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segunda-feira, 11 de março de 2013
Marcha das Vadias mobiliza cidades do Brasil e do mundo
A Marcha das Vadias ganhou em 2012 caráter nacional e ocorre simultaneamente neste sábado em cerca de 20 cidades do Brasil e do mundo. Entre as cidades brasileiras que realizaram o protesto estão Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC), Vitória (ES), São Paulo (SP), São Carlos (SP), São José dos Campos (SP) e Sorocaba (SP).
A iniciativa busca chamar a atenção da sociedade de que a culpa da violência e do abuso sexual não é da vítima. "É do abusador e do estuprador", salientou Daniela Montper, uma das organizadoras do evento no Rio de Janeiro. "Quando a sociedade fica julgando a vítima, procurando algum motivo para dizer que ela mereceu (a violência), está tirando a culpa do estuprador, do abusador, e jogando em cima da vítima", acrescentou.
Grande mobilização em Brasília
Cerca de 3 mil pessoas compareceram à Marcha das Vadias em Brasília, segundo dados da Polícia Militar do Distrito Federal e dos organizadores do protesto.
A quantidade de manifestantes foi aproximadamente cinco vezes maior do que a da marcha do ano passado. Munidos de buzinas, tambores, cornetas, cartazes e entoando gritos de guerra, os manifestantes tiveram o objetivo de alertar a sociedade para a violência e o abuso sexual contra mulheres.
No Rio de Janeiro, palavras de efeito
Segurando cartazes a favor do aborto e contra o machismo, cerca de mil manifestantes - de acordo com estimativa dos organizadores - pregaram o combate à violência contra a mulher durante a Marcha das Vadias na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.
As integrantes do movimento, usando pouca roupa e com maquiagem chamativa, cantavam slogans como "eu só quero é ser feliz / andar tranquilamente com a roupa que escolhi / e poder assegurar / de burca ou de short, todos vão me respeitar" ou ainda "a nossa luta é por respeito, mulher não é só bunda e peito".
Irreverência chama atenção em SP
Pelo menos 700 pessoas, de acordo com a Polícia Militar, participaram da segunda edição da Marcha das Vadias em São Paulo: um número maior que os 400 participantes registrados no evento no ano passado.
A passeata foi marcada pela irreverência de grande parte das participantes, que desfilaram usando roupas íntimas e até mesmo nuas da cintura para cima, com o corpo coberto por pinturas e palavras de ordem. Outras usavam roupas decotadas e curtas. A manifestação foi pacífica.
Origem da Marcha das Vadias
O movimento surgiu em Toronto, no Canadá, no ano passado, organizado por estudantes da universidade local, a partir da declaração de um policial que afirmou, durante uma palestra, que o fato de as mulheres se vestirem como "vadias" poderia estimular o estupro.
A marcha no Brasil defende outros temas, como o combate a toda forma de violência e abuso sexual contra meninas e mulheres, e prega a diversidade sexual. Outra bandeira dos participantes é a descriminalização do aborto.
Agência Brasil
Colaboraram com esta notícia os internautas Henrique Yasuda, de São Paulo (SP), e Cleide Isabel, de São Bernardo do Campo (SP), que participaram do vc repórter, canal de jornalismo participativo
Fonte:http://noticias.terra.com.br/brasil/cidades/marcha-das-vadias-mobiliza-cidades-do-brasil-e-do-mundo,2d9cdc840f0da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
Luana Tolentino: Ordem de serviço da PM e genocídio da juventude negra
publicado em 23 de janeiro de 2013 às 17:41
por Luana Tolentino, especial para o Viomundo
Nos últimos dias, livros, revistas, dissertações e o computador têm sido minhas principais companhias. A tarefa é dura e desafiadora: escrever sobre Lélia Gonzalez (1935-1994), uma das maiores intelectuais negras que este país já teve.
Em um dos parágrafos, falei dos desafios a serem enfrentados para a superação da desigualdade racial existente no Brasil. Da mesma maneira, discorri sobre os avanços e vitórias que a população negra obteve, principalmente nas duas últimas décadas: A criação da SEPPIR em 2003, a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial em 2010, e mais recentemente a vitória histórica com a aprovação das Cotas no ensino superior.
Como ninguém é de ferro, resolvi desanuviar um pouco: um café e uma olhadela no Facebook. Minha estratégia não deu muito certo: me deparei com uma “ordem de serviço” (imagem acima) da Polícia Militar de São Paulo, o que mostra que, apesar dos avanços, a luta contra o racismo tem de ser cotidiana.
Temos na medida da PM Paulista uma continuidade histórica. Ainda no século XIX, representantes da classe dominante brasileira tomaram de empréstimo as teorias raciais disseminadas na Europa, que atestavam a inferioridade dos negros. Ao adaptá-las à realidade nacional, imputaram aos descendentes de escravos uma suposta tendência ao crime. Outrossim, o negro associado à criminalidade foi fundamentado pela Ciência, ganhou caráter institucional no Estado e acabou amplamente disseminado pela população.
Passados mais de um século, este estigma permanece arraigado no inconsciente coletivo e nas abordagens policiais. Os moradores das periferias, vilas e favelas, sobretudo os negros e do sexo masculino, são vistos como elementos suspeitos.
Do ponto de vista da violência urbana, um estudo realizado pelo Laboratório de Análises Estatísticas Econômicas e Sociais das Relações Raciais da UERJ mostrou que, entre os anos de 2009 e 2010, o número de pretos e pardos assassinados cresceu 46,3%. No contingente branco, esse crescimento foi de 0,1%.
Mano Brown, que recentemente pediu o impeachment do governador Geraldo Alckimim, pelo alto índice de jovens negros assassinados nas periferias de São Paulo, em 2011, durante palestra em Belo Horizonte afirmou que de cada 15 jovens assassinados 14 são negros. Esses números deixam claro que um genocídio está em curso no Brasil, e pouco ou nada se faz para reversão desse quadro aterrador.
Os reflexos das teorias raciais formuladas pela elite brasileira nos anos finais do século XIX e início da primeira República também são visíveis no sistema prisional. No Rio de Janeiro, 90% da população carcerária é formada por afro-descendentes. Diante disso, torna-se impossível não lembrar dos versos de Gil e Caetano:
“mas presos, são quase todos pretos, ou quase brancos, quase pretos de tão pobres, e pobres são como podres, e todos sabem como se tratam os pretos”.
Num país que entende como natural a distância que separa negros e brancos, a postura genocida da Polícia Militar de São Paulo dificilmente é associada à violência racial. Além disso, quando chegam a ser noticiados na mídia são fruto de denúncias de moradores e de pressões dos movimentos sociais. Assim, é necessário louvar as reportagens veiculadas pela Rede Record e pela Carta Capital, que nos últimos anos têm levado ao ar e publicado matérias sobre a discriminação racial e a violência policial no Brasil. Fato raro na televisão brasileira.
Nas eleições de 2010, em um dos debates entre os presidenciáveis, Plínio Arruda, nos poucos minutos a que teve direito de se pronunciar, sintetizou numa frase um dos legados deixados pelos quase quatro séculos de escravidão no país: “Ser negro no Brasil é extremamente perigoso”.
Poucos devem ter prestado a atenção na assertiva de Plínio, porém, a “ordem de serviço” emitida pelo Comandante da PM, Ubiratam Beneducci, não deixa dúvidas de que o então candidato do PSOL estava coberto de razão.
Fonte:http://www.viomundo.com.br/denuncias/luana-tolentino-ordem-de-servico-da-pm-arma-para-genocidio-de-jovens-negros.html
Mapa da Violência 2013 - O Fracasso do Desarmamento
Mapa da Violência 2013 - O Fracasso do Desarmamento
Fabrício Rebelo*
Um dos parâmetros mais utilizados para a compreensão da violência homicida no Brasil, o “Mapa da Violência” apresenta, em sua mais recente edição (2013), dados que, mesmo com indisfarçável contaminação da ideologia desarmamentista, conduzem à conclusão que mais se alcança entre os estudiosos em segurança pública: as políticas de desarmamento não reduziram homicídios no país.
De acordo com o Mapa, publicado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, foram mortas no Brasil, no ano de 2010, 38.892 (trinta e oito mil, oitocentos e noventa e duas) pessoas com uso de arma de fogo, quantidade que supera a registrada no ano 2000 em 3.907 (três mil, novecentos e sete) ocorrências - foram registradas 34.958 mortes naquele ano. Percentualmente, na década pesquisada, houve um aumento nas mortes por arma de fogo da ordem de 11,25%, computando-se acidentes, suicídios, homicídios e outras causas indeterminadas[1].
No mesmo período, de acordo com os dados disponíveis junto ao IBGE[2], a população brasileira sofreu um incremento de 12,33%, passando de 169.799.170 para 190.732.694 de habitantes. Portanto, para fins estatísticos e considerada a margem de variação inerente a qualquer pesquisa com parâmetros populacionais, os números se equivalem, não se podendo atribuir qualquer significação relevante à irrisória diferença de 1,08% entre o crescimento populacional e o de mortes por armas de fogo. O quadro pesquisado, assim, apresentou estagnação estatística.
A situação muda um pouco quando são isolados apenas os casos de homicídio. De acordo com o estudo, foram assassinadas com arma de fogo no país, no ano 2000, 30.865 pessoas, número que, dez anos depois, aumentou para 36.792[3], numa variação de 19,2%, ou seja, já expressivamente acima do crescimento demográfico.
