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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

O racismo impregnado no pensamento da sociedade



O racismo impregnado no pensamento da sociedade



Apesar do tempo que separa a Abolição da Escravatura no Brasil dos dias atuais, os afro-descendentes permanecem discriminados no mercado de trabalho. Os resultados de uma análise de conteúdo realizada com base em 58 reportagens na revista de maior circulação nacional, Veja, traduzidos neste paper, revelam que o número de profissões ocupadas pelos afro-descendentes é bastante reduzido em comparação às ocupadas e expostas pelo contingente branco do país. Para além de qualquer questionamento sobre o preconceito sutil que caracteriza os textos jornalísticos das reportagens que compõem a amostra é importante evidenciar que a maior parte das profissões exercidas pelos afro-descendentes não exige, ou pouco exige, escolaridade regular, como é o caso de desportistas, cantores e músicos.
Introdução – A formação do povo brasileiro e a origem do preconceito racial A organização da sociedade brasileira no período colonial estava ligada ao controle do senhor de engenho pela submissão de seus empregados livres e escravos. Estes últimos trazidos de diversos lugares do continente africano foram obrigados a romper bruscamente com suas raízes culturais, pois, eram distribuídos em grupos de diferentes etnias, impedindo assim, a manutenção de seus costumes, como ilustra Darcy Ribeiro (1995, 115):


"A diversidade lingüística e cultural dos contingentes de negros introduzidos no Brasil, somada a essas hostilidades recíprocas que eles traziam da África, e a política de evitar concentração de escravos oriundos de uma mesma etnia, nas mesmas propriedades, e até nos mesmos navios negreiros, impediu a formação dos núcleos solidários que retivessem o patrimônio cultural africano". A partir da inviabilidade de suas práticas culturais e do ilogismo na adaptação dos valores e das tradições portuguesas, o africano foi adaptando a sua cultura aos moldes brasileiros. Exemplo bem conciso, segundo Ribeiro (1995, 16), está na língua portuguesa mais leve e na religião católica menos ortodoxa. "Simultaneamente, vão se aculturando nos modos brasileiros de ser e o de fazer, tal como eles eram representados no universo cultural simplificador de engenhos e das minas. Tem esse acesso, desse modo, um corpo de elementos adaptativos, associativos e ideológicos oriundo daquela protocélula étnica tupi que se consentiu sobreviver nas empresas, para o exercício das funções extra-produtivas." Outro aspecto que comprova tal fato advém do pós-escravismo, visto que, depois da abolição, os negros foram entregues à condição de mão-de-obra assalariada degradante, sistema não muito diferente da sociedade colonial, até porque neste novo processo a escravidão continuou de maneira implícita, estereotipada e discriminatória. "As atuais classes dominantes brasileiras, feitas de filhos e netos dos antigos senhores de escravos, guardam, diante do negro a mesma atitude de desprezo. Para seus pais, o negro, escravo e forro, bem como o mulato, eram meras forças energéticas, como um saco de carvão, que desgastado era substituído facilmente por outro que comprava. Para seus descendentes, o negro livre, mulato e o branco pobre são também o que mais há de rele, pela preguiça, pela ignorância, pela criminalidade muita vezes inata e inelutáveis", constata Darcy Ribeiro (1995, 221 e 222) Essa aculturação inovadora do negro sem perspectiva de educação, profissionalismo e capacitação, produziu estereótipos referentes a sua imagem como: enfermo, perigoso e preguiçoso. É interessante notar a conceituação mulata que se ocorreu no decorrer do tempo, seja pelo embranquecimento dos negros, como pela enegrecimento dos brancos. Criou assim, uma morenização de seus adeptos onde, não desejando a sua inserção no imaginário popular do negro, também se distanciou da dita cultura branca. A novidade na denominação de cores favoreceu outra visão preconceituosa, dentre elas, a incidida pela classe social. O negro sendo pobre é mais negro e possui menos aceitação social do que o negro rico. Este último, ao mudar seu nível de renda, e conseqüentemente de consideração social permanece enfatizado como modelo de superação.
Ribeiro (1995, 236 e 237) cita um exemplo claro acerca da situação das classes:


