanos, os brasileiros devem perguntar quantas casas com água encanada poderiam ser construídas pelo custo desses estádios.

Só se pode esperar que o mundo do futebol tenha aprendido com a vergonha da Copa do Mundo da África do Sul; com o modo como a Fifa obrigou um país em desenvolvimento a construir desnecessários estádios de "primeira categoria" elegantes o bastante para os patrocinadores e Sepp Blatter, enquanto a poucos quilômetros pessoas viviam em barracos de ferro. Em novembro de 2009, um alto funcionário do futebol europeu conversou conosco sobre pressionar a Fifa a permitir que o Brasil sediasse uma Copa do Mundo mais barata. Esse homem disse que isso poderia ser feito se algumas das associações de futebol mais poderosas- Alemanha, França, Estados Unidos, Inglaterra, entre outras- argumentassem que o Brasil não precisa construir os estádios mais caros do planeta, apenas alguns sólidos que não se tornassem elefantes brancos depois que o circo global partisse.

Se o Brasil tiver bom senso, combinará os preparativos para a Copa do Mundo com os jogos Olímpicos do Rio de 2016. Grande parte da infraestrutura para o primeiro torneio poderia ser reutilizada no segundo. A África do Sul está construindo estádios para uma única festa. O Brasil pelo menos os estaria construindo para duas.

Dito isso, há motivos para esperar que a Copa do Mundo brasileira deixe um legado maior que a sul-africana. A principal razão é que o Brasil tem uma necessidade maior do que a África do Sul em relação à infraestrutura de futebol moderna e aperfeiçoada que a Copa do Mundo deixará para trás. O Brasil tem quase quatro vezes a população da África do Sul: são cerca de 200 milhões contra quase 50 milhões. Tem um público de futebol muito maior: nenhum clube na África do Sul tem público médio de 20 mil pessoas, enquanto vários no Brasil têm.

E o Brasil precisa de novos estádios mais do que a África do Sul. Antes de os países serem escolhidos como sedes, o futebol sul-africano já usava vários estádios de rúgbi de nível internacional, assim como a ótima Soccer City de Joanesburgo. O Brasil, por outro lado, não tinha um único estádio de nível de Copa do Mundo quando se tornou sede do torneio. Seus torcedores estavam frequentando- ou não- estádios deteriorados de uma época mais pobre.

Um Brasil mais rico pode ter estádios vários. Durante o período de crescimento nos anos 2000, o Brasil se tornou mais um país de classe média. Hoje tem mais habitantes capazes de pagar para assistir a jogos de futebol com conforto. Depois que estádios melhores forem construídos- pelo contribuinte- é provável que mais brasileiros queiram acompanhar os campeonatos.

Os estádios deixarão de ser território principalmente de homens jovens acostumados a condições ruins. Depois de 2014, será possível ver basicamente o mesmo processo que aconteceu na Inglaterra após melhoria de seus estádios no começo dos anos 1990: a chegada de um público de futebol mais feminino, mais classe média, e acima de tudo maior. É verdade que a Inglaterra dos anos 1990 era um país muito mais rico do que o Brasil é hoje. Mas o Brasil é hoje mais rico do que seus estádios de futebol arruinados.

Se nossa previsão se concretizar e o público brasileiro do futebol for maior nos anos depois da Copa do Mundo, isso não tornará o Brasil como um todo mais rico, e, sim, representará uma transparência financeira dos contribuintes para os clubes de futebol e os torcedores. É possível que a sociedade brasileira deseje essa transferência, mas precisamos ter consciência de que é exatamente isso: uma transferência de riqueza do Brasil como um todo para um grupo de interesse no país.