Já numa primeira análise, portanto, os números comprovam que, entre os anos de 2000 e 2010, os índices gerais de morte por arma de fogo no Brasil praticamente variaram na mesma proporção de seu crescimento demográfico, com relevante aumento na taxa de homicídios com esse meio. Com isso, claramente já se pode observar que as amplamente difundidas políticas de desarmamento, implementadas no país no mesmo período, foram inteiramente ineficazes para a contenção de tal modalidade de crime.
A conclusão se reforça sobejamente quando são analisados os efeitos da política desarmamentista na circulação de armas de fogo no Brasil. No exato mesmo período de 2000 a 2010, o comércio de armas de fogo no país, em decorrência das legislações restritivas coroadas pelo atual estatuto do desarmamento, sofreu uma drástica redução, da ordem de espantosos 90% (noventa por cento).
Havia no país, no ano 2000, 2,4 mil estabelecimentos registrados na Polícia Federal autorizados ao comércio de armas e munições. Já em 2008, restavam apenas 280 (duzentos e oitenta). Em 2010, de acordo com diversas pesquisas promovidas por órgãos do próprio governo, organizações não governamentais e centros de pesquisa acadêmica, o comércio especializado de armas e munições se resumia a 10% (dez por cento) do que se verificava uma década antes[4].
Paralelamente a isso, campanhas de desarmamento, especialmente a fortemente realizada entre os anos de 2004 e 2005, precedendo o referendo deste último ano, retiraram de circulação cerca de meio milhão de armas entre a população civil brasileira[5], número que hoje já alcança, de acordo com dados oficiais do Ministério da Justiça, 618.673 (seiscentas e dezoito mil, seiscentas e setenta e três)[6].
Considerando que, de acordo com os dados do Sistema Nacional de Armas – SINARM, há hoje no Brasil pouco mais de 1,6 milhões[7] de armas com registro ativo, o total de armas recolhidas representa mais de 27,5% do universo somatório daquelas registradas e das já recolhidas. Em outros termos, comparando-se o total das armas hoje registradas e o daquelas que já foram entregues em campanhas de desarmamento, o arsenal legalizado brasileiro já foi reduzido em mais de 1/4 (um quarto) de seu total.
Numa realidade em que 90% do comércio de armas foi extinto no país e mais de seiscentas mil delas já foram retiradas de circulação, não resta qualquer dúvida de que, caso as armas legalmente possuídas pela sociedade brasileira tivessem vinculação com o número de mortes, os respectivos índices teriam sofrido igualmente significativa variação para menor.
Entretanto, consoante aqui demonstrado, mesmo com tamanha perseguição às armas de fogo, as mortes gerais por seu uso no país cresceram na exata mesma proporção do crescimento populacional, enquanto os homicídios aumentaram numa taxa acima deste. Em 2010, com 90% de redução no comércio de armas e mais de meio milhão delas já recolhidas, a taxa de mortes com seu uso no país o foi a mesma de uma década antes, com uma variação estatisticamente desprezível de apenas 1% (20,6/100mil em 2000 contra 20,4/100mil em 2010), ao passo em que a taxa de homicídios aumentou mais de 6% (18,2/100mil contra 19,3/100mil)[8].
Os números, mais uma vez, comprovam que inexiste relação direta entre a quantidade de armas em circulação entre a população civil e as taxas de mortes por seu uso. A drástica redução no acesso do cidadão brasileiro às armas de fogo não representou nenhuma contenção nas mortes em que elas são empregadas e não impediu o considerável crescimento dos homicídios no país.
A explicação é simples: leis restritivas à posse e ao porte de armas apenas desarmam aqueles que cumprem as leis. Porém, no Brasil ou em qualquer outro lugar, como já reconhece a própria ONU, na quase totalidade das vezes em que um homicídio é cometido com uma arma de fogo, quem puxa o gatilho é um criminoso habitual[9].
* Fabricio Rebelo | bacharel em direito, pesquisador em segurança pública e coordenador regional (NE) da ONG Movimento Viva Brasil.
[1] WAISELFISZ, Julio Jacobo - Mapa da Violência 2013 - Mortes Matadas por Armas de Fogo : CEBELA, 2013, p. 11.
[2] Censo 2010 – IBGE. Disponível em http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1766
[3] Ob. Cit., p. 11
[4] Vide: Venda legal de armas já caiu 90% em dez anos - http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5077633-EI6594,00-Venda+legal+de+armas+ja+caiu+em+dez+anos.html
[5] http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/12/12/armas-de-fogo-mataram-mais-de-36-mil-em-2010-segundo-o-ministerio-da-justica
[6] Vide : http://blog.justica.gov.br/inicio/primeiro-mes-do-ano-registra-aumento-de-51-de-armas-entregues/
[7] 1.624.832 de registros ativos em 2012, segundo o SINARM.
[8] WAISELFISZ, Julio Jacobo - Mapa da Violência 2013 - Mortes Matadas por Armas de Fogo : CEBELA, 2013, p. 13.
[9] 2011 GLOBAL STUDY ON HOMICIDE – United Nations Office on Drug and Crime, p.10.
Balanço da luta do movimento negro em 2012 e perspectiva para 2013 por Edson França
O ano de 2012 foi um ano positivo para o movimento negro brasileiro, apesar de persistir ações e reações contrárias a pauta antirracista, encerrou ciclos e abriu novos desafios que exigirá toda atenção para que não fiquemos no meio do caminho. Nesse artigo pretendo apontar em linhas gerais os principais destaques da luta do movimento negro em 2012 e apresentar alguns desafios e perspectivas para o próximo ano.
Heróis e heroínas negras que em 2012 passaram ao orun
Começo discorrer sobre os principais destaques político para luta racial em 2012 pela parte mais difícil e incomum para militância do movimento negro: a perda de valorosos personagens que deixaram importantes legados ao Brasil, ao dedicarem toda a vida na luta para superação do racismo. Com isso, me coloco entre aqueles que consideram que o principal patrimônio do movimento negro são seus quadros e toda a militância, depositários legítimos de quinhentos anos de acúmulos histórico, teórico e político decorrentes da experiência do contato do africano e do negro com a opressão e o racismo no Brasil.
Para o movimento negro o ano corrente foi muito difícil nesse aspecto, tivemos muitas perdas, expresso gratidão e homenageio a memória do Deputado Estadual José Cândido (PT/SP), Prof. Eduardo de Oliveira (CNAB), Wilson Brother (coordenação da UNEGRO/DF e fundador do bloco Pacotão), Sonia Leite (CONEN), Teresa Santos (fundadora do CECAN, principal entidade paulista na década de 70), Hamilton Vieira (jornalista e introdutor da pauta racial na imprensa baiana), Seu Teodoro (mestre do bumba meu boi do Maranhão), Mestre João Pequeno (ícone da capoeira, discípulo do Mestre Pastinha) e Mestre Paulo (Samba Autêntico e Projeto Rua do Samba Paulista), além de muitas Marias e Joãos que incorporaram abnegadamente a luta racial em suas vidas, mas não são conhecidos pelo grande público que compõe o movimento negro brasileiro. Para nós do movimento negro todos são heróis e heroínas imortalizados nas conquistas e nas expectativas de igualdade, paz, justiça e liberdade que o povo brasileiro carrega na mente e no coração.
Violência do governo Alckmin e o projeto de extermínio da população negra
O ano de 2012 será destacado negativamente pelo crescimento da violência, que sempre tem maior incidência sobre a juventude negra. O registro de 4.306 homicídios de janeiro a novembro de 2012, em São Paulo (Revista Exame on-line) é uma eloquente denúncia da incapacidade de Geraldo Alckmin governar o estado. Estamos diante de um índice de mortalidade violenta comparável a países conflagrados, somente muita irresponsabilidade governamental permite atingir tal patamar de violência.
Esse quadro remete o movimento negro à defesa do mais elementar dos direitos: a vida. Geraldo Alckmin compõe a intelligentsia que dá continuidade ao projeto da elite escravocrata que em meados do século XIX, advogando a tese que o desenvolvimento do Brasil em padrões
europeus estava definitivamente comprometido devido a existência do sangue africano em solo brasileiro, elabora um projeto de nação sem a presença negra, assim eliminariam o principal fator do subdesenvolvimento do país que nascia.
Para isso, concluiu que era necessário branquear a população brasileira. O extermínio físico compunha uma das formas para dar consequência prática ao projeto de branqueamento. Houve outras ações práticas, como subsídio a imigração em massa de europeus (desembarcaram no Brasil 3,9 milhões de europeus em 40 anos, segundo pesquisa de Cida Bento), incentivo a miscigenação na camada popular, violência sobre os protestos sociais (Canudos e a Revolta da Chibata são os exemplos mais contundente do tratamento do Estado aos movimentos sociais), proibição da entrada e exílio de negros e africanos (ainda existe a marca desse arbítrio na comunidade de descendentes de brasileiros em Benin).
O projeto de branqueamento e a prática de contenção física da população negra não ficaram localizados em finais do século XIX e nas três primeiras décadas do XX. A década de 90 do século passado foi notabilizada pela implantação do neoliberalismo e pela contundente retórica genocida das elites mundiais.