"Assim é que mais facilmente se admite o casamento e o convívio com os negros que ascendem socialmente e assumem as posturas, os maneirismos e os hábitos das classes dominantes, do que com o pobre e grosseiro, seja ele negro, branco ou mulato, por sua efetiva discrepância social, e sua evidente marginalização cultural." No transcorrer cronológico do povo brasileiro, não houve uma proposta construtiva a fim de solucionar a problemática do preconceito racial dos negros. A mídia com toda a sua evolução tecnológica, englobou essa temática num conformismo sustentado pela discriminação e segregação."A nação negra comandada por gente dessa mentalidade nunca fez nada pela massa negra que a construíra. Negou-lhe a posse de qualquer pedaço de terra para vender e cultivar, de escolas em que pudessem educar seus filhos e de qualquer ordem de assistência", pondera Ribeiro (1995, 222). Portanto, é evidente a estreita ligação que a história da formação brasileira, transmite hoje aos acontecimentos sociais, emitindo preconceitos e segregações entre as raças. A essência, a marca do preconceito racial brasileiro, manteve-se a mesma. Os meios de comunicação (neste caso, a revista Veja) absorveram a problemática, e não se preocuparam com uma crítica racional a suas conjunturas transladadas pelo tempo.
Gilberto Freyre (Casa Grande & Senzala, 1933, 307 e 432 ), aborda o fato de como o negro foi usado na construção do país utilizado como mão-de-obra, não só para os engenhos, mas nas lavouras, nas marcenarias, nas criações de gado e que também serviu como fonte de diversão e satisfação para senhores e senhoras de engenho quer sexualmente, quer pelo simples gosto pelo mando. Os escravos eram utilizados inclusive nas dependências pessoais da casa para substituir, por exemplo, donas de casa para senhores viúvos, mães-de-leite para senhoras brancas que não conseguiam alimentar seus filhos.
Os escravos exerciam ainda a atividade de professores dos filhos de seus senhores. Nestes casos, eram mandados a aprender pelo menos os estudos básicos nas cidades e eram trazidos de volta para ensinar aos pequenos. A intenção era prolongar ao máximo a estada nas casas-grandes, já que um dia haveriam de estudar nas cidades para, futuramente, conduzir os negócios dos pais.
Esse comportamento de uso do negro em variadas atividades, porém, não trouxe benefícios para os escravos. Eles continuaram à margem da sociedade, fato que perdura até os dias atuais. Isso explica o fato das profissões que aparecem em maioria para negros e para brancos: mandatários e servidores quase como uma regra. Fato interessante de ressaltar em Casa Grande & Senzala diz respeito ao uso de uma espécie de "circo pessoal" de cada senhor de engenho. Os exemplos citados por Freyre (1933, 434) revelam bandas musicais e pequenos malabaristas que os senhores tinham entre suas "propriedades". A questão do aculturamento do negro através desses "privilégios" que alguns tinham de participar da sociedade branca traz também uma fenda que possibilita uma explicação do preconceito entre os próprios negros e afro-descendente.
O racismo existente hoje é ainda seqüela do período da escravidão. Legalmente, a escravidão foi extinta e todos os seres humanos tornaram-se iguais, com iguais direitos e deveres. No entanto, os negros, com séculos de exclusão, foram jogados às ruas sem nenhuma lei que os incorporasse à sociedade. Continuaram no mesmo estado de inferioridade em que se encontravam antes. Na verdade, era difícil para uma sociedade que tinha a inferioridade negra como verdade absoluta, entender, de uma hora para outra, que eles eram seres humanos iguais aos brancos. Dessa forma, o efeito causado pela escravidão que, por muito tempo castigou os negros, deixou vestígios que ainda hoje permanecem.
Independente das adequações que possam sofrer as políticas afirmativas, hoje bastante em moda no país, o mais importante de todo o debate é perceber a inserção da população afro-descendente no noticiário. Até então, a discussão sobre a exclusão e resgate da dívida social com os descendentes dos escravos brasileiros era muito tímida. Os espaços destinados aos negros e seus descendentes estavam bastante definidos: o esporte (futebol e atletismo), a cultura popular (samba, sambistas e afins) e as páginas dedicadas ao cotidiano violento das cidades.
Jacques D’Adesky, em Pluralismo Étnico e Multicuturalismo: racismos e anti-racismos no Brasil (2001, 66, 96 e 109), traz considerações sobre esse aspecto. Ele afirma que o maior campo de ascensão profissional do negro na sociedade situa-se em áreas ligadas ao esporte e à cultura. No caso da cultura, sua maior inserção ocorre, mais especificamente, no campo da música, do carnaval, do samba. Isso acontece, basicamente, pelo fato de que essas atividades profissionais não exigem alto nível de escolaridade. Assim, como o negro encontra-se geralmente nas classes mais desprivilegiadas da sociedade, para eles é mais fácil alcançar nessas áreas a ascensão social. Além disso, essas atividades – o samba, o futebol – são, historicamente, ligadas à figura do negro, tido como malandro ou desocupado.
A recusa do ser humano em aceitar em seu círculo de convívio pessoas ou grupos possuidores de características diferenciadas das suas é e sempre foi muito forte. Sejam fatores físicos, religiosos ou ideológicos, essas características diferenciadas são quase sempre vistas como ameaça. No que se refere à etnia, as diferenças foram, no decorrer do tempo, motivos para conflitos e diversos pontos do mundo. Os grupos humanos negam-se a aceitar a mistura de povos de diferentes etnias. Parece que o ser humano tende a ver as diferenças físicas como indícios de que a mistura entre as etnias não é natural e que, por natureza, elas devem manter-se distantes umas das outras.
O Brasil é um país onde predomina uma miscigenação acentuada, sendo muito difícil a classificação racial. A mestiçagem foi, historicamente, tão intensa que praticamente não há mais pessoas puramente brancas ou puramente negras. Apesar dessa constatação, o preconceito racial à moda brasileira – menos conflituoso em comparação ao existente nos EUA – é bastante difundido e perceptível na ocupação dos negros nas classes menos desfavorecidas que integram a sociedade brasileira.
A questão, hoje, se manifesta de forma complexa. Como não existem apenas brancos e negros, mas diferentes graus de mestiçagem, as formas de racismo são múltiplas. O racismo do branco contra o negro, do mestiço mais claro contra o negro, do branco contra o mestiço. O racismo que discrimina pelo tipo de cabelo, pelo formato do nariz, etc. Em todo esse contexto, observa-se, porém, que o negro está sempre na posição de discriminado. As características físicas do afro-descendente são sempre consideradas inferiores.
De acordo com Jacques d’Adesky (2001, 137), há uma escala vertical de valores de raça, na qual o branco ocupa o topo e o negro ocupa o ponto mais inferior. Os pontos intermediários são preenchidos por termos como mulato, moreno, sarará etc. Assim, a discriminação manifesta-se sempre contra um nível mais inferior dessa escala. Muitos mestiços procuram classificar-se com termos "amenizadores". Referir-se a si mesmo com termos como "moreno" é uma forma de elevar-se na escala, aproximando-se do branco e distanciando-se do negro. Essa tendência de tentar ser menos negro demonstra a não aceitação de sua própria raça.
Ainda segundo Jacques d’Adesky (2001, 70), existe uma dupla negação. O negro nega a sua raça, deixa de afirmar-se como negro para tentar aproximar-se de um padrão mais aceito e nega também sua própria cultura negra. Assim, o negro recusa sua origem negra e sua existência como negro para tentar aproximar-se de um padrão mais aceito e nega também sua própria cultura negra. Desta forma, o afro-descendente recusa sua origem negra e sua existência como negro para incorporar-se ao universo dos brancos. Desprende-se de seus vínculos culturais originais em troca da aceitação social.
Na verdade, geralmente não existe nem mesmo essas escolha. A falta de contato com a cultura negra e o conceito já estabelecido pela sociedade a respeito dela, distancia naturalmente o negro de sua origem. A mídia dita padrões de estética, de música, de costumes como valores universais e a dominação da raça branca sobre a mídia faz com que para todas as raças chegue apenas a cultura predominantemente branca. O negro vive imerso em uma sociedade dominada pela cultura branca que a torna quase única. Não toma consciência de outras opções e assume o que vê ao seu redor como verdade.
