Isso só será possível com a adoção de políticas públicas inclusivas dos negros nos espaços sociais, de modo a retirar do inconsciente coletivo a noção de hierarquização da sociedade, onde os brancos ocupam os melhores espaços.
Recentes episódios ocorridos em nossa capital despertaram a atenção da sociedade para um problema recorrente e histórico: a discriminação racial que recai sobre os negros.
Uma médica e um estudante teriam ofendido trabalhadores negros, pessoal e diretamente, fazendo uso de expressões chulas, depreciativas e racialmente discriminatórias como “macaco”, “neguinho”, “urubu”, “cachorro”.
A indignação foi geral, a ponto de ser colocado na pauta do noticiário o clamor popular pela rigorosa punição criminal dos supostos infratores.
Esses episódios devem servir para efetuarmos reflexões mais aprofundadas sobre a temática.
Num primeiro momento, essa reflexão deve nos levar a admitir que existe, sim, preconceito e discriminação racial no Brasil, por mais que muitos sustentem o contrário, ou sustentem que só existe discriminação social, tendo como fator reprovável de segregação o poder aquisitivo. Essa constatação empírica, reforçada pelos episódios mencionados, é confirmada pelos números: a situação dos negros no Brasil é de segregação, exclusão, embaraço ao acesso igualitário aos bens jurídicos e oportunidades. Nada de “democracia racial”.
Os negros integram, no Brasil, agrupamento historicamente discriminado e marginalizado, o que deita raízes no passado escravista em que eram tratados juridicamente como coisa e não como seres humanos.
Isso é fato, ainda que essa discriminação racial, eventualmente, não seja explícita, mas habite o inconsciente coletivo resultante de acúmulo histórico.
Reverter esse quadro de discriminação racial contra os negros deve ser objetivo fundamental de nossa sociedade. Mas, para isso, é preciso reverter o referido quadro de inconsciente coletivo racialmente discriminatório.
Nesse sentido, não basta a proibição contundente e a rigorosa punição das práticas discriminatórias para conseguir proporcionar uma efetiva inclusão dos negros na sociedade, erradicando a discriminação racial.
O “exemplo” que se dá com a punição dos crimes de racismo ou de injúria racial exercem uma função pedagógica, é verdade, mas de pequeno potencial transformador do inconsciente coletivo discriminatório.
A reversão desse quadro só será realmente possível quando a sociedade se acostumar com a ideia de que negros são realmente iguais aos brancos, e esse costume só virá quando brancos vejam negros ocupando os mesmos espaços de trabalho, ocupando os mesmos espaços de lazer, ocupando os mesmos espaços acadêmicos, enfim, ocupando os mesmos espaços sociais e convivendo normalmente, fraternalmente, como iguais (embora diferentes: igualdade na diversidade).
Isso só será possível com a adoção de políticas públicas inclusivas dos negros nos espaços sociais, de modo a retirar do inconsciente coletivo a noção de hierarquização da sociedade, onde os brancos ocupam os melhores espaços.
Do contrário, continuaremos a presenciar cenas e episódios repugnantes como os relatados no início deste texto, e continuaremos a cobrar severas punições aos infratores. Todavia, sem reversão do quadro.
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Um espaço verdadeiramente democrático , não limitamos e restringimos qualquer tipo de expressão , não toleramos racismo preconceito ou qualquer outro tipo de discriminação..Obrigado Claudio Vitorino