Os teóricos do neoliberalismo ainda não abandonaram a perversa convicção que a pobreza é injusta aos homens vocacionados ao sucesso, pois obriga o Estado a desperdiçar recursos humanos e econômicos com alimentação, moradia, saúde e educação, logo emperra a capacidade de desenvolvimento do país. Em seus cálculos grande parcela da população mundial empobrecida é inapta para ser incorporada no desenvolvimento moderno e oferece perigo para estabilidade do sistema, logo é descartável. Cabe aos Estados desenvolvidos, modernos e democráticos oferecer propostas que dê resolução ao problema.
A UNEGRO, no documento “Extermínio Programado da População Negra”, denunciou a pretensão imperialista contida no “Relatório Kinssiger” e a perversidade da elite brasileira exposta no documento da Escola Superior de Guerra (ESG) conhecido como “Estrutura do Poder Nacional para o Século XXI”. Ambos buscam, em última instância, dar respostas concretas ao maior impasse do neoliberalismo: o que fazer para conter o crescimento das populações que proliferavam nos bolsões de miséria em todo planeta, visto que serão fatores de instabilidade ao status quo.
Essa compreensão foi a base teórica para a arquitetura política e ideológica que nos anos 90 sustentava abertamente a violência da polícia, esterilização generalizada das mulheres negras, negação de políticas sociais básicas que incidem na longevidade das pessoas (trabalho e renda, saúde, educação, saneamento básico, previdência, etc.) e a existência de grupos de extermínios que dizimavam indiscriminadamente crianças negras, pobres e em situação de rua. Hoje vemos esses fenômenos se atualizando.
Sobre o recrudescimento da violência na atualidade, especialmente no estado de São Paulo, há quem diga que o motivo do caos é a perda de controle sobre a polícia e sobre o crime organizado. Considero essa uma afirmação insuficiente, pois ela aponta para uma provável acefalia política, transformando o principal responsável em incompetente e não em autor e executor de um projeto político.
Alckmin é o arquiteto do caos, ele conscientemente dá consequência prática ao sonho liberal descrito logo acima. Está desde o primeiro mandato de Mário Covas no poder, indicou e é patrão dos comandantes das polícias e dos secretários das áreas de segurança, estabeleceu as políticas de segurança pública, carcerária e de direitos humanos no estado. Toda a ação do estado de São Paulo só é possível com a assinatura do seu governador.
Ao mesmo tempo tudo indica que o governo negocia com o crime organizado, com vista a apresentar para sociedade um gráfico que aponte redução dos dados de rebelião nos presídios, homicídios, assaltos, sequestros, dentre outros dados de criminalidade. Em outras palavras, acredito que negocia com organizações criminosas com objetivo de maquiar a ação do estado no combate a criminalidade apresentando redução dos índices e não desarticulando o crime e oferecendo segurança de fato a população. Não imagino qual a contrapartida que oferece.
Em um país cuja democracia está mais consolidada, com maior presença dos trabalhadores e do povo nos espaços de poder, certamente um governante com esse grau de irresponsabilidade sofreria impeachment. Não vejo solução para conter o aumento da violência em São Paulo enquanto estivermos sendo governados por forças neoliberais e reacionárias, ainda assim, considero necessário apurar a responsabilidade do governador diante da selvageria e do medo que tomou conta do estado. Está aí um grande desafio aos movimentos sociais, especialmente ao movimento negro, desmascarar a política genocida e anti povo do governo do PSDB e construir as bases para sua superação no voto em 2014.
Aprovação das cotas consolida a principal conquista do movimento negro em 2012
Esse ano encerrou décadas de luta do movimento negro para incorporar a juventude negra nas principais universidades do país, há novos desafios, mas o direito a inclusão foi conquistado. A lei 12.711/2012, que prevê ingresso de negros, índios e pobres nas universidades públicas federais é constitucional segundo os 11 ministros que compõe a mais Alta Corte da República Federativa do Brasil, está aprovada pelo Congresso Nacional, sancionada pela Presidenta da República Dilma Rousseff e regulamentada pelo governo federal, já em pleno vigor. Até 2016 as universidades públicas federais estão obrigadas a reservar 50% das vagas que serão destinadas a incorporação de pobres e negros oriundos de escolas públicas.
O movimento negro a exemplo dos mais variados segmentos do movimento social não é um espaço monolítico, a luta contra o racismo comporta várias correntes políticas, ideologias, táticas, organizações, etc. No entanto, ao contrário de algumas mal formuladas e superficiais críticas, tem unidade, construiu grandes consensos, dentre eles a defesa das políticas de ações afirmativas e as cotas nas universidades públicas - como principal proposta de ação afirmativa.
Após vários anos de intensos debates, enfrentando ao mesmo tempo e sem trégua setores minoritários - contrários ou vacilantes - da esquerda; todas as correntes de pensamento liberal; partidos políticos, o maior e mais acirrado combatente contra a presença de negros na universidade foi o DEM e depois o PSDB; grande parcela da classe média, principal beneficiária do privilégio; a grande mídia militando, mobilizando, desinformando e pressionando as
autoridades a se posicionarem contra as cotas; personalidades respeitadas, tais como Caetano Veloso, Ferreira Gullar, João Ubaldo Ribeiro, Nelson Motta, Aguinaldo Silva, Gerald Thomas, dentre outros; intelectuais de toda ordem, inclusive alguns que estudaram a questão racial no Brasil e se mostraram inimigos da cota para inclusão de negros nas universidades, como Peter Fry, Manolo Florentino, Marcos Chor Maio, Ricardo Ventura, etc.; instituições universitárias como a USP, UNESP e UNICAMP.
A USP foi fundada para atender o sonho e os objetivos estratégicos da classe dominante paulista, que consistia em formar uma elite altamente capaz e dinâmica para recuperar a hegemonia de São Paulo no país, agora com foco no campo econômico e político. Após as derrotas de 1930 e depois em 1932 pelas armas, sabiam que somente a ciência abriria condições para o estado novamente obter a supremacia perdida. Hoje o objetivo é de preservar o peso de São Paulo no campo econômico e político, por isso a USP resiste com vigor e tem se recusado debater propostas que levem a qualquer processo de democratização do acesso de pobres e principalmente negros em seu interior.
Apesar da resistência o movimento negro paulista não tem dado trégua, ciente de que São Paulo não pode continuar negando as cotas sob pena de comprometer sua reeleição, Geraldo Alckmin pressionou os reitores das universidades públicas paulistas para apresentar uma proposta de inclusão de negros e pobres na universidade. Ainda que tenha controvérsia na proposta oficialmente apresentada pelo governador, podemos dizer que a elite bandeirante e os dirigentes uspianos não estão felizes. São todos contra as cotas sociais ou raciais, as cotas ferem princípios e objetivos da classe dominante paulista.
Importantes destaques devem ser registrados nessa longa e árdua batalha, primeiro ficou patente que quando o movimento negro sai unificado em defesa de uma proposta ele mobiliza o Brasil. Por isso, precisamos ser mais ousados na busca das mudanças, sabemos que é possível unificar a população negra para corrigir a subrepresenação de negros nos espaços de poder, é inaceitável que os negros representantes de 50,6% da população brasileira estejam alijados dos espaços que definem o destino do país.
Segundo, consolida a convicção que as forças contrárias ao racismo - composta de todas as raças, cores e origens nacionais - são majoritárias no país. Há caminhos para construção de uma nação próspera, justa, solidária, com forte unidade popular.
O povo brasileiro optou em ouvir o movimento negro e os defensores das cotas raciais, apesar da retórica do medo elaborada pelos intelectuais anticotistas e de toda manipulação da grande mídia na hora de informar, provamos que os grandes órgãos de comunicação são poderosos, mas não são infalíveis.
Terceiro é constatar que forças de esquerda, centro, direita e seus respectivos polos, em várias ocasiões foram vozes uníssonas contra as cotas, uma coincidência possível apenas na questão racial. Sei que é uma afirmação incômoda, mas não podemos ignorar fatos. Temos que verificar com maior profundidade esse fenômeno e tirar lições para os enfrentamentos necessários para vitória total contra o racismo.
Como Nelson Mandela falou: “ao lado da vitória vem a responsabilidade”, não será diferente para o movimento negro com a conquista das cotas. Segundo cálculos da Folha de São Paulo (23/12/2012), das 224 mil vagas nas universidades públicas federais 42 mil serão reservadas para negros e pobres oriundos das escolas públicas. Isso mudará definitivamente o perfil social e racial das universidades, incidirá nas linhas de pesquisas e extensões, pois novos valores, novas necessidades e inquietações serão munidas de conhecimentos até então inacessível.
O primeiro desafio é exigir condições (tutoria) para que os cotistas permaneçam nos cursos até se formarem, isso significa reforço para elevar o nível dos cotistas, garantir ajuda de custo para materiais didáticos, alimentação, transporte, acesso a cultura, ao lazer e moradia quando for o caso.
Segundo desafio é garantir que os milhares de negros e negras que estão se formando e se formarão em breve sejam incorporados com dignidade no mercado de trabalho e deem contrapartidas sociais aos esforços coletivos que garantiram a abertura das universidades públicas e privadas (através do PROUNI), até então negadas para negros e pobres. Será uma forma de universalizar um bem que pertence a toda população negra e pobre do país, que sempre apoiaram as ações afirmativas.