A cobertura informativa sobre minorias étnicas O "racismo simbólico", termo que surgiu nos anos 70 como forma de abordagem e diferenciação às hostilidades e ódios manifestos a integrantes de grupos étnicos e imigrantes. As formas mais atuais de xenofobia, racismo e preconceito contra grupos étnicos tem, por vezes, a sutileza da sensação de incômodo, insegurança desgosto e, em muitos casos, em medo e ressentimento (Dovidio e Gaertner, 1992).
Van Dijk (1990, 29 e 30), ao abordar análise sociológica, ideológica e sistemática de conteúdos informativos realiza incursão sobre pesquisa de Downing, Hartman e Husband sobre representação de mulheres e grupos étnicos minoritários observa que alguns temas como o crime, a violência e as drogas possuem probabilidade maior de terem como protagonistas integrantes de minorias étnicas, conformando desta forma uma correlação ilusória entre pertencer a grupos determinados e atividades determinadas.
Recente pesquisa que analisou a cobertura jornalística da América Latina na imprensa espanhola comprovou que 43,3% de um universo de 1.271 notícias referentes ao Novo Continente estavam associadas a resultados negativos (Igartua, Humanes, Cheng, García, Golzio, Niño, Amaral, Canavilhas e Gomes, 2003). Tais coberturas integram a denominação de racismo simbólico porque incrementam a desconfiança entre os espanhóis em relação à massa de imigrantes oriunda da América Latina.
Outro dado da pesquisa importante de ressaltar diz respeito as diferenciações perceptíveis no tratamento noticioso que alguns países recebem: Colômbia e Venezuela, por exemplo, associavam-se com temas ligados aos conflitos armados, aos desastres e acidentes naturais; enquanto Brasil e Argentina se associavam mais às questões econômicas e ao desemprego, caracterizando o "ensalsamento" e o "desprestígio" na cobertura informativa entre países.
Em estudos recentes, englobados pelo enfoque dos efeitos dos meios de comunicação, desenvolveu-se uma corrente de estudo da cobertura jornalística denominada teoria do framing ou enquadramento noticioso. Nela, uma importante perspectiva de análise do tratamento noticioso descreve o processo de produção jornalística segundo a qual os meios de comunicação enquadram os acontecimentos sociais (1) selecionando alguns aspectos de uma realidade percebida, (2) conferindo-lhe uma definição concreta, (3) uma interpretação causal, (4) um juízo moral e/ou (5) uma recomendação para seu tratamento.
Entendido dessa forma, a teoria do enquadramento noticioso (framing) vai além da agenda temática: ela remete diretamente ao tratamento que as equipes de produção e divulgação de notícias dão aos acontecimentos sociais. Se é verdade que os meios de comunicação nos fazem pensar sobre determinados temas em detrimentos de outros (estima-se que 70% das informações que chegam as redações das empresas de comunicação são descartadas por "falta de espaço"), é natural afirmar que, dependendo da forma como determinados problemas ou fatos sociais são focados, as opiniões e atitudes no público podem mudar.
As pesquisas sobre preconceito no Brasil Alguns estudos e pesquisas realizados sobre a questão do preconceito racial no Brasil desenham modos e formas em que o problema é reproduzido pelos meios de comunicação de massa. Filmes, novelas ou mesmo o noticiário televisivo ou impresso tem contribuído significativamente para a consolidação de alguns estereótipos sociais bastante difundidos no país. Em uma apressada observação nos meios é fácil a percepção dos papéis sociais destinados à população afro-descendente: serviçais, malandros, criminosos da periferia dos grandes centros urbanos em produções cinematográficas e nas telenovelas e traficantes e malfeitores em geral nos noticiários impressos e televisivos.
Ferreira Vaz e Brandão Tavares (2003, 5) abordam a representação fotojornalística do contingente de negros e afro-descendentes em três grandes jornais – Folha de S. Paulo, O Globo e Estado de Minas. Eles observam que as páginas nobres (política e economia) são pouco freqüentadas por personagens negros e afro-descendentes, contrastando com as dedicadas aos problemas da violência urbana: "No universo desta temática, o negro mestiço desponta com grande freqüência nas páginas dos jornais. Seja como agente ou vítima, as fotografias expõem sua condição de excluído ou de submisso a uma grande ordem social vigente. É nesse conjunto que essa alteridade se faz presente e é através dele que muitas vezes, podemos dizer, estereótipos são reforçados, propiciando a manutenção de uma imagem negativa destes indivíduos".
Outro exemplo claro de espaços destinados aos negros e afro-descendentes encontra-se publicado na revista Política Democrática: de um total de 1.852 capas da revista Veja, desde sua fundação, apenas 58 possuem personagens negros. Deste total, somente 45 apresentam negros e afro-descendentes como protagonistas (Golzio, 2004, 153).
Além da diferença proporcional de aparições entre brancos e não brancos o artigo aborda a forma estereotipada de representação dos afro-descendentes. "Uma outra questão que aflora, a partir dos números encontrados nas capas da revista Veja, diz respeito à formação de estereótipos a partir de imagens distorcidas da realidade. Das 58 aparições de negros em capas, de forma individual ou coletiva e independente do grau de protagonismo que exercem, os negros possuem basicamente dois tipos de representação: o esportista e o cantor" (Golzio, 2004, 154)
Golzio (2004, 155) observa ainda que o futebolista e o sambista integravam, até cerca de 30 anos atrás, o que tradicionalmente era tido como "propício ao caldo de malandragem e de desocupados do país: o futebol e o carnaval". A observação teve como base as incidências nos temas relacionados para a análise de conteúdo, onde constavam um leque de onze temas: política, economia, trabalho/sindicato, esporte, cultura, ciência/descobrimentos, guerras/conflitos armados, violência urbana, condição de negro, crime e outros.
O protagonismo em imagens destinado à população afro-descendente brasileira é constituído de pontos bastante demarcados: protagonistas em situações onde são afetados pela violência ou praticantes de atos ilícitos. Ainda protagonistas como atletas de destaque (futebol e atletismo com mais freqüência) ou como figurantes, como massa de anônimos para dar reforço, em geral, a personagens brancos de destaque ou afro-descendentes que compõem o raro e seleto grupo de negros que emergiram graças ao talento para as artes (representação e música).
Nos últimos três anos aflorou com mais consistência a discussão sobre reparação da exclusão social vivenciada pela grande parcela de afro-descendentes no Brasil. Dentre as possíveis formas de integração social encontra-se a adoção do sistema de cotas nas universidades, por exemplo, proposta como reparação aos danos provocados pela escravidão e pela situação social discriminatória em que se encontra a parte da população caracterizadamente afro-brasileira.
A discussão sobre cotas para minorias tem se intensificado na sociedade brasileira. A Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), por exemplo, já adota o sistema de cotas para afro-descendentes, desde 2001, tendo como base alguns critérios de cota mínima. O exemplo está sendo seguido por outras instituições de ensino universitário, com algumas particularidades. É o caso da Universidade de Brasília e, mais recentemente, no curso de pós-graduação em Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Apesar de ter a composição de sua população formada, em sua maioria, de negros e afro-descendentes, a participação efetiva desta parcela de brasileiros na vida social é estigmatizada se compararmos proporcionalmente aos brancos. As oportunidades de empregos são menores para negros que para brancos. Da mesma forma os salários pagos aos trabalhadores brancos são, em média, bastante superiores que os pagos aos afro-descendentes.
Entretanto, além da dificuldade de determinar que é ou não negro, isso não deixa de ser uma forma de discriminação. A partir do momento em que gera uma diferenciação é prejudicada a igualdade de direitos entre os seres humanos. Os negros são novamente considerados inferiores, por precisarem de vagas especiais. Além disso, é criada, agora, uma discriminação contra os que não forem negros, sendo estes prejudicados.
Método A presente pesquisa teve como método de trabalho o instrumento de análise de conteúdo. Esta ferramenta tem sido largamente utilizada por pesquisadores desde a década de 1960 e tem sido visto com desconfiança por boa parte dos pesquisadores brasileiros por estar assentada em dados empíricos. No entanto, ao tratar do método da Análise de Conteúdo, Bardin (1996, 21), aborda o rigor e o descobrimento necessário à pesquisa cientifica e argumenta que "recorrer a este instrumento de investigação laboriosa de documentos é situar-se nas filas de quem, de Durkheim e Bourdieu, passando por Bachelard, querem dizer não a ilusão de transparência dos fatos sociais, rechaçando ou tentando afastar os perigos da compreensão espontânea".