No final das contas, a melhor razão para sediar uma Copa do Mundo é porque realizar um evento como esse é divertido. Se o presidente Lula quisesse ser honesto quanto a isso, ele diria: "Vai custar dinheiro, sobrará menos para escolas, hospitais e assim por diante, mas todos adoramos futebol e será um mês divertido, portanto vale a pena". Então os brasileiros poderiam ter um debate esclarecido sobre os verdadeiros prós e contras de sediar a Copa. Mas os brasileiros estão sendo bombardeados com falsidades econômicas. É bastante razoável querer sediar a maior festa do mundo (e ninguém está mais bem preparado para isso do que os brasileiros). O erro é achar que isso fará do Brasil um país mais rico.

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Este texto corresponde a um dos trechos do capítulo "Felicidade. Por que sediar uma Copa do Mundo é bom para você?", do livro Soccernomics (2010), de autoria de Simon Kuper e Stefan Szymanski. Esta reprodução foi autorizada pela Editora Tinta Negra, que detém os direitos comerciais da obra no Brasil.



Fonte:http://www.coletiva.org/english/index.php?option=com_k2&view=item&id=111:felicidade-por-que-sediar-uma-copa-do-mundo-%C3%A9-bom-pra-voc%C3%AA?&tmpl=component&print=1

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Um espaço verdadeiramente democrático , não limitamos e restringimos qualquer tipo de expressão , não toleramos racismo preconceito ou qualquer outro tipo de discriminação..Obrigado Claudio Vitorino

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Claudio Vitorino em ação..

Aquele que acredita que o interesse coletivo está acima do interesse individual , que acredita que tudo e possível desde que tenha fé em Deus e coragem para superar os desafios...

Vida difícil? Ajude um estranho .

Pode parecer ilógico -no mínimo pouco prioritário- ajudar um estranho quando as coisas parecem confusas na nossa vida. Mas eu venho aprendendo que este é um poderoso antídoto para os dias em que tudo parece fora do lugar.

Como assim, pergunta o meu leitor mais cético? E eu explico:
Há duas situações clássicas onde podemos auxiliar uma pessoa que não conhecemos. A primeira é através de doações e gestos similares de caridade. Estes atos são maravilhosos e muito recomendáveis, mas não é deles que quero falar hoje.


Escolhi o segundo tipo: aquelas situações randômicas onde temos a oportunidade de fazer a diferença para uma pessoa desconhecida numa emergência qualquer. Na maioria das vezes, pessoas com quem esbarramos em locais públicos, envolvidas em situações que podem ir do estar atrapalhado até o precisar de mãos para apagar um incêndio.

E o que nós, imersos nas nossas próprias mazelas, distraídos por preocupações sem fim amontoadas no nosso tempo escasso, enfim, assoberbados como sempre... O que nós temos a ver com este ser humano que pode ser bom ou mau, pior, pode sequer apreciar ou reconhecer nosso esforço?


Eu vejo pelo menos seis motivos para ajudar um estranho:


1) Divergir o olhar de nossos próprios problemas
Por um momento, por menor que seja, teremos a chance de esquecer nossas preocupações.
Dedicados a resolver o problema do outro (SEMPRE mais fácil do que os nossos), descansamos nossa mente. Ganhamos energia para o próximo round de nossa própria luta.
Esta pausa pode nos dar novo fôlego ou simplesmente ser um descanso momentâneo.


2) Olhar por um outro ângulo
Vez ou outra, teremos a oportunidade de relativizar nossos próprios problemas á luz do que encontramos nestes momento. Afinal, alguns de nossos problemas não são tão grandes assim...
Uma vez ajudei Teresa, a senhora que vende balas na porta da escola de meu filho. A situação dela era impossível de ser resolvida sozinha, pois precisava “estacionar” o carrinho que havia quebrado no meio de uma rua deserta. Jamais esquecerei o olhar desesperado, a preocupação com o patrimônio em risco, com o dia de by Savings Sidekick">trabalho desperdiçado, com as providências inevitáveis e caras. E jamais me esquecerei do olhar úmido e agradecido, apesar de eu jamais ter comprado nada dela. Nem antes nem depois.
Olhei com distanciamento o problema de Teresa. E fiquei grata por não ter que trabalhar na rua, por ter tantos recursos e by Savings Sidekick">oportunidades. E agradeci por estar lá, naquela hora, na rua de pouco movimento, e poder oferecer meus braços para ela.