Num primeiro momento, parcela desses estudantes provavelmente absorverão os valores elitistas predominantes nas universidades, haverá pressão da casta intelectual, que combateu as cotas, e se encontra encastelada nas academias. Não descarto a possibilidade da maioria dos cotistas serem ganhos pelo pensamento conservador que domina as instituições universitárias, a classe dominante brasileira sempre inverte o jogo, resistem aos avanços, quando perdem se alinham e dominam o processo a seu modo.
O Brasil está mudando, verificamos a emersão de uma nova classe média, composta por caras e cores que até então não vislumbravam possibilidades de ascensão. Esses jovens virão em busca de oportunidade e sucesso, muitos desconhecendo toda a luta do movimento negro para incorporá-los na educação superior, depositando a razão de sua formação universitária exclusivamente nos méritos individuais. Por isso, torna-se imperativo o movimento negro elaborar formas de se aproximar da juventude universitária e cotista, assim será possível atuar para formarmos consciências críticas capazes de devolver à coletividade as vitórias alcançadas na luta comum.
Vitória eleitoral do campo progressista
O resultado da eleição para prefeitos e vereadores em 2012 foi positivo para os movimentos sociais, a base aliada do governo Dilma governará a partir de 01 de janeiro do próximo ano 75% dos municípios brasileiros, sem sombra de dúvida essa nova rede de prefeitos e prefeitas é uma sólida base política para o pleito de 2014 - embora a transferência de votos não seja automática. Além das taxas recordes de popularidade, o resultado eleitoral assegura um prognóstico favorável ao campo político inaugurado por Lula, se não ocorrer nenhum fato muito grave e negativo, provavelmente terá mais seis anos para aprofundar as mudanças
iniciadas em 2003, as políticas de igualdade racial se beneficiarão da continuidade de Dilma por mais um mandato na Presidência da República.
A eleição em Salvador merece um destaque especial, não pela vitória do DEM, uma força reacionária que vem definhando em todo país, mas pela forte presença da questão racial no debate político eleitoral. Todos os institutos de pesquisas que analisaram as intenções de votos em Salvador indicavam vitória tranquila de ACM Neto (DEM/BA) no primeiro turno, após a denúncia, veiculada na TV pelos adversários, sobre posição do DEM contra as cotas raciais e contra os quilombolas, houve segundo turno e faltou muito pouco para ser derrotado. Se ACM Neto não convencesse os eleitores de Salvador que era pessoalmente favorável as políticas de igualdade racial, certamente perderia a eleição.
As chapas com candidatos a prefeitos e vices que disputaram eleição em Salvador tinha presença negra encabeçando ou como vice, de modo que além do debate sobre propostas para superação do racismo e promoção social da população negra soteropolitana, na prática estava em pauta a presença de negros e negras no poder. A Bahia inaugura um ciclo político virtuoso para luta contra o racismo ao exigir negros nas chapas majoritárias, lá não existirá mais o conhecido nós sem nós, a população negra está ciente de sua força, de sua capacidade de escolher representantes comprometidos com o antirracismo. Nenhum político se viabilizará na Bahia ignorando o peso do racismo sobre o negro, ou sem assegurar aos baianos que verdadeiramente está comprometido com esse tema. Ganha o Brasil quando a voz da metade da população ganha mais eco e se torna mais forte.
Outro destaque do processo eleitoral importante para a luta do movimento negro é a vitória de Fernando Haddad na cidade de São Paulo, maior metrópole da América do Sul e quinta maior do mundo. Esse resultado aprofunda a instabilidade do projeto de continuidade tucana no estado de São Paulo, acirra as brigas internas e agrava a irrevogável divisão do PSDB em todo país, além de reiterar a liderança de Lula. Esses fatores são suficientes para o júbilo de todos os movimentos sociais. No entanto tem mais, especialmente ao movimento negro, Haddad anunciou a implantação de uma secretaria municipal de igualdade racial (não foi ainda anunciado o nome do órgão) e anunciou, também, o titular da pasta, um promissor político jovem e negro: Netinho de Paula, vereador reeleito pelo povo paulistano.
O Brasil registra marcos importante na institucionalidade de órgãos de governo para questão racial, com enfoque na população negra. A experiência inaugural no país com o Conselho de Participação e Desenvolvimento da População Negra em 1984, em São Paulo e a Fundação Cultural Palmares quatro anos após, no âmbito do governo federal, em pleno Centenário da Abolição, superou definitivamente a completa omissão do Estado brasileiro em oferecer políticas públicas voltadas especificamente para população negra e quebra um dos sustentáculos do mito da democracia racial, que consistia na negação do Estado em intervir com políticas públicas num problema que até então não aceitava reconhecer sua existência: o racismo. A SEPPIR do governo Lula reiterou e fortaleceu o compromisso do Estado, elevando o patamar do enfrentamento dos desdobramentos do racismo, além de elaborar paradigmas e atualizar propostas ouvindo a sociedade civil através de conferências e conselhos de políticas públicas.
Chamo atenção do movimento negro a essa secretaria anunciada por Haddad, pois estabelecerá um novo paradigma na implantação de órgãos responsáveis pela política de igualdade racial. Segundo o prefeito eleito a secretaria fará a transversalidade e executará alguns programas para igualdade racial, para isso terá estrutura humana, técnica e institucional adequada a demanda, além de orçamento digno de uma secretaria executora de políticas públicas. Precisamos acompanhar essa experiência, o Brasil está cansado de órgãos de igualdade racial incapazes de cumprir seus objetivos porque não estão nos objetivos dos prefeitos e governadores.
Temos incidir nos planos de governos a partir de 2013, quanto maior é a presença de forças progressistas nas prefeituras, mais favorece conquistas objetivas para as reivindicações da sociedade. Há tarefas de grande importância ao avanço da luta do movimento negro decorrente da mudança de titulares dos executivos e legislativos municipais, que reitero nesse artigo, pois já disse imediatamente após a eleição passada no artigo “Tarefa do movimento negro após a eleição.
Exigir incorporação de negros e negras nos cargos comissionados, em todos os escalões.
Exigir a instituição de organismos de promoção da igualdade racial (secretarias, coordenadorias ou assessorias).
Estimular a criação de frentes parlamentares de igualdade racial principalmente nas Câmaras de Vereadores de todos os municípios a partir de 200 mil habitantes.
Criar conselhos de igualdade racial em todos os municípios, principalmente naqueles a partir de 200 mil habitantes.
Exigir a elaboração de planos de igualdade racial com metas quantitativas e orçamentárias.
Exigir a imediata implantação do Estatuto da Igualdade Racial.
Exigir a inclusão do movimento negro como beneficiário de políticas de igualdade
racial.
Barack Obama e Joaquim Barbosa
Barack Obama e Joaquim Barbosa, Presidente dos EUA e Presidente do STF, respectivamente, são personagens relevantes para o movimento negro em 2012, pois representam a capacidade do negro quebrar barreiras, vencer o racismo e ocupar espaços de poder reservados para homens brancos representantes da classe dominante. Em 2012 estiveram no centro de acontecimentos que mobilizaram seus respectivos países.
Barack Obama, primeiro negro a presidir os EUA foi reeleito esse ano em disputa acirrada com o republicano Mitt Romney. Governará durante oito anos a nação mais poderosa do planeta, centro do capitalismo mundial e o mais forte e beligerante dos impérios. Barack Obama não só manterá intactos os interesses como aumentará, onde for possível, a nefasta presença imperialista nos países pobres e em desenvolvimento. Apesar da torcida e da expectativa positiva das populações africanas e negras da diáspora, não podemos ter nenhuma inocência, ser negro não torna Obama melhor ou pior política e ideologicamente em relação aos 43
presidentes anteriores dos EUA. Por isso o movimento negro deve continuar denunciando e combatendo os objetivos do imperialismo estadunidense.
No entanto, hoje, ele é a melhor alternativa para os EUA e para débil estabilidade da geopolítica internacional, os ultras conservadores republicanos embebidos de um moralismo puritano além de levar os EUA para padrões comparáveis a Idade Média em questões de direitos humanos e civis, pretendiam endurecer com o Irã, dar cabo ao modo deles na crise da Síria, fomentar mais discórdia na questão palestina, enquadrar a China e intervir na América Latina para conter a ascensão das forças de esquerda, a vitória republicana poderia levar o mundo imediatamente a uma guerra sem precedentes. A ascensão dos republicanos no poder seria um recado negativo para a paz no planeta, diante disso, Obama é uma espécie de redução de danos, um mal necessário que a comunidade internacional aguardava ansiosamente.
Joaquim Barbosa, grande estrela dos noticiários da grande mídia hegemônica brasileira em 2012, é um caso que guarda certa complexidade. Chegou ao STF pela iniciativa do Presidente Lula, atendendo reivindicação da luta antirracista e o bom senso do Presidente que indicou um negro pela primeira vez em 120 anos de existência da mais Alta Corte. Obviamente a população negra aplaudiu essa conquista e aplaudiu mais efusivamente quando Joaquim Barbosa assumiu em 22 de novembro de 2012 a Presidência do STF, pois um dos poderes que equilibra a República passou a ser comandado por um negro, fato inimaginável antes de Lula.