O método de análise de conteúdo, portanto é fundamental para evitar abstrações e o uso de intuição que em muitos dos casos só reforça a projeção da subjetividade do próprio pesquisador. Ao adotar procedimentos sistemáticos de verificação e comprovação de hipóteses, a análise de conteúdo se torna uma ferramenta para a descrição e interpretação abalizada de mensagens. Trata-se de estabelecer, segundo Bardin (1996, 31), de maneira consciente ou não, uma correspondência entre as estruturas semânticas ou lingüísticas e as estruturas psicológicas ou sociológicas dos enunciados. Não se trata de atravessar pelos significantes para captar os significados da natureza psicológica, sociológica, política, histórica etc., através de significantes ou significados manipulados, enfatiza.
Por essa razão é importante esclarecer que os dados encontrados a partir deste método foram analisados levando-se em consideração o contexto político social do momento da publicação. Para tanto, uma ficha de análise elaborada com o objetivo claro de obtenção dos significados sociólogos e políticos da forma de representação social do negro e afro-descendente das 58 reportagens de capas da Veja – de 1968 a 2003 – em que aparecem como protagonistas e coadjuvantes.
A elaboração da ficha de análise constituiu-se uma das atividades mais importantes da pesquisa, já que definiu a apreensão da representação adotada pela revista para o contingente de negros e afro-descendentes. De todas as formas, vale lembrar o que observa Bardin (1996, 23) quando o assunto é a planilha ou ficha de análise: "En el análisis de contenido no existen planillas ya confeccionadas y lista para ser usadas, simplesmente se cuenta com algunos patrones base, a veces dificilmente traspasables. Salvo para uso simples y generalizados, como es el caso de la eliminación, próxima a la decodificación, de respuestas em preguntas abiertas de cuestionario adecuado al ampo y al objeto perseguidos, es necesario inventarla cada vez, o casi".
A ficha de análise buscou identificar os temas em que, personagens reconhecidos ou não do público, são enquadrados. Também teve a preocupação de identificar os personagens mencionados no corpo das reportagens e buscou estabelecer o nível de vinculação étnica e o fato jornalístico gerador do espaço nobre da revista.
Amostragem As 58 reportagens que integraram o corpo da pesquisa foram escolhidas intencionalmente, com objetivo de estabelecer a continuidade de pesquisa anterior que analisou a representação e representatividade do negro e afro-descendente nas capas da revista Veja. O universo de capas analisadas somava 1.852 revistas, dispersos entre todos os números compreendidos entre o primeiro e o último exemplar publicado em 2003, ano em que a editora Abril comemorava os seus 30 anos de existência.
Tal continuidade permitirá, no futuro, uma comparação entra a forma de representação gráfica e abordagem temática com o corpo da reportagem e as imagens publicadas. A comparação é pertinente para detectar, inclusive, a relação entre o personagem e a capa com o conteúdo de reportagem publicada. Em muitas ocasiões, os personagens que figuram nas capas não passam de representações alegóricas e decorativas.
O passo seguinte se traduziu na busca dos exemplares das revistas que continham as 58 reportagens que enfocavam um personagem com característica afro-descendente na capa e localização das reportagens correspondentes. De posse das reportagens, o processo seguinte foi a criação de protocolo de categorias de análise para cada código ou variável relevante e a proposição de um sistema de quantificação de cada uma das variáveis. Selecionada as variáveis e desenvolvido um sistema de categorias específico para cada uma delas, a providencia seguinte foi a elaboração de um livreto de códigos (codebook), para garantir que os codificadores tivessem um mesmo entendimento no momento de avaliar cada critério ou variável.
Resultados As 58 reportagens selecionadas como universo da pesquisa resultaram em 117 unidades de análise (cada uma dessas reportagens podia gerar uma série de unidades coordenadas relacionadas com a reportagem principal, o que aconteceu em 94, 80% do total), já que elas foram subdivididas por compartimentos noticiosos. Para cada apartado ou informação coordenada, a reportagem principal passou a ser traduzida como unidade de análise para efeito de contabilidade
Dados de identificação básicos Em 86 das unidades de análise (73,5%) os personagens diretamente relacionados com os fatos tratados foram mencionados ou ouvidos como fontes de informação. Quanto a integrantes de governos identificou-se uma pequena quantidade de aparições, ou seja, 15 inserções (12,8%). O gênero jornalístico mais utilizado foi a reportagem com 102 unidades (87,9%), a nota 06 unidades (5,1%), e notícia e entrevista com quatro freqüências (3,4%). A maioria das reportagens é produzida pela redação (59,8% do total), muitas das unidades pesquisadas possuíam mais de cinco paginas, totalizando 45 unidades (38,5%).
A quantidade de negros ou afro-descendentes citados somou 307 personagens e os personagens brancos apareceram 395 vezes. Este dado é bastante revelador, já que as reportagens selecionadas para efeito de amostra tinham como referência a aparição de personagens negros ou afro-descendentes, de forma integral ou parcial, através de representação em imagem fotográfica, desenho, gráfico, foto-ilustração nas capas da revista Veja. Em 24 (20,5%) das reportagens nenhum personagem negro ou afro-descendente foi citado, enquanto que os personagens brancos deixaram de ser citados em 34 unidades (29,1%).
Também é interessante ressaltar as aparições em imagens fotográficas que acompanham as reportagens. No total, os personagens de características brancas, aparecem 73 vezes enquanto que os personagens negros e/ou com características afro-descendentes tiveram 65 aparições em fotografias, independente do grau de protagonismo. A visibilidade dos personagens de características européia (branca) contrasta com os de origem africana, reforçando a idéia de embranquecimento populacional e reforçando estereótipos.
Indicadores relacionados com o tema ou problema abordado Os principais temas abordados em todas as reportagens são: o esporte 35 unidades (29,9%), cultura 24 (20,5%) e política 11 (9,4%). A reportagem é moderadamente pejorativa em uma pequena quantidade de exemplares (11,1% do total), mas que se somado ao tratamento burlesco (9,4%) que algumas das informações trazem em seu interior pode ser bastante significativo.
A análise do caráter do acontecimento foi retratada de três formas: negativo 38 unidades (32,5%), neutro 40 (34,2%) e positivo 39 (33,3%), demonstrando um equilíbrio bem definido nesse aspecto. Com relação ao tom de relato foram detectados 62 unidades (53%) com abordagem neutra, mas registrando grande equilíbrio entre o relato distendido 28 casos (23,9%) e o tenso com 26 casos (22,2%).
Indicadores relacionados com os atores do relato Em cerca de 45 unidades (38,5%) não existia ou não foi identificado nenhum personagem principal. Porém, em se tratando dos personagens é possível detectar que apenas 22 unidades de análise (18,8%) possuem integrantes do segmento dos políticos, os personagens famosos integram (50,4%) das unidades e em apenas 30 unidades (25,6%) os personagens são pessoas normais, e em apenas seis unidades (5,1%) os personagens são policiais.
Um dos principais fatos a ser destacado na questão do preconceito diz respeito às profissões exercidas por negros e brancos, onde podemos observar claramente a distinção entre eles. As profissões mais freqüentes nos relatos jornalísticos para identificação do contingente de personagens negros ou afro-descendentes são a dos atletas e dos artistas. Já o contingente de personagens brancos citados nas unidades de análise possui como profissões os atletas e políticos. Em princípio estes dados podem parecer nivelados, mas é importante ressaltar que as reportagens mais freqüentes nas reportagens selecionadas para efeito de amostragem estavam relacionadas ao esporte.
No entanto, se é observado o leque de profissões citadas para brancos e negros, percebe-se que o contingente dos afro-descendentes reúne um leque bem menor do que as que foram atribuídas aos personagens brancos. Os estereótipos sociais, desta forma, são mais comumente presentes, já que as profissões ocorrem em variedades menores. Sobretudo, por não ser exigido de atletas e profissionais da área da cultura a passagem por bancos escolares regulares, o que acontece na exigência das profissões liberais (engenheiros, advogados, empresários, médicos etc.)
Profissões de negros e afrodescendentes citadas na reportagens