3) Não há antes, nem depois ...
Na intricada teia de nossos by Savings Sidekick">relacionamentos, dívidas e depósitos se amontoam. Ajudar um conhecido muitas vezes cria vínculos ou situações complexas. Ás vezes, ele espera retribuir. Outras vezes, esperamos retribuição. Se temos ressentimentos com a pessoa, ajudá-la nem sempre deixa um gosto bom na boca. Se ela tem ressentimentos conosco, fica tudo muito ruim também.
Já com estranhos são simples. É ali, naquela hora. Depois acabou. E não há antes. Que alívio!
(mas não vamos deixar de ajudar os conhecidos dentro de nossas possibilidades, hein?)


4) A gratidão pelo inesperado é deliciosa
Quem se lembra de uma vez em que recebeu uma gentileza inesperada? Não é especial? E nem sempre estamos merecendo, mal-humorados por conta do revés em questão.
Ou quando ajudamos alguém e recebemos aquele olhar espantado e feliz?
Ontem mesmo, eu estava numa fila comum de banco. Um senhor bem velhinho estava atrás de mim. Na hora em que fui chamada, pedi que ele fosse primeiro. “Mas por que, minha filha?”. “Pelos seus cabelos brancos”, respondi. Ele, agradecido, me deu uma balinha de hortelã. Tudo muito singelo, muito fácil de fazer, mas o sentimento foi boooom.


5) Quase sempre, é fácil de fazer.
Uma vez eu fiquei envolvida por uma semana com uma mãe e um bebê que vieram para São Paulo para uma cirurgia e não tinha ninguém para esperar no aeroporto. Levei para um hotel barato, acompanhei por uma semana e tive medo de estar sendo usada, reforçada pelo ceticismo de muitas pessoas ao meu redor. No final, deu tudo certo e a história era verdadeira.
Mas na maioria dos casos, não é preciso tanto risco ou tanto tempo. Uma informação; um abaixar para pegar algo que caiu; uma dica sobre um produto no supermercado. Dar o braço para um cego (nunca pegue a mão dele, deixe que ele pegue o seu braço, aprendi com meu experiente marido). Facílimo, diria o Léo. E vamos combinar, fácil é tudo que precisamos quando o dia está difícil, certo?

6) Amor, meu grande amor
Finalmente, ajudar estranhos evoca o nosso melhor eu. É comum termos sentimentos de inadequação, baixa auto-estima e insatisfação conosco quando estamos sob tempo nublado. E ajudar o outro nos lembra que somos bons e capazes. Ajudar um estranho demonstra desapego, generosidade, empatia pelo próximo. E saber que somos tudo isto quando o coração está cinza... É para olhar com orgulho no espelho, não?

Portanto, se hoje não é o seu dia... Faça o dia de alguém. E se é um dia glorioso... Vai ficar melhor!

Fonte:http://www.vivermaissimples.com/2011/03/vida-dificil-ajude-um-estranho.html

Karoline Toledo Pinto

Karoline Toledo Pinto
Karoline Agente Penitenciária a quase 10 anos , bacharelada no curso de Psicologia em uma das melhores Instituição de Ensino Superior do País , publica um importante ARTIGO SOBRE AS DOENÇAS QUE OS AGENTES PENITENCIÁRIOS DESENVOLVEM NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES . Aguardem em breve aqui será publicado .APESAR DAS PERSEGUIÇÕES INFUNDADAS DAS AMEAÇAS ELA VENCEU PARABÉNS KAROL SE LIBERTOU DO NOSSO MAIOR MEDO A IGNORÂNCIA CONTE COMIGO.. OBRIGADO CLAUDIO VITORINO

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