Para população negra, um negro ascender ao poder não é um fato corriqueiro, por isso, eventos como esse é especialmente valorizado. O negro, ao lado dos bancos e dos índios, é construtor de primeira ordem do Brasil, durante 388 anos foi mão de obra quase exclusiva, por isso inexistir negros em espaços como o STF depõe contra a nação, considero uma contundente denuncia da força do racismo no Brasil.
Aplaudir Joaquim Barbosa por ser o primeiro e único negro a assumir a Presidência do STF não é sinônimo de concordar com todos seus votos, por isso é fácil declarar apoio ao voto que Barbosa deu pela constitucionalidade do casamento homoafetivo, pela inconstitucionalidade da cláusula de barreira aos partidos políticos salvaguardando o pluralismo partidário e o direito do eleitor manter ou não a existência de um partido, voto favorável a cota racial e voto favorável a população indígena no caso das reservas Raposa e Terra do Sol, assim como criticar e denunciar a quebra de jurisprudência e o grave risco a democracia o voto proferido na ação penal 470 - conhecido graças a insistência da mídia como mensalão.
Durante sete anos os donos das grandes redes de comunicação massacraram a opinião pública com a tese da existência da compra de votos parlamentar para votar nas propostas de interesse do governo e necessidade de condenar o núcleo político do primeiro mandato do Presidente Lula.
Na verdade, as seis famílias proprietárias de toda a grande mídia nacional se transformaram na principal oposição ao governo federal, o que desejavam era macular os oito anos de governo democrático e popular para que enfraquecidas, as forças que apoiaram Lula e Dilma fossem derrotadas eleitoralmente. Daí a emergência da reforma dos meios de comunicação no Brasil, com vista a quebrar o monopólio e democratizar a difusão de informações.
Como classe dominante, os donos do poder midiático brasileiro almejam o retorno do neoliberalismo, da Alca, das privatizações, do sucateamento dos direitos trabalhistas, previdenciários e dos serviços públicos, da ausência do Estado no fomento do desenvolvimento (o Estado só para financiá-los). A luta contra o neoliberalismo está longe do fim, por isso temos que enxergar os processos políticos para além da aparência, para além da maquiagem, senão nos perdemos e entregamos as ovelhas aos lobos.
Considero que Joaquim Barbosa e a maioria dos ministros do STF julgaram os réus da ação penal 470 assediados e pressionados pela grande mídia hegemônica. Barbosa virou herói nacional para os reacionários da Veja, Folha de São Paulo, Globo, Estado de São Paulo todos fiéis colaboradores da ditadura militar, passam quilômetros da ética e da democracia, fecharam questão e militam contra cotas, quilombolas, sem terra, sindicatos, movimentos sociais, ou seja, contra todo avanço que beneficia o povo brasileiro. Engana-se quem pensa que Joaquim Barbosa defende a moralidade pública, nesse processo ele é uma peça da elite conservadora na luta de classes, o alvo é Lula e todas as conquistas do povo brasileiro.
Uma obra em execução
O próximo ano (2013) fecha uma década da ascensão das forças populares e progressistas à Presidência da República ao lado de Lula, continuado por Dilma, será momento fértil para avaliação, ajuste ou reiteração de rota, pactuação de novas metas e objetivos para continuar dando curso às mudanças almejadas pelo povo e confiada hoje a Presidenta Dilma Rousseff.
Nessa década o Brasil conquistou a Lei 10.639/03 que institui a obrigatoriedade do ensino da África e da Cultura Afrobrasileira nas escolas, a Secretaria Nacional de Políticas de Igualdade Racial – SEPPIR e uma rede composta por centenas de órgãos governamentais de igualdade racial nos âmbitos dos estados e municípios, cotas raciais nas universidades públicas, Estatuto da Igualdade Racial, pactuou a política de igualdade racial com a sociedade civil em duas conferências nacionais e garantiu a política no plano plurianual (PPA), inaugurou edital para produção cultural com foco no produtor negro, formou milhares de universitários negros pelas cotas e PROUNI, que comporão em muito breve a parcela média da sociedade brasileira.
Essas conquistas se somam a um universo de direitos obtidos no ordenamento jurídico nacional, as políticas públicas de igualdade racial em curso em todo país, conhecimentos científicos elaborados continuamente e um gigantesco acúmulo decorrente de séculos de existência do movimento negro, nas estruturas de combate ao racismo dos partidos, sindicatos e numa infinidade de instituições. Dito isso, é possível afirmar que Brasil detém o mais complexo sistema de combate ao racismo do mundo, mas, paradoxalmente, o impacto e as mudanças na qualidade de vida da população negra caminham aquém das necessidades da população negra.
Os negros no Brasil ainda são a parcela populacional que recebem as piores remunerações, ocupam os piores postos de trabalho, superlotam os cárceres, sobrevivem em habitações precárias, dentre outras desvantagens que impactam de maneira mais aguda na população negra, ou seja, o racismo ainda é um elemento fortemente presente na organização do tecido social brasileiro.
No ano que completa dez anos da nova abordagem do Estado brasileiro no combate ao racismo os governantes e a sociedade civil devem colocar parte de suas energias para aumentar a eficácia e efetividade das políticas e promover negros e negros nos espaços de poder. A III Conferência Nacional de Políticas de Igualdade Racial (CONAPIR) prevista para 2013 tem que buscar resposta que atende essa necessidade de completar a grande obra de construção de justiça e igualdade no Brasil.
Fonte:http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/questao-racial/afrobrasileiros-e-suas-lutas/16776-balanco-da-luta-do-movimento-negro-em-2012-e-perspectiva-para-2013-por-edson-franca
Heróis e heroínas negras que em 2012 passaram ao orun
Começo discorrer sobre os principais destaques político para luta racial em 2012 pela parte mais difícil e incomum para militância do movimento negro: a perda de valorosos personagens que deixaram importantes legados ao Brasil, ao dedicarem toda a vida na luta para superação do racismo. Com isso, me coloco entre aqueles que consideram que o principal patrimônio do movimento negro são seus quadros e toda a militância, depositários legítimos de quinhentos anos de acúmulos histórico, teórico e político decorrentes da experiência do contato do africano e do negro com a opressão e o racismo no Brasil.
Para o movimento negro o ano corrente foi muito difícil nesse aspecto, tivemos muitas perdas, expresso gratidão e homenageio a memória do Deputado Estadual José Cândido (PT/SP), Prof. Eduardo de Oliveira (CNAB), Wilson Brother (coordenação da UNEGRO/DF e fundador do bloco Pacotão), Sonia Leite (CONEN), Teresa Santos (fundadora do CECAN, principal entidade paulista na década de 70), Hamilton Vieira (jornalista e introdutor da pauta racial na imprensa baiana), Seu Teodoro (mestre do bumba meu boi do Maranhão), Mestre João Pequeno (ícone da capoeira, discípulo do Mestre Pastinha) e Mestre Paulo (Samba Autêntico e Projeto Rua do Samba Paulista), além de muitas Marias e Joãos que incorporaram abnegadamente a luta racial em suas vidas, mas não são conhecidos pelo grande público que compõe o movimento negro brasileiro. Para nós do movimento negro todos são heróis e heroínas imortalizados nas conquistas e nas expectativas de igualdade, paz, justiça e liberdade que o povo brasileiro carrega na mente e no coração.
Violência do governo Alckmin e o projeto de extermínio da população negra
O ano de 2012 será destacado negativamente pelo crescimento da violência, que sempre tem maior incidência sobre a juventude negra. O registro de 4.306 homicídios de janeiro a novembro de 2012, em São Paulo (Revista Exame on-line) é uma eloquente denúncia da incapacidade de Geraldo Alckmin governar o estado. Estamos diante de um índice de mortalidade violenta comparável a países conflagrados, somente muita irresponsabilidade governamental permite atingir tal patamar de violência.
Esse quadro remete o movimento negro à defesa do mais elementar dos direitos: a vida. Geraldo Alckmin compõe a intelligentsia que dá continuidade ao projeto da elite escravocrata que em meados do século XIX, advogando a tese que o desenvolvimento do Brasil em padrões
europeus estava definitivamente comprometido devido a existência do sangue africano em solo brasileiro, elabora um projeto de nação sem a presença negra, assim eliminariam o principal fator do subdesenvolvimento do país que nascia.
Para isso, concluiu que era necessário branquear a população brasileira. O extermínio físico compunha uma das formas para dar consequência prática ao projeto de branqueamento. Houve outras ações práticas, como subsídio a imigração em massa de europeus (desembarcaram no Brasil 3,9 milhões de europeus em 40 anos, segundo pesquisa de Cida Bento), incentivo a miscigenação na camada popular, violência sobre os protestos sociais (Canudos e a Revolta da Chibata são os exemplos mais contundente do tratamento do Estado aos movimentos sociais), proibição da entrada e exílio de negros e africanos (ainda existe a marca desse arbítrio na comunidade de descendentes de brasileiros em Benin).
O projeto de branqueamento e a prática de contenção física da população negra não ficaram localizados em finais do século XIX e nas três primeiras décadas do XX. A década de 90 do século passado foi notabilizada pela implantação do neoliberalismo e pela contundente retórica genocida das elites mundiais.