Frequency % Valid % Cumulative %
Valid
34 29,1 29,1 29,1

agricultor 3 2,6 2,6 31,6

artista 21 17,9 17,9 49,6

atleta 34 29,1 29,1 78,6

economista 1 ,9 ,9 79,5

empresário 1 ,9 ,9 80,3

enfermeiro 1 ,9 ,9 81,2

escravo 4 3,4 3,4 84,6

etnólogo 1 ,9 ,9 85,5

funcionário público 1 ,9 ,9 86,3

político 14 12,0 12,0 98,3

professor 1 ,9 ,9 99,1

vendedor 1 ,9 ,9 100,0

Total 117 100,0 100,0

Profissões dos personagens brancos citadas na reportagens

Frequency % Valid % Cumulative %
Valid
40 34,2 34,2 34,2

assessor 2 1,7 1,7 35,9

advogado 1 ,9 ,9 36,8

agricultor 1 ,9 ,9 37,6

antropóloga 2 1,7 1,7 39,3

artista 12 10,3 10,3 49,6

atleta 28 23,9 23,9 73,5

economista 1 ,9 ,9 74,4

empresário 3 2,6 2,6 76,9

enfermeito 1 ,9 ,9 77,8

engenheiro 1 ,9 ,9 78,6

escritor 3 2,6 2,6 81,2

estudante 1 ,9 ,9 82,1

fazendeiro 1 ,9 ,9 82,9

jornalista 2 1,7 1,7 84,6

locutor 1 ,9 ,9 85,5

pintor 1 ,9 ,9 86,3

político 14 12,0 12,0 98,3

professor 1 ,9 ,9 99,1

treinador 1 ,9 ,9 100,0

Total 117 100,0 100,0
Discussão A pesquisa teve como objetivo verificar a presença do preconceito racial em relação ao contingente de negros ou afro-descendentes, seja no conteúdo dos textos, seja nas imagens das reportagens publicadas em 58 edições da revista Veja. Os resultados, significativos, estão entrelaçados à história da formação social do Brasil.
Se no passado a organização da sociedade brasileira no período colonial estava ligada ao controle do senhor de engenho pela submissão de seus empregados livres e escravos, hoje se percebe o preconceito em relação ao contingente de negros e afro-descendentes por parte dos meios de comunicação nas formas simbólicas. Tal preconceito, maquiado, embute uma forma mais amistosa e menos perceptível que os choques mais duros, a exemplo da segregação vivida em determinados momentos da sociedade norte-americana, na forma proibitiva de estar ou freqüentar determinados lugares ou galgar posições sociais.
É, portanto, bastante perceptível que a inserção do contingente de afro-descendente se dá nos temas que focam mais a cultura (20,5%) e esporte (29,9 %). A imagem que se projeta a partir desta constância é a de que os afro-descendentes tenham mais pendor ou aptidão para estas duas áreas de atuação profissional. Outro aspecto que comprova tal fato advém do pós-escravismo, visto que, depois da Abolição, os negros foram entregues à condição de mão-de-obra assalariada degradante, sistema não muito diferente da sociedade colonial. Nesse novo processo, o modelo escravista continuou de maneira implícita, estereotipada e discriminatória.
Conclusão A pesquisa realizada trouxe resultados confirmadores das previsões relativas à presença dos negros na sociedade. Não se trata apenas de quantificar o grau de participação dos negros nas atividades profissionais ou no universo social. Trata-se, principalmente, de investigar como e quanto essa participação é retratada pela mídia. As respostas a essas questões foram consideravelmente coincidentes com as previsões feitas.
Ao analisar o conteúdo dessas reportagens de capa, as mesmas foram classificadas de acordo com seu tema principal. Dessa forma, foi constatada uma grande quantidade de ocorrências de matérias cujos temas principais são esporte e cultura. Levando-se em consideração que cada uma das revistas não possui apenas uma, mas várias unidades de análise que integram a mesma reportagem, naturalmente os temas tendem a repetir-se. No entanto, observou-se que há repetições que não ocorrem em unidades de uma mesma revista, e sim em revistas diferentes. As reportagens em que os assuntos abordados repetem-se inclusive na revista Veja publicada em períodos diferentes são principalmente as que tratam sobre a Copa do Mundo, as Olimpíadas ou o Carnaval.
A partir disso, pode-se concluir que a maior quantidade de incidência de personagens negros nas reportagens analisadas ocorre em matérias que tratam sobre esporte e cultura. É necessário analisar as razões dessa pequena participação dos negros. É possível que os negros não tenham maior presença nessas reportagens porque realmente não há grande participação deles nas atividades e nos acontecimentos sociais. Porém, há também a possibilidade de que apenas não seja do interesse das classes dominantes que os negros ganhem espaço na mídia. O racismo está impregnado no pensamento da sociedade de tal forma que se torna difícil fazer com que a grande massa aceite a imagem do negro na mídia. Por essa razão, vêem-se tão poucos atores negros nas telenovelas e quase nunca em papéis de destaque ou mesmo principais.


Fonte:http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/o_racismo_impregnado_no_pensamento_da_sociedade

Morte violenta entre os negros é mais do que o dobro do que entre os brancos



Os homicídios entre os negros cresceram mais do que entre os brancos nos últimos oito anos, ampliando assim a diferença que já existia entre as vítimas de mortes violentas no País. A conclusão está nos dados do Mapa da Violência 2012: A Cor dos Homicídios no Brasil, divulgado nesta quinta-feira (29) pela SEPPIR (Secretaria de Políticas e Promoção da Igualdade Racial).



De acordo com o estudo, entre 2002 e 2010 as taxas de homicídios entre brancos caíram de 20,6 (a cada 100 mil habitantes) para 15,5 no período, o que representa uma queda de 24,8%, enquanto entre negros, os índices subiram de 34,1 (a cada 100 mil habitantes) para 36, aumento de 5,6% no período. Com isso, a diferença das mortes entre negros e brancos aumentou no período.

Enquanto em 2002 morriam 65,4% mais negros do que brancos, em 2010 a proporção aumentou para 132,3%. Ou seja, a morte entre os negros passou a ser mais do que o dobro do que a morte violenta entre os brancos.


A ministra da Secretaria de Políticas e Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, comentou os resultados da pesquisa.

— As mortes entre os negros são sempre em maior número e principalmente entre os jovens, e são mortes que poderiam ser evitadas.

De acordo com a secretaria, os dados são preocupantes porque mostram que a vitimização negra continua evidente principalmente porque houve queda nos homícios entre os brancos, o que não aconteceu entre os negros.


Fonte:http://noticias.r7.com/brasil/morte-violenta-entre-os-negros-e-mais-do-que-o-dobro-do-que-entre-os-brancos-29112012

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Mitos, Medos e Preconceitos na Adoção de Crianças Maiores



Por Jaqueline Araújo da Silva


A adoção está envolvida por preconceitos que se expressam através de medos, crenças, fantasias, inseguranças, entre outros. Como vimos, as pessoas interessadas em adotar optam pelos recém-nascidos ou crianças com idade menor possível. Em pesquisa realizada por Levy e Féres- Carneiro (2001), verificou-se que quando os requerentes optam pelas crianças com a idade menor possível para adotar com a justificativa de que estes são mais fáceis de serem moldados, na verdade, revelam um desejo de apagar a história passada da criança e cancelar qualquer possível herança genética que venha interferir no projeto de parentalidade.


Para Camargo (2006), os requerentes à adoção sonham acompanhar integralmente o desenvolvimento físico e psicossocial, que se manifestam desde as primeiras expressões faciais, além das primeiras falas e passos. Querem construir uma história familiar e registrá-la a partir dos primeiros dias de vida do filho. Além disso, temem que a criança com idade superior a dois anos possa não se adaptar à realidade de uma família adotante. Acreditam que a personalidade da criança já esteja formada, o caráter incorporado e já não são mais possíveis de detê-los. Neste sentido, Santos (1997) afirma:


Este é outro mito na adoção, que eventuais problemas comportamentais apresentados pelos filhos adotivos decorrem [...] do meio social onde a criança viveu seus primeiros anos (nos casos de adoções tardias) e, neste caso, evita-se o problema adotando-se recém nascidos. (SANTOS, 1997, p.163)


Segundo Camargo (2006, p.91), "[...] os mitos, que constituem a atual cultura da adoção no Brasil, apresentam-se como fortes obstáculos à realização de adoções de crianças maiores, pois potencializam crenças e expectativas negativas ligadas à prática da adoção tardia". De acordo com Vargas (1998), o preconceito social em relação à adoção de crianças maiores é fator determinante para a pouca disponibilidade de candidatos para estas adoções, pois a adoção continua sendo mais aceita quando atende a uma necessidade "natural" de um casal com impedimentos para gerar filhos, desde que estes sejam bebês e ''passíveis de serem educados".


O preconceito com relação à adoção de crianças maiores é ainda muito forte, como se todas as adoções de bebês fossem indicativos de sucesso garantido e todas as adoções de crianças maiores já representassem um fracasso (WEBER E KOSSOBUDZKI, 1996; LEVY E FÉRESCARNEIRO, 2001). Weber (1998) afirma que essas adoções nem sempre trazem problemas, porém elas são diferentes das adoções de bebês, uma vez que as crianças maiores têm um passado que, muitas vezes, deixou suas marcas. Esta autora realizou pesquisa com pais e filhos adotivos e também com a população em geral, sendo que os dados levantados indicam o grande número de preconceitos envolvendo a adoção. De acordo com o levantamento de dados:


1- as pessoas teriam medo de adotar crianças maiores (acima de seis meses) devido à
dificuldade de educação;
2- teriam medo de adotar uma criança que viveu muito tempo em acolhimento institucional pelos "vícios" que traria consigo;
3- teriam medo de que os pais biológicos pudessem requerer a criança de volta;
4- teriam medo de adotar crianças sem saber a origem de seus pais biológicos, pois a
"marginalidade" dos pais seria transmitida geneticamente;
5- pensam que uma criança adotada, cedo ou tarde, traz problemas;
6- acreditam que a adoção beneficia, primordialmente, o adotante e não a criança, sendo um último recurso para pessoas que não conseguem ter filhos biológicos;
7- acreditam que a adoção pode servir como algo para "desbloquear algum fator
psicológico" e tentar ter filhos naturais;
8- acreditam que, quando a criança não sabe que é adotiva, ocorrem menos problemas;
assim, se deve adotar bebês e "fazer de conta" que é uma família natural;
9- acreditam que as adoções realizadas através dos Juizados são demoradas, discriminatórias e burocráticas e recorreriam à “adoção à brasileira" caso decidissem;
10- finalmente, consideram que somente os laços de sangue são "fortes e verdadeiros".


