
A trama de corrupção que a Polícia Federal desvenda na Secretaria Estadual do Meio Ambiente, e na similar municipal de Porto Alegre, não é um escândalo qualquer, igual aos que por serem tantos e em tantas áreas acabamos por esquecer. Agora se desnuda uma sucessão de crimes amplos e profundos, ao estilo da máfia, num conluio entre secretários, altos funcionários, empresários e despachantes. Não se trata apenas de outro caso de corrupção. Tudo que ocorra no meio ambiente afeta diretamente a cada um de nós, pois tem relação com a vida em si. De um a outro, muda apenas a intensidade do dano.
Os crimes ambientais têm uma perversão inata e seus efeitos se equiparam aos da explosão nuclear – multiplicam-se em cadeia, de forma incontrolável e sem fim. Não há remédio nem cirurgia para a degradação da natureza. No máximo, alivia-se a dor, mas a doença continua a avançar, sempre multiplicada.
Aqui, agora, o crime foi planejado em minúcias. Um ex-secretário do Meio Ambiente virou “despachante” e criou, até, um “instituto” para prestar assistência e vestir a fraude com as roupas da lei. Para compor o crime, todos esqueceram as diferenças partidárias e a cumplicidade reuniu gente do PC do B, do PPS e do PMDB sob o mesmo teto.
Alheios ao perfume do mau ambiente, o governador Tarso e o prefeito Fortunati surpreenderam-se com as prisões e com os delitos investigados. Alegam que nada sabiam de nada e creio que, de fato, desconheciam a engrenagem da fraude. Mas isto não os exime de responsabilidade e culpa.
Em área tão delicada como o meio ambiente, é de admirar que nunca o governador (e também o prefeito) tenha se interessado em saber como se concedem as tais licenças ambientais para grandes projetos. Neste setor, o governo está em crise há anos, surdo e cego às pequenas tragédias que nos açoitam e que deviam servir de alerta.
Com Yeda, os secretários floresciam como as estações do ano. Com Tarso, a assessora jurídica, nomeada em abril para a direção da Fepam (que executa e fiscaliza as ações), servia de ponte entre os corruptores e os corrompidos!
Não saber não desculpa! Ao contrário, transforma a responsabilidade em culpa por deixar algo fundamental (as licenças ambientais) nas mãos de auxiliares inoperantes ou permeáveis ao suborno.
Presos pela Polícia Federal, os secretários de Meio Ambiente do Estado e da Capital foram demitidos. Mas quem os substituirá? O governador já garantiu que o posto continuará com o PC do B. O prefeito fez o mesmo para o PMDB no município.
Nem o escândalo faz com que deixem o cuidado da natureza com um especialista acima de qualquer suspeita!
Segue o leilão partidário! Quem dá mais?
Por antecipação, os dirigentes do PC do B, PMDB e PPS saíram a defender seus membros implicados nas fraudes. A deputada Manuela d’Ávila, do PC do B, elogiou o demitido secretário Niedersberg e disse à Rádio Gaúcha que todas as decisões que tomou passaram pela Sala de Gestão do Palácio Piratini. A insinuação foi clara: se Niedersberg cometeu fraudes, a ordem veio de cima!
Nessa barafunda, tenho pena do pessoal do Ministério Público e da Polícia Federal.
Em exaustivas horas e dias de trabalho, desvendam roubos, falcatruas, fraudes e outros crimes para que, depois, qualquer lapso processual apague tudo. Ou não foi isto que ocorreu com o deputado federal José Otávio Germano? Denunciado como “chefe da quadrilha” que desviou R$ 34 milhões do Detran, quando secretário de Segurança, de 2003 a 2006, foi excluído do processo porque a Polícia o investigou (já quando deputado federal) sem autorização do Supremo.
Sempre que o formalismo valha mais do que o fato, jamais nariz algum sentirá o cheiro do mau ambiente!
Fonte:http://corrupcaonopoder.blogspot.com.br/
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