Os teóricos do neoliberalismo ainda não abandonaram a perversa convicção que a pobreza é injusta aos homens vocacionados ao sucesso, pois obriga o Estado a desperdiçar recursos humanos e econômicos com alimentação, moradia, saúde e educação, logo emperra a capacidade de desenvolvimento do país. Em seus cálculos grande parcela da população mundial empobrecida é inapta para ser incorporada no desenvolvimento moderno e oferece perigo para estabilidade do sistema, logo é descartável. Cabe aos Estados desenvolvidos, modernos e democráticos oferecer propostas que dê resolução ao problema.
A UNEGRO, no documento “Extermínio Programado da População Negra”, denunciou a pretensão imperialista contida no “Relatório Kinssiger” e a perversidade da elite brasileira exposta no documento da Escola Superior de Guerra (ESG) conhecido como “Estrutura do Poder Nacional para o Século XXI”. Ambos buscam, em última instância, dar respostas concretas ao maior impasse do neoliberalismo: o que fazer para conter o crescimento das populações que proliferavam nos bolsões de miséria em todo planeta, visto que serão fatores de instabilidade ao status quo.
Essa compreensão foi a base teórica para a arquitetura política e ideológica que nos anos 90 sustentava abertamente a violência da polícia, esterilização generalizada das mulheres negras, negação de políticas sociais básicas que incidem na longevidade das pessoas (trabalho e renda, saúde, educação, saneamento básico, previdência, etc.) e a existência de grupos de extermínios que dizimavam indiscriminadamente crianças negras, pobres e em situação de rua. Hoje vemos esses fenômenos se atualizando.
Sobre o recrudescimento da violência na atualidade, especialmente no estado de São Paulo, há quem diga que o motivo do caos é a perda de controle sobre a polícia e sobre o crime organizado. Considero essa uma afirmação insuficiente, pois ela aponta para uma provável acefalia política, transformando o principal responsável em incompetente e não em autor e executor de um projeto político.
Alckmin é o arquiteto do caos, ele conscientemente dá consequência prática ao sonho liberal descrito logo acima. Está desde o primeiro mandato de Mário Covas no poder, indicou e é patrão dos comandantes das polícias e dos secretários das áreas de segurança, estabeleceu as políticas de segurança pública, carcerária e de direitos humanos no estado. Toda a ação do estado de São Paulo só é possível com a assinatura do seu governador.
Ao mesmo tempo tudo indica que o governo negocia com o crime organizado, com vista a apresentar para sociedade um gráfico que aponte redução dos dados de rebelião nos presídios, homicídios, assaltos, sequestros, dentre outros dados de criminalidade. Em outras palavras, acredito que negocia com organizações criminosas com objetivo de maquiar a ação do estado no combate a criminalidade apresentando redução dos índices e não desarticulando o crime e oferecendo segurança de fato a população. Não imagino qual a contrapartida que oferece.
Em um país cuja democracia está mais consolidada, com maior presença dos trabalhadores e do povo nos espaços de poder, certamente um governante com esse grau de irresponsabilidade sofreria impeachment. Não vejo solução para conter o aumento da violência em São Paulo enquanto estivermos sendo governados por forças neoliberais e reacionárias, ainda assim, considero necessário apurar a responsabilidade do governador diante da selvageria e do medo que tomou conta do estado. Está aí um grande desafio aos movimentos sociais, especialmente ao movimento negro, desmascarar a política genocida e anti povo do governo do PSDB e construir as bases para sua superação no voto em 2014.
Aprovação das cotas consolida a principal conquista do movimento negro em 2012
Esse ano encerrou décadas de luta do movimento negro para incorporar a juventude negra nas principais universidades do país, há novos desafios, mas o direito a inclusão foi conquistado. A lei 12.711/2012, que prevê ingresso de negros, índios e pobres nas universidades públicas federais é constitucional segundo os 11 ministros que compõe a mais Alta Corte da República Federativa do Brasil, está aprovada pelo Congresso Nacional, sancionada pela Presidenta da República Dilma Rousseff e regulamentada pelo governo federal, já em pleno vigor. Até 2016 as universidades públicas federais estão obrigadas a reservar 50% das vagas que serão destinadas a incorporação de pobres e negros oriundos de escolas públicas.
O movimento negro a exemplo dos mais variados segmentos do movimento social não é um espaço monolítico, a luta contra o racismo comporta várias correntes políticas, ideologias, táticas, organizações, etc. No entanto, ao contrário de algumas mal formuladas e superficiais críticas, tem unidade, construiu grandes consensos, dentre eles a defesa das políticas de ações afirmativas e as cotas nas universidades públicas - como principal proposta de ação afirmativa.
Após vários anos de intensos debates, enfrentando ao mesmo tempo e sem trégua setores minoritários - contrários ou vacilantes - da esquerda; todas as correntes de pensamento liberal; partidos políticos, o maior e mais acirrado combatente contra a presença de negros na universidade foi o DEM e depois o PSDB; grande parcela da classe média, principal beneficiária do privilégio; a grande mídia militando, mobilizando, desinformando e pressionando as
autoridades a se posicionarem contra as cotas; personalidades respeitadas, tais como Caetano Veloso, Ferreira Gullar, João Ubaldo Ribeiro, Nelson Motta, Aguinaldo Silva, Gerald Thomas, dentre outros; intelectuais de toda ordem, inclusive alguns que estudaram a questão racial no Brasil e se mostraram inimigos da cota para inclusão de negros nas universidades, como Peter Fry, Manolo Florentino, Marcos Chor Maio, Ricardo Ventura, etc.; instituições universitárias como a USP, UNESP e UNICAMP.
A USP foi fundada para atender o sonho e os objetivos estratégicos da classe dominante paulista, que consistia em formar uma elite altamente capaz e dinâmica para recuperar a hegemonia de São Paulo no país, agora com foco no campo econômico e político. Após as derrotas de 1930 e depois em 1932 pelas armas, sabiam que somente a ciência abriria condições para o estado novamente obter a supremacia perdida. Hoje o objetivo é de preservar o peso de São Paulo no campo econômico e político, por isso a USP resiste com vigor e tem se recusado debater propostas que levem a qualquer processo de democratização do acesso de pobres e principalmente negros em seu interior.
Apesar da resistência o movimento negro paulista não tem dado trégua, ciente de que São Paulo não pode continuar negando as cotas sob pena de comprometer sua reeleição, Geraldo Alckmin pressionou os reitores das universidades públicas paulistas para apresentar uma proposta de inclusão de negros e pobres na universidade. Ainda que tenha controvérsia na proposta oficialmente apresentada pelo governador, podemos dizer que a elite bandeirante e os dirigentes uspianos não estão felizes. São todos contra as cotas sociais ou raciais, as cotas ferem princípios e objetivos da classe dominante paulista.
Importantes destaques devem ser registrados nessa longa e árdua batalha, primeiro ficou patente que quando o movimento negro sai unificado em defesa de uma proposta ele mobiliza o Brasil. Por isso, precisamos ser mais ousados na busca das mudanças, sabemos que é possível unificar a população negra para corrigir a subrepresenação de negros nos espaços de poder, é inaceitável que os negros representantes de 50,6% da população brasileira estejam alijados dos espaços que definem o destino do país.
Segundo, consolida a convicção que as forças contrárias ao racismo - composta de todas as raças, cores e origens nacionais - são majoritárias no país. Há caminhos para construção de uma nação próspera, justa, solidária, com forte unidade popular.
O povo brasileiro optou em ouvir o movimento negro e os defensores das cotas raciais, apesar da retórica do medo elaborada pelos intelectuais anticotistas e de toda manipulação da grande mídia na hora de informar, provamos que os grandes órgãos de comunicação são poderosos, mas não são infalíveis.
Terceiro é constatar que forças de esquerda, centro, direita e seus respectivos polos, em várias ocasiões foram vozes uníssonas contra as cotas, uma coincidência possível apenas na questão racial. Sei que é uma afirmação incômoda, mas não podemos ignorar fatos. Temos que verificar com maior profundidade esse fenômeno e tirar lições para os enfrentamentos necessários para vitória total contra o racismo.
Como Nelson Mandela falou: “ao lado da vitória vem a responsabilidade”, não será diferente para o movimento negro com a conquista das cotas. Segundo cálculos da Folha de São Paulo (23/12/2012), das 224 mil vagas nas universidades públicas federais 42 mil serão reservadas para negros e pobres oriundos das escolas públicas. Isso mudará definitivamente o perfil social e racial das universidades, incidirá nas linhas de pesquisas e extensões, pois novos valores, novas necessidades e inquietações serão munidas de conhecimentos até então inacessível.
O primeiro desafio é exigir condições (tutoria) para que os cotistas permaneçam nos cursos até se formarem, isso significa reforço para elevar o nível dos cotistas, garantir ajuda de custo para materiais didáticos, alimentação, transporte, acesso a cultura, ao lazer e moradia quando for o caso.
Segundo desafio é garantir que os milhares de negros e negras que estão se formando e se formarão em breve sejam incorporados com dignidade no mercado de trabalho e deem contrapartidas sociais aos esforços coletivos que garantiram a abertura das universidades públicas e privadas (através do PROUNI), até então negadas para negros e pobres. Será uma forma de universalizar um bem que pertence a toda população negra e pobre do país, que sempre apoiaram as ações afirmativas.