Levinzon (2000) também realizou pesquisa com as famílias adotantes e os dados encontrados foram similares aos de Weber (1998). Levinzon destaca os seguintes medos que comumente habitam o imaginário dos pais adotivos:


1- medo em relação aos pais biológicos da criança: temor que se arrependam a qualquer momento e venham lhe tomar a criança; culpa por tomar para si uma criança cujo sangue não lhes pertence; vergonha, como se tivessem cometido um delito, tendo roubado a criança;
2- medo em relação à criança: medo de que tenha uma má herança biológica; temor de
rejeição e abandono pela criança quando souber de sua verdadeira origem; medo de que a criança vá à procura dos pais biológicos;
3- medo em relação à sociedade: temor de serem censurados pela sociedade; discriminados pela ausência do processo biológico da gestação; desvalorizados por esta forma atípica de parentalidade ou sua compensação na exaltação de seu aspecto filantrópico.


Através destas pesquisas podemos constatar que dentre os inúmeros mitos que povoam o imaginário social e que constituem a atual cultura de adoção, o mito dos laços de sangue é, sem dúvida, o mais dominante, pois insere a crença de que o fator biológico gera o destino final e quase sempre trágico nos casos da adoção. Há, em torno do filho por adoção, fantasias de que ele pode ser “sangue ruim” e, consequentemente, motivo de preocupação e sofrimento para os pais adotivos. O fato de ser adotado parece que já é condição mais que suficiente para ser classificado como problemático, diferente e fora do normal.


Há uma tendência presente no imaginário social em acreditar numa certa garantia decorrente dos laços de sangue e numa fragilidade dos laços formados através da adoção. As fantasias sobre a importância "da descendência de sangue" proporcionam condições para a confusão e discriminação entre a parentalidade biológica e adotiva, atribuindo maior relevância à primeira (WEBER, 1998). Na verdade, os dois tipos de parentalidade têm exatamente a mesma importância, mas fazem parte de contingências diferentes. No entanto, a contingência de ser uma família adotiva traz características especiais que não devem ser negadas, mas, ao contrário, assumidas.


Ainda sobre o preconceito, além do imaginário social, a própria legislação brasileira, conforme debatemos no segundo capítulo, parece contribuir para o fortalecimento dos mitos de que os laços biológicos são aqueles verdadeiros. Assim, os pais adotantes tentam disfarçar ou esconder as relações adotivas e imitar uma família biológica, adotando crianças recém-nascidas e de cor semelhante a sua.


No meio científico também encontramos muitos preconceitos relacionados à adoção. Segundo Weber (2003) e Vargas (1998), as publicações científicas sobre o tema falam acerca das dificuldades encontradas em filhos adotivos. Relatam um ou dois casos de algum distúrbio e atribuem sua etiologia ao fato de a criança ser adotiva, pois a perda inicial dos pais biológicos seria irreparável e causadora de todos os problemas.


Concordamos com Zornig e Levy (2006) quando afirmam que a separação da figura materna para crianças de pouca idade, assim como o desinvestimento materno repentino, produzem efeitos traumáticos. No entanto, ressaltam a possibilidade de as crianças e os pais adotivos conseguirem criar recursos psíquicos surpreendentes. Para estas autoras, a ênfase na qualidade das relações iniciais entre a criança e seus pais deu margem à crença de que crianças abandonadas e/ou vítimas de maus tratos seriam problemáticas e, portanto, não adotáveis tardiamente.


Palácios e Sánchez (1996) realizaram uma investigação comparativa com 865 crianças entre quatro e dezesseis anos de idade, provenientes de três grupos: crianças adotadas, crianças não-adotadas da mesma região de origem das adotadas e crianças institucionalizadas. As comparações foram realizadas em três áreas: problemas de comportamento, auto-estima e rendimento acadêmico. Os resultados mostraram uma grande semelhança entre os adotados e os não-adotados, enquanto que as crianças institucionalizadas obtiveram os piores resultados no conjunto das comparações.


Através de um estudo comparativo entre um grupo de pais e filhos adotivos e outro de pais e filhos biológicos, Santos (1988) avaliou aspectos como afetividade e cooperação entre pais e filhos. Não encontrou diferenças significativas entre eles.


Em relação a adoção de crianças maiores, Weber (2003) realizou pesquisa com pais e filhos adotivos de todo o Brasil e não constatou que a idade avançada da criança no momento da adoção fosse possível fonte de problema. Os casos em que foram relatados problemas no processo adotivo estavam mais relacionados à revelação tardia da adoção para a criança do que outros fatores. Esse assunto será aprofundado no próximo capítulo quando dissertamos sobre a família adotante.


No que se refere à diferença de comportamento entre crianças adotadas quando recémnascidas e adotadas quando maiores de dois anos, Ebrahim (2000) afirma não existir uma relação direta entre problemas de comportamento e idade da criança na época da adoção. Sustenta que as adoções de crianças maiores são perfeitamente viáveis e sua concretização e manutenção dependem, entre outros aspectos, da história da criança, do fato dela desejar ou não a adoção e das ações dos pais adotivos e dos que os cercam. Corroborando este pensamento, Diniz (1994) afirma que, apesar dos primeiros meses de vida serem os mais indicados para a formação de uma relação parental substituta, isto não exclui a possibilidade da adoção de crianças maiores. A concretização da adoção dependerá da vivência da criança e dos motivos que a impossibilitaram de permanecer na sua família biológica, bem como da flexibilidade e capacidade de dedicação dos pais adotivos. Segundo o autor, o fato de a criança ter mais idade não é um elemento inviabilizador da adoção.


Levy (1999) argumenta que, por já ter vivido experiência de abandono da qual muitas vezes se lembra, a criança maior será mais ativa no processo, podendo adotar ou não os pais adotivos como pais. Andrei (2001) também ressalta que quanto mais tardia a adoção, mais vivas serão as lembranças do passado e mais enraizadas na sua memória as ilusões, os sonhos, os desejos e as frustrações dos anos de abandono. Esta autora ainda afirma que as pessoas imaginam a adoção em termos ideais. De um lado, a criança adotada extremamente grata e com o coração transbordante de amor; do outro lado, a família sentindo-se plenamente realizada e recompensada através do seu novo membro. Às vezes, é exatamente essa a situação que ocorre. Outras vezes, o fardo do passado influenciando o comportamento da criança e a surpresa da família diante de manifestações decepcionantes tornam a adoção mais parecida com um desafio.


Ainda nesta discussão, Ferreira (1994) diz que muitas vezes, é exigida da criança recémintegrada uma conduta mais correta do que a de qualquer outra criança, como se o fato de ter ganho uma família significasse a retribuição de uma automática docilidade, educação e bom comportamento. Os pais adotivos esperam atitudes adequadas e resultados imediatos, submetendo a criança a exigências exageradas, que, não podendo ser correspondidas, acabam por produzir um total desajuste em sua conduta.


