Fala Almança - Se o Governo não tomar a atitude que se espera, os policiais vão tomar.
Documentos em poder da polícia e do Ministério Público de São Paulo revelam que chefes da facção criminosa PCC deram ordens expressas para a matança de policiais e que desde 2011 se estruturam para esses ataques.
Um desses documentos, que funciona como espécie de ordem permanente para todos os integrantes, diz que policiais deverão ser assassinados toda vez que um criminoso for morto pela polícia.
"Se alguma vida for tirada pelos nossos inimigos, os integrantes do comando que estiverem cadastrados na quebrada do ocorrido deverão se unir e dar o mesmo tratamento. Vida se paga com vida, e sangue se paga com sangue."
Essa ordem, que integra um processo na Justiça, foi apreendida em dezembro de 2011 na casa do suspeito de ser um dos principais chefes do bando na Baixada Santistas. Cópias foram apreendidas em outras regiões de SP.
Só neste ano ao menos 75 policiais militares foram mortos --de janeiro a setembro do ano passado, foram 38. A suspeita é a de que parte desses crimes foi cometida por ordem da facção.
Conforme a Folha revelou nesta semana, com base em cerca de 400 documentos apreendidos pela polícia e Promotoria, a facção tem 1.343 integrantes cadastrados em 123 cidades de SP.
O governo paulista diz que as informações são uma "lenda" e que o número de criminosos da facção não passa de 40, quase todos traficantes e presos há tempos (leia texto nesta página).
GUERRA
Nesses mesmos papéis há comunicados produzidos entre setembro e outubro de 2011 em que os criminosos discutem o que fazer com policiais civis de São Paulo.
Um membro da cúpula do PCC diz: "Não é hora de entrar em guerra com a [polícia] Civil, pois já estamos numa guerra com a militar, onde nós estamos perdendo vários malandros na covardia."
E segue: "Vamos nos fortalecer, organizar nossa família, no setor financeiro, progresso [droga], depois a sintonia das quebradas. Quando estivermos prontos para reação, aí iremos para ação, com inteligência, sem chance de defesa pra eles."
Nesses documentos aos quais a Folha teve acesso, os criminosos relatam uma série de baixas sofridas pela facção, várias atribuídas à Rota, a tropa de elite da PM.
"Estamos passando a pior fase. Tá a maior covardia dos vermes da 'R' [Rota]. Tão tirando a vida de vários malandros da hora. Tão chegando muito rápido e não estamos conseguindo descolar de onde estão vindo", diz trecho de relatório assinado com Érick.
A Promotoria acredita tratar-se de Érick Machado Santos, o Rick, considerado um dos principais chefes da facção criminosa em liberdade.
Major da PM vê risco de novos 'esquadrões da morte' em SP
O deputado estadual Major Olímpio Gomes (PDT), major da reserva da Polícia Militar de SP, diz que o governo não pode mais, por medo de desgaste político, dizer que é "lenda" o poderio da facção criminosa PCC e a ligação do bando com as mortes de PM.
A palavra "lenda" foi usada recentemente pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e pelo secretário da Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto, ao comentar o a ação da facção criminosa.
Para o major, cresce um perigoso sentimento nas polícias de que as leis já não conseguem inibir a criminalidade e que os policiais podem querer "fazer justiça com as próprias mãos". "Se nenhuma providência for tomada urgente, o medo é policial fazer justiça no caixa dois", diz. (ROGÉRIO PAGNAN)
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Folha - Documentos mostram que há uma ordem dada pelo PCC para matar policiais. Já são 75 PMs mortos este ano...
Olímpio Gomes (PDT) - Está mais que clara a premeditação e a execução de policiais. Será que esse novo documento do PCC é mais uma lenda, como dizem certas autoridades? Só que as lendas vêm se confirmando a cada dia.
Não adianta querer tapar o sol com a peneira, dizer que é lenda, que é coisa de promotor mal intencionado, jornalismo tendencioso: são 75 PMs mortos. Mais um indicativo de que estão cumprindo o salve [ordem do PCC].
Como o senhor recebe essa notícia de mais uma morte?
Eu tenho muita responsabilidade em falar isso, mas é preocupante quando surge o sentimento de duvidar que o Estado democrático de direito e as leis conseguem impedir o crime e surgem pessoas com vontade de fazer justiça com as próprias mãos.
Eu tenho ido a velórios, falado com coronéis, delegados. É o mesmo sentimento: se nenhuma providência for tomada urgente, o medo é policial fazer justiça no caixa dois". E alguns comandantes dizem pensar em adotar um "dane-se".
Deixar que os policiais façam isso e até incentivar. "Caixa dois" no jargão é um policial fora de serviço sair matando marginais.
Se o coronel, se o delegado de classe especial tem esse sentimento no momento de dor e de angústia, imagine o soldado e o investigador, que se sentem abandonados?
Os policiais acham que as leis não funcionam mais?
No dia 15, vamos fazer uma audiência na Assembleia para iniciar a coleta de assinaturas e apresentar proposta de uma lei de iniciativa popular para tornar hediondos crimes praticados contra agentes da lei e aumentar as penas.
Isso existe em muito países e muitos Estados norte-americanos. Precisamos mudar a lei para que seja um impeditivo aos marginais. O sentimento é o de que as leis não protegem o cidadão de bem. E os homens da lei são os alvos preferenciais dos bandidos.
FONTE - FOLHA
FALA ALMANÇA - Lamentável é pouco. É falta de vergonha, de caráter do governo de São Paulo não reconhecer o que está acontecendo unicamente com receio do desgaste político. Dizer que este embate, esta guerra impetrada pelo PCC contra a PM é lenda, é brincar com a vida dos policiais. O Estado precisa reconhecer que há esta guerra e tomar medidas para impedir isso, endurecendo com a bandidagem e implementar um tolerância zero. É preciso varrer esse PCC da face da terra. Não pode haver meio termo.
Sem apoio do Governo e do Comando, os policiais infelizmente terão que tomar suas próprias decisões e atitudes no intuito de preservar suas vidas. Não defendendo o "justiça com as próprias mãos", nem o "caixa dois" mas o que está em jogo é a vida de policiais. E entre a vida de policiais, chefes de família e de marginais, que destroem famílias, eu opto pela dos policiais.
O momento é grave e merece atenção de todos policiais brasileiros. Agora vejam a falta que uma bancada federal da polícia faz. Era hora de termos representante em Brasília para cobrar uma atitude do Governo Federal e do Governo Estadual.
Peço aos amigos policiais de São Paulo que redobrem a atenção no serviço, no deslocamento de casa ao trabalho e principalmente nos horários de folga.
Gostaria de perguntar onde está a Associação de Cabos e Soldados, Associação de Oficiais e outras de classe, que não vão pra imprensa cobrar uma atitude do Governador e do Comando da PM.
Policiais estão morrendo covardemente. Vamos assistir impassíveis?
Infelizmente, se o Governo não tomar a atitude que se espera, os policiais vão tomar.