Num primeiro momento, parcela desses estudantes provavelmente absorverão os valores elitistas predominantes nas universidades, haverá pressão da casta intelectual, que combateu as cotas, e se encontra encastelada nas academias. Não descarto a possibilidade da maioria dos cotistas serem ganhos pelo pensamento conservador que domina as instituições universitárias, a classe dominante brasileira sempre inverte o jogo, resistem aos avanços, quando perdem se alinham e dominam o processo a seu modo.
O Brasil está mudando, verificamos a emersão de uma nova classe média, composta por caras e cores que até então não vislumbravam possibilidades de ascensão. Esses jovens virão em busca de oportunidade e sucesso, muitos desconhecendo toda a luta do movimento negro para incorporá-los na educação superior, depositando a razão de sua formação universitária exclusivamente nos méritos individuais. Por isso, torna-se imperativo o movimento negro elaborar formas de se aproximar da juventude universitária e cotista, assim será possível atuar para formarmos consciências críticas capazes de devolver à coletividade as vitórias alcançadas na luta comum.
Vitória eleitoral do campo progressista
O resultado da eleição para prefeitos e vereadores em 2012 foi positivo para os movimentos sociais, a base aliada do governo Dilma governará a partir de 01 de janeiro do próximo ano 75% dos municípios brasileiros, sem sombra de dúvida essa nova rede de prefeitos e prefeitas é uma sólida base política para o pleito de 2014 - embora a transferência de votos não seja automática. Além das taxas recordes de popularidade, o resultado eleitoral assegura um prognóstico favorável ao campo político inaugurado por Lula, se não ocorrer nenhum fato muito grave e negativo, provavelmente terá mais seis anos para aprofundar as mudanças
iniciadas em 2003, as políticas de igualdade racial se beneficiarão da continuidade de Dilma por mais um mandato na Presidência da República.
A eleição em Salvador merece um destaque especial, não pela vitória do DEM, uma força reacionária que vem definhando em todo país, mas pela forte presença da questão racial no debate político eleitoral. Todos os institutos de pesquisas que analisaram as intenções de votos em Salvador indicavam vitória tranquila de ACM Neto (DEM/BA) no primeiro turno, após a denúncia, veiculada na TV pelos adversários, sobre posição do DEM contra as cotas raciais e contra os quilombolas, houve segundo turno e faltou muito pouco para ser derrotado. Se ACM Neto não convencesse os eleitores de Salvador que era pessoalmente favorável as políticas de igualdade racial, certamente perderia a eleição.
As chapas com candidatos a prefeitos e vices que disputaram eleição em Salvador tinha presença negra encabeçando ou como vice, de modo que além do debate sobre propostas para superação do racismo e promoção social da população negra soteropolitana, na prática estava em pauta a presença de negros e negras no poder. A Bahia inaugura um ciclo político virtuoso para luta contra o racismo ao exigir negros nas chapas majoritárias, lá não existirá mais o conhecido nós sem nós, a população negra está ciente de sua força, de sua capacidade de escolher representantes comprometidos com o antirracismo. Nenhum político se viabilizará na Bahia ignorando o peso do racismo sobre o negro, ou sem assegurar aos baianos que verdadeiramente está comprometido com esse tema. Ganha o Brasil quando a voz da metade da população ganha mais eco e se torna mais forte.
Outro destaque do processo eleitoral importante para a luta do movimento negro é a vitória de Fernando Haddad na cidade de São Paulo, maior metrópole da América do Sul e quinta maior do mundo. Esse resultado aprofunda a instabilidade do projeto de continuidade tucana no estado de São Paulo, acirra as brigas internas e agrava a irrevogável divisão do PSDB em todo país, além de reiterar a liderança de Lula. Esses fatores são suficientes para o júbilo de todos os movimentos sociais. No entanto tem mais, especialmente ao movimento negro, Haddad anunciou a implantação de uma secretaria municipal de igualdade racial (não foi ainda anunciado o nome do órgão) e anunciou, também, o titular da pasta, um promissor político jovem e negro: Netinho de Paula, vereador reeleito pelo povo paulistano.
O Brasil registra marcos importante na institucionalidade de órgãos de governo para questão racial, com enfoque na população negra. A experiência inaugural no país com o Conselho de Participação e Desenvolvimento da População Negra em 1984, em São Paulo e a Fundação Cultural Palmares quatro anos após, no âmbito do governo federal, em pleno Centenário da Abolição, superou definitivamente a completa omissão do Estado brasileiro em oferecer políticas públicas voltadas especificamente para população negra e quebra um dos sustentáculos do mito da democracia racial, que consistia na negação do Estado em intervir com políticas públicas num problema que até então não aceitava reconhecer sua existência: o racismo. A SEPPIR do governo Lula reiterou e fortaleceu o compromisso do Estado, elevando o patamar do enfrentamento dos desdobramentos do racismo, além de elaborar paradigmas e atualizar propostas ouvindo a sociedade civil através de conferências e conselhos de políticas públicas.
Chamo atenção do movimento negro a essa secretaria anunciada por Haddad, pois estabelecerá um novo paradigma na implantação de órgãos responsáveis pela política de igualdade racial. Segundo o prefeito eleito a secretaria fará a transversalidade e executará alguns programas para igualdade racial, para isso terá estrutura humana, técnica e institucional adequada a demanda, além de orçamento digno de uma secretaria executora de políticas públicas. Precisamos acompanhar essa experiência, o Brasil está cansado de órgãos de igualdade racial incapazes de cumprir seus objetivos porque não estão nos objetivos dos prefeitos e governadores.
Temos incidir nos planos de governos a partir de 2013, quanto maior é a presença de forças progressistas nas prefeituras, mais favorece conquistas objetivas para as reivindicações da sociedade. Há tarefas de grande importância ao avanço da luta do movimento negro decorrente da mudança de titulares dos executivos e legislativos municipais, que reitero nesse artigo, pois já disse imediatamente após a eleição passada no artigo “Tarefa do movimento negro após a eleição.
Exigir incorporação de negros e negras nos cargos comissionados, em todos os escalões.
Exigir a instituição de organismos de promoção da igualdade racial (secretarias, coordenadorias ou assessorias).
Estimular a criação de frentes parlamentares de igualdade racial principalmente nas Câmaras de Vereadores de todos os municípios a partir de 200 mil habitantes.
Criar conselhos de igualdade racial em todos os municípios, principalmente naqueles a partir de 200 mil habitantes.
Exigir a elaboração de planos de igualdade racial com metas quantitativas e orçamentárias.
Exigir a imediata implantação do Estatuto da Igualdade Racial.
Exigir a inclusão do movimento negro como beneficiário de políticas de igualdade
racial.
Barack Obama e Joaquim Barbosa
Barack Obama e Joaquim Barbosa, Presidente dos EUA e Presidente do STF, respectivamente, são personagens relevantes para o movimento negro em 2012, pois representam a capacidade do negro quebrar barreiras, vencer o racismo e ocupar espaços de poder reservados para homens brancos representantes da classe dominante. Em 2012 estiveram no centro de acontecimentos que mobilizaram seus respectivos países.
Barack Obama, primeiro negro a presidir os EUA foi reeleito esse ano em disputa acirrada com o republicano Mitt Romney. Governará durante oito anos a nação mais poderosa do planeta, centro do capitalismo mundial e o mais forte e beligerante dos impérios. Barack Obama não só manterá intactos os interesses como aumentará, onde for possível, a nefasta presença imperialista nos países pobres e em desenvolvimento. Apesar da torcida e da expectativa positiva das populações africanas e negras da diáspora, não podemos ter nenhuma inocência, ser negro não torna Obama melhor ou pior política e ideologicamente em relação aos 43
presidentes anteriores dos EUA. Por isso o movimento negro deve continuar denunciando e combatendo os objetivos do imperialismo estadunidense.
No entanto, hoje, ele é a melhor alternativa para os EUA e para débil estabilidade da geopolítica internacional, os ultras conservadores republicanos embebidos de um moralismo puritano além de levar os EUA para padrões comparáveis a Idade Média em questões de direitos humanos e civis, pretendiam endurecer com o Irã, dar cabo ao modo deles na crise da Síria, fomentar mais discórdia na questão palestina, enquadrar a China e intervir na América Latina para conter a ascensão das forças de esquerda, a vitória republicana poderia levar o mundo imediatamente a uma guerra sem precedentes. A ascensão dos republicanos no poder seria um recado negativo para a paz no planeta, diante disso, Obama é uma espécie de redução de danos, um mal necessário que a comunidade internacional aguardava ansiosamente.
Joaquim Barbosa, grande estrela dos noticiários da grande mídia hegemônica brasileira em 2012, é um caso que guarda certa complexidade. Chegou ao STF pela iniciativa do Presidente Lula, atendendo reivindicação da luta antirracista e o bom senso do Presidente que indicou um negro pela primeira vez em 120 anos de existência da mais Alta Corte. Obviamente a população negra aplaudiu essa conquista e aplaudiu mais efusivamente quando Joaquim Barbosa assumiu em 22 de novembro de 2012 a Presidência do STF, pois um dos poderes que equilibra a República passou a ser comandado por um negro, fato inimaginável antes de Lula.
Para população negra, um negro ascender ao poder não é um fato corriqueiro, por isso, eventos como esse é especialmente valorizado. O negro, ao lado dos bancos e dos índios, é construtor de primeira ordem do Brasil, durante 388 anos foi mão de obra quase exclusiva, por isso inexistir negros em espaços como o STF depõe contra a nação, considero uma contundente denuncia da força do racismo no Brasil.