Sem dúvida, como foi mencionado, a adoção de crianças maiores requer cuidados especiais, porque a criança já traz a marca do abandono inicial e do tempo que permaneceu em acolhimento institucional. Contudo, isto não quer dizer que não sejam possíveis a superação e a adoção mútua entre as crianças e os pais adotivos. Para Vargas (1998), na adoção de crianças maiores, as chances de sucesso ou fracasso das relações que se estabelecem no meio social dependem da capacidade de suporte, trocas afetivas, confiança e companheirismo entre os protagonistas. A procura por uma orientação ou um processo psicoterapêutico pode ser valiosa, auxiliando a família a encontrar um eixo comum que proporcione desenvolvimento.


Assim, é preciso desmistificar a associação errônea entre adoção e fracasso, mito de laços sanguíneos, herança genética entre outras distorções. Na verdade, a adoção não é um processo artificial, falso ou ilegítimo; pelo contrário, envolve relações humanas de afeto e amor que florescem a partir da reciprocidade entre o adotado e a família adotante. Neste sentido, Santos (1997, p. 164) afirma que “[...] faz-se necessário, iniciar um trabalho voltado para a mudança de mentalidade no que se refere à adoção de modo a possibilitar uma superação de pelo menos parte dos equívocos e preconceitos que envolvem este processo”.


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERA
Programa de Pós-graduação em Psicologia
"ADOÇÃO DE CRIANÇAS MAIORES:
Percepções e Vivências dos Adotados"
Jaqueline Araújo da Silva
Belo Horizonte
2009
Completo em: http://www1.pucminas.br/documentos/dissertacao_jaqueline_araujo.pdf



Por Cintia Liana

A MORADA DA FELICIDADE



"Não é na posse de rebanhos nem no ouro que se encontra a felicidade de viver: a morada da felicidade é a alma" (Demócrito)

«Muitos buscam a felicidade juntando o máximo de riqueza possível. Mas a riqueza não torna ninguém feliz. Quem não sente a felicidade na sua alma correrá atrás dela em vão no mundo das posses ou do
sucesso. Nunca possuirá o suficiente, nunca receberá atenção suficiente, não terá tanto sucesso a ponto de ser feliz.
A felicidade mora na alma, no âmbito interno do ser humano. Lá onde o homem está em concordância consigo mesmo, onde sente seu carácter único, onde sabe da sua dignidade humana, lá está uma felicidade que nenhum fracasso, nenhuma perda, nenhuma rejeição podem lhe roubar.» (Anselm Grün, em "O Pequeno livro da verdadeira felicidade)



Fonte:http://abrigodossabios-paulo.blogspot.com.br/2011/10/morada-da-felicidade.html

O RELACIONAMENTO AMOROSO



"Sabemos pouco do amor, da sua extraordinária ternura e poder. Muito facilmente usamos a palavra «amor; o militar usa-a, o carniceiro usa-a, o homem rico usa-a, assim como o rapaz e a rapariga. Mas sabemos pouco do amor, da sua vastidão, da sua imortalidade, da sua profundidade. Amar é ter consciência da eternidade.

O relacionamento é uma coisa estranha; muito facilmente caímos na habituação a um relacionamento particular, onde as coisas são tomadas como garantidas, com a situação aceite, não se tolerando qualquer variação; não se considera nenhum movimento em direcção à incerteza, mesmo por um segundo. Tudo é de tal modo regulado, tornado «seguro», bem amarrado, qua não há qualquer hipótese de frescura, de um respirar revivificador. A isto, e a muito mais, se chama relacionamento. Se observarmos de muito perto, verificamos que o verdadeiro relacionamento é muito mais subtil, mais rápido que um relâmpago, mais vasto do que a Terra, pois ele é vida. A vida é conflito.
Queremos fazer do relacionamento uma coisa grosseira, rígida, manipulável. Deste modo, ele perde a sua fragância, a sua beleza. Isto surge porque não amamos, e o amor é certamente a maior das coisas, pois nele acontece o completo abandono de nós mesmos. (...)

É preciso grande inteligência para um homem e uma mulher se esquecerem de si mesmos, para poderem viver juntos, não se rendendo um ao outro ou não sendo dominados um pelo outro. O relacionamento é a coisa mais difícil da vida."


Fonte:http://abrigodossabios-paulo.blogspot.com.br/2009/08/o-relacionamento-amoroso.html

A LÓGICA DO AMOR



«O amor tem pouco a ver com merecimento.
O amor não é um prémio que se dá aos bons, mas nasce da liberdade da pessoa que ama.
Nós não amamos pessoas que achamos que merecem o nosso amor ou que seriam as melhores pessoas para amarmos e sermos amados, mas amamos porque amamos!

Eu posso escolher alguém para casar a partir de um cálculo sobre as vantagens e desvantagens; mas não posso amar alguém desta forma.
Amor tem um outra lógica que não obedece às regras racionais da retribuição, cálculo, comparação, etc.»



Fonte:http://abrigodossabios-paulo.blogspot.com.br/2009/02/logica-do-amor.html

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Dia Nacional de Combate ao Câncer é lembrado neste 27 de novembro


A data foi criada em 1988 pelo Ministério da Saúde com o objetivo de conscientizar a população sobre a doença, o tratamento e, principalmente, sobre a prevenção contra a doença

O câncer representa a segunda causa de morte no Brasil, perdendo apenas para as mortes por Acidente Vascular Cerebral (AVC). Neste ano, o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) aponta para o surgimento, no Brasil, de cerca de 52.680 casos de câncer da mama, com um risco estimado de 52 casos a cada 100 mil mulheres. Em relação ao câncer da próstata, são estimados 60.180 novos casos entre brasileiros em 2012. Esses são os tipos de câncer que mais atingem as mulheres e os homens, respectivamente.


Para mudar esse cenário, o País tem investindo em ações e programas na luta contra a doença. Uma delas é o programa de Mamografia Móvel, que visa ampliar ainda mais a assistência de prevenção e diagnóstico do câncer de mama no País. Os mamógrafos móveis conseguem alcançar mulheres de regiões mais carentes, por meio de unidades terrestres e fluviais, como por exemplo, carretas e barcos.


O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destaca os avanços obtidos com o programa. “O principal dado que nós podemos mostrar é que o esforço do Ministério da Saúde buscando a cooperação com os estados e municípios, gerou um aumento de 41% no número de mamografias realizadas pelas mulheres brasileiras na faixa etária recomendada no primeiro semestre deste ano comparado com o primeiro semestre do ano passado. Nós estamos garantindo um avanço importante, mas nós precisamos avançar muito para reduzir a brutal desigualdade que existe ainda no acesso ao diagnóstico e ao tratamento do câncer no Brasil”, diz.


Complementando as ações de combate ao câncer, a presidenta Dilma Rousseff sancionou na última sexta-feira (23) a a Lei 12.732 que fixa o prazo de até 60 dias para o tratamento de câncer maligno pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O prazo vale a partir do diagnóstico da doença.


O projeto foi aprovado em outubro deste ano pelo Senado e tem o apoio do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Para o diretor-geral do órgão, Luiz Antônio Santini, a iniciativa vai melhorar a eficácia da prestação de serviços no tratamento da doença. Entretanto, segundo o Ministério da Saúde, os estados deverão elaborar planos regionais para atender melhor a população.


De acordo com a publicação, o prazo de 60 dias será considerado cumprido quando o tratamento for efetivamente iniciado, seja por meio de
cirurgia, radioterapia ou quimioterapia. Em casos mais graves, o prazo poderá ser inferior ao estabelecido.

A doença


Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células que invadem tecidos e órgãos. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores malignos, que podem espalhar-se para outras regiões do corpo. As causas de câncer são variadas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando inter-relacionadas.


As causas externas referem-se ao meio ambiente e aos hábitos ou costumes próprios de uma sociedade. As causas internas são, na maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas, e estão ligadas à capacidade do organismo de se defender das agressões externas.


Os tumores podem ter início em diferentes tipos de células. Quando começam em tecidos epiteliais, como pele ou mucosas, são denominados carcinomas. Se o ponto de partida são os tecidos conjuntivos, como osso, músculo ou cartilagem, são chamados sarcomas.


Tratamento


Existem várias modalidades de tratamentos que podem ser feitos para combater o câncer. A principal é a cirurgia, que pode ser empregada em conjunto com radioterapia, quimioterapia ou transplante de medula óssea. O médico vai escolher o tratamento mais adequado de acordo com a localização, o tipo do câncer e a extensão da doença. Todas as modalidades de tratamento são oferecidas pelo SUS.


Prevenção


A prevenção do câncer nem sempre é possível, mas há fatores de risco que estão na origem de diferentes tipos de tumor. O principal é o tabagismo. O consumo de bebidas alcoólicas e de gorduras de origem animal, dieta pobre em fibras, vida sedentária e obesidade também devem ser evitados para prevenir os tumores malignos. São raros os casos de câncer que se devem apenas a fatores hereditários.



Fonte:http://anjoseguerreiros.blogspot.com.br/

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Claudio Vitorino em ação..

Aquele que acredita que o interesse coletivo está acima do interesse individual , que acredita que tudo e possível desde que tenha fé em Deus e coragem para superar os desafios...

Vida difícil? Ajude um estranho .

Pode parecer ilógico -no mínimo pouco prioritário- ajudar um estranho quando as coisas parecem confusas na nossa vida. Mas eu venho aprendendo que este é um poderoso antídoto para os dias em que tudo parece fora do lugar.

Como assim, pergunta o meu leitor mais cético? E eu explico:
Há duas situações clássicas onde podemos auxiliar uma pessoa que não conhecemos. A primeira é através de doações e gestos similares de caridade. Estes atos são maravilhosos e muito recomendáveis, mas não é deles que quero falar hoje.


Escolhi o segundo tipo: aquelas situações randômicas onde temos a oportunidade de fazer a diferença para uma pessoa desconhecida numa emergência qualquer. Na maioria das vezes, pessoas com quem esbarramos em locais públicos, envolvidas em situações que podem ir do estar atrapalhado até o precisar de mãos para apagar um incêndio.

E o que nós, imersos nas nossas próprias mazelas, distraídos por preocupações sem fim amontoadas no nosso tempo escasso, enfim, assoberbados como sempre... O que nós temos a ver com este ser humano que pode ser bom ou mau, pior, pode sequer apreciar ou reconhecer nosso esforço?


Eu vejo pelo menos seis motivos para ajudar um estranho:


1) Divergir o olhar de nossos próprios problemas
Por um momento, por menor que seja, teremos a chance de esquecer nossas preocupações.
Dedicados a resolver o problema do outro (SEMPRE mais fácil do que os nossos), descansamos nossa mente. Ganhamos energia para o próximo round de nossa própria luta.
Esta pausa pode nos dar novo fôlego ou simplesmente ser um descanso momentâneo.


2) Olhar por um outro ângulo
Vez ou outra, teremos a oportunidade de relativizar nossos próprios problemas á luz do que encontramos nestes momento. Afinal, alguns de nossos problemas não são tão grandes assim...
Uma vez ajudei Teresa, a senhora que vende balas na porta da escola de meu filho. A situação dela era impossível de ser resolvida sozinha, pois precisava “estacionar” o carrinho que havia quebrado no meio de uma rua deserta. Jamais esquecerei o olhar desesperado, a preocupação com o patrimônio em risco, com o dia de by Savings Sidekick">trabalho desperdiçado, com as providências inevitáveis e caras. E jamais me esquecerei do olhar úmido e agradecido, apesar de eu jamais ter comprado nada dela. Nem antes nem depois.
Olhei com distanciamento o problema de Teresa. E fiquei grata por não ter que trabalhar na rua, por ter tantos recursos e by Savings Sidekick">oportunidades. E agradeci por estar lá, naquela hora, na rua de pouco movimento, e poder oferecer meus braços para ela.


3) Não há antes, nem depois ...
Na intricada teia de nossos by Savings Sidekick">relacionamentos, dívidas e depósitos se amontoam. Ajudar um conhecido muitas vezes cria vínculos ou situações complexas. Ás vezes, ele espera retribuir. Outras vezes, esperamos retribuição. Se temos ressentimentos com a pessoa, ajudá-la nem sempre deixa um gosto bom na boca. Se ela tem ressentimentos conosco, fica tudo muito ruim também.
Já com estranhos são simples. É ali, naquela hora. Depois acabou. E não há antes. Que alívio!
(mas não vamos deixar de ajudar os conhecidos dentro de nossas possibilidades, hein?)


4) A gratidão pelo inesperado é deliciosa
Quem se lembra de uma vez em que recebeu uma gentileza inesperada? Não é especial? E nem sempre estamos merecendo, mal-humorados por conta do revés em questão.
Ou quando ajudamos alguém e recebemos aquele olhar espantado e feliz?
Ontem mesmo, eu estava numa fila comum de banco. Um senhor bem velhinho estava atrás de mim. Na hora em que fui chamada, pedi que ele fosse primeiro. “Mas por que, minha filha?”. “Pelos seus cabelos brancos”, respondi. Ele, agradecido, me deu uma balinha de hortelã. Tudo muito singelo, muito fácil de fazer, mas o sentimento foi boooom.


5) Quase sempre, é fácil de fazer.
Uma vez eu fiquei envolvida por uma semana com uma mãe e um bebê que vieram para São Paulo para uma cirurgia e não tinha ninguém para esperar no aeroporto. Levei para um hotel barato, acompanhei por uma semana e tive medo de estar sendo usada, reforçada pelo ceticismo de muitas pessoas ao meu redor. No final, deu tudo certo e a história era verdadeira.
Mas na maioria dos casos, não é preciso tanto risco ou tanto tempo. Uma informação; um abaixar para pegar algo que caiu; uma dica sobre um produto no supermercado. Dar o braço para um cego (nunca pegue a mão dele, deixe que ele pegue o seu braço, aprendi com meu experiente marido). Facílimo, diria o Léo. E vamos combinar, fácil é tudo que precisamos quando o dia está difícil, certo?

6) Amor, meu grande amor
Finalmente, ajudar estranhos evoca o nosso melhor eu. É comum termos sentimentos de inadequação, baixa auto-estima e insatisfação conosco quando estamos sob tempo nublado. E ajudar o outro nos lembra que somos bons e capazes. Ajudar um estranho demonstra desapego, generosidade, empatia pelo próximo. E saber que somos tudo isto quando o coração está cinza... É para olhar com orgulho no espelho, não?

Portanto, se hoje não é o seu dia... Faça o dia de alguém. E se é um dia glorioso... Vai ficar melhor!

Fonte:http://www.vivermaissimples.com/2011/03/vida-dificil-ajude-um-estranho.html

Karoline Toledo Pinto

Karoline Toledo Pinto
Karoline Agente Penitenciária a quase 10 anos , bacharelada no curso de Psicologia em uma das melhores Instituição de Ensino Superior do País , publica um importante ARTIGO SOBRE AS DOENÇAS QUE OS AGENTES PENITENCIÁRIOS DESENVOLVEM NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES . Aguardem em breve aqui será publicado .APESAR DAS PERSEGUIÇÕES INFUNDADAS DAS AMEAÇAS ELA VENCEU PARABÉNS KAROL SE LIBERTOU DO NOSSO MAIOR MEDO A IGNORÂNCIA CONTE COMIGO.. OBRIGADO CLAUDIO VITORINO

Filmes que mudarão sua vida..

  • A cor púrpora
  • A espera de um milagre
  • A procura da felicidade
  • A prova de fogo
  • Antes de partir
  • Desafiando gigantes
  • Ensina-me a viver
  • Paixão de Cristo

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