Aplaudir Joaquim Barbosa por ser o primeiro e único negro a assumir a Presidência do STF não é sinônimo de concordar com todos seus votos, por isso é fácil declarar apoio ao voto que Barbosa deu pela constitucionalidade do casamento homoafetivo, pela inconstitucionalidade da cláusula de barreira aos partidos políticos salvaguardando o pluralismo partidário e o direito do eleitor manter ou não a existência de um partido, voto favorável a cota racial e voto favorável a população indígena no caso das reservas Raposa e Terra do Sol, assim como criticar e denunciar a quebra de jurisprudência e o grave risco a democracia o voto proferido na ação penal 470 - conhecido graças a insistência da mídia como mensalão.
Durante sete anos os donos das grandes redes de comunicação massacraram a opinião pública com a tese da existência da compra de votos parlamentar para votar nas propostas de interesse do governo e necessidade de condenar o núcleo político do primeiro mandato do Presidente Lula.
Na verdade, as seis famílias proprietárias de toda a grande mídia nacional se transformaram na principal oposição ao governo federal, o que desejavam era macular os oito anos de governo democrático e popular para que enfraquecidas, as forças que apoiaram Lula e Dilma fossem derrotadas eleitoralmente. Daí a emergência da reforma dos meios de comunicação no Brasil, com vista a quebrar o monopólio e democratizar a difusão de informações.
Como classe dominante, os donos do poder midiático brasileiro almejam o retorno do neoliberalismo, da Alca, das privatizações, do sucateamento dos direitos trabalhistas, previdenciários e dos serviços públicos, da ausência do Estado no fomento do desenvolvimento (o Estado só para financiá-los). A luta contra o neoliberalismo está longe do fim, por isso temos que enxergar os processos políticos para além da aparência, para além da maquiagem, senão nos perdemos e entregamos as ovelhas aos lobos.
Considero que Joaquim Barbosa e a maioria dos ministros do STF julgaram os réus da ação penal 470 assediados e pressionados pela grande mídia hegemônica. Barbosa virou herói nacional para os reacionários da Veja, Folha de São Paulo, Globo, Estado de São Paulo todos fiéis colaboradores da ditadura militar, passam quilômetros da ética e da democracia, fecharam questão e militam contra cotas, quilombolas, sem terra, sindicatos, movimentos sociais, ou seja, contra todo avanço que beneficia o povo brasileiro. Engana-se quem pensa que Joaquim Barbosa defende a moralidade pública, nesse processo ele é uma peça da elite conservadora na luta de classes, o alvo é Lula e todas as conquistas do povo brasileiro.
Uma obra em execução
O próximo ano (2013) fecha uma década da ascensão das forças populares e progressistas à Presidência da República ao lado de Lula, continuado por Dilma, será momento fértil para avaliação, ajuste ou reiteração de rota, pactuação de novas metas e objetivos para continuar dando curso às mudanças almejadas pelo povo e confiada hoje a Presidenta Dilma Rousseff.
Nessa década o Brasil conquistou a Lei 10.639/03 que institui a obrigatoriedade do ensino da África e da Cultura Afrobrasileira nas escolas, a Secretaria Nacional de Políticas de Igualdade Racial – SEPPIR e uma rede composta por centenas de órgãos governamentais de igualdade racial nos âmbitos dos estados e municípios, cotas raciais nas universidades públicas, Estatuto da Igualdade Racial, pactuou a política de igualdade racial com a sociedade civil em duas conferências nacionais e garantiu a política no plano plurianual (PPA), inaugurou edital para produção cultural com foco no produtor negro, formou milhares de universitários negros pelas cotas e PROUNI, que comporão em muito breve a parcela média da sociedade brasileira.
Essas conquistas se somam a um universo de direitos obtidos no ordenamento jurídico nacional, as políticas públicas de igualdade racial em curso em todo país, conhecimentos científicos elaborados continuamente e um gigantesco acúmulo decorrente de séculos de existência do movimento negro, nas estruturas de combate ao racismo dos partidos, sindicatos e numa infinidade de instituições. Dito isso, é possível afirmar que Brasil detém o mais complexo sistema de combate ao racismo do mundo, mas, paradoxalmente, o impacto e as mudanças na qualidade de vida da população negra caminham aquém das necessidades da população negra.
Os negros no Brasil ainda são a parcela populacional que recebem as piores remunerações, ocupam os piores postos de trabalho, superlotam os cárceres, sobrevivem em habitações precárias, dentre outras desvantagens que impactam de maneira mais aguda na população negra, ou seja, o racismo ainda é um elemento fortemente presente na organização do tecido social brasileiro.
No ano que completa dez anos da nova abordagem do Estado brasileiro no combate ao racismo os governantes e a sociedade civil devem colocar parte de suas energias para aumentar a eficácia e efetividade das políticas e promover negros e negros nos espaços de poder. A III Conferência Nacional de Políticas de Igualdade Racial (CONAPIR) prevista para 2013 tem que buscar resposta que atende essa necessidade de completar a grande obra de construção de justiça e igualdade no Brasil.
Fonte:http://www.geledes.org.br/areas-de-atuacao/questao-racial/afrobrasileiros-e-suas-lutas/16776-balanco-da-luta-do-movimento-negro-em-2012-e-perspectiva-para-2013-por-edson-franca
Um adolescente de 15 anos foi apreendido, na tarde deste domingo (10), depois de arremessar aparelhos celulares pelo muro do Presídio Jacy de Assis, no bairro Dom Almir, em Uberlândia, no Triângulo Mineiro.
Fonte: O Tempo
De acordo com informações da Polícia Militar (PM), a direção da instituição acionou a polícia depois de perceber no pátio externo alguns aparelhos celulares, carregadores, cabos de alimentação, e até uma resistência de chuveiro. A PM cercou o local, deteve o suspeito e apreendeu os objetos lançados pelo muro.
Na casa dele, no bairro Jardim Sucupira, ainda foram apreendidos 700 gramas de cocaína, sacos plásticos para embalar a droga, uma balança de precisão, mais celulares, além de munições dos calibres 22 e 9 mm.
A Polícia Militar não soube informar se o menor tem parentes no presídio. O adolescente, acompanhado pela mãe, foi encaminhado à delegacia da cidade.
Fonte:http://blogdocorleone.blogspot.com.br/2013/03/um-adolescente-de-15-anos-foi.html
A Associação dos Renais
A Associação dos Renais realizará a partir do dia 21 de março o Projeto Vivência Renal. Informações 3212-0207. ATIVIDADES FISIOTERÁPICAS EM GRUPO/MUSICOTERAPIA E RELAXAMENTO/ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO/TRABALHOS MANUAIS.
domingo, 10 de março de 2013
O poder de quem não sabe que tem
Nestes tempos, em que tanta gente que não tem poder acredita e age como se tivesse, tem um outro contingente ainda mais numeroso que tem poder e não percebe. E o que é pior: muitas vezes desperdiça.
Antes de qualquer interpretação e até no sentido de tornar mais claro o comentário, é preciso separar o poder que está ligado ao ter, do que o que está ligado ao ser, ao fazer, ao interferir.
O poder do ter é aquele ligado à posse e que pode ser duradouro como a riqueza patrimonial, temporário como o cargo; circunstancial como a fama; oportunista como a proximidade. E por aí afora.
Com frequência, infelizmente crescente, esse tipo de poder é usado para benefício próprio. Não gera riqueza, porque não é usado para produzir o bem. Não conquista, nem seduz, só compra.
E qualquer pessoa um pouquinho esclarecida sabe muito bem que produto que se compra pelo preço tem um significado muito diferente daquele que se adquire pelo seu valor.
Outra característica típica dessa modalidade é a aparência de quem o utiliza, que se manifesta nos gestos, formas e na arrogância de seu comportamento.
E dá a ele uma dimensão bem maior do que seu real tamanho. É o poder dos poderosos, tão fácil de perceber e reconhecer. Por outro lado, existe um poder subestimado, quase sempre despercebido, que não está atrelado a títulos, funções, notoriedade ou patrimônio e que está ao alcance de toda pessoa: o poder de fazer o bem. De diferentes formas, em todos os ambientes. O poder que todo atendente tem de nos agradar simplesmente com um gesto de atenção.
Do motorista que, no tumulto do trânsito, ao invés de ser grosseiro e egoísta, se comporta de modo gentil, cedendo espaço e contribuindo para melhorar a situação e não para tumultuá-la ainda mais.
Do colega de trabalho que nos auxilia, ajuda, orienta quando possível e quando não dá, pelo menos não nos alfineta pelas costas nem age na surdina para nos prejudicar.
Das próprias autoridades que têm que cumprir as funções muitas vezes com medidas menos simpáticas, mas que além de normas, utilizam bom senso, sensibilidade e discernimento nas decisões. De reconhecer e respeitar atitudes bem intencionadas, que têm paciência para ouvir, para buscar entender a outra parte, antes de promulgar sentenças.
O poder que todos temos de ser gentil em qualquer lugar. De fazermos elogios sinceros, de compartilhar conhecimento, de dar atenção aos outros.
O poder de reconhecer o erro, de pedir perdão, de reparar equívocos e indelicadezas. O poder de não retribuir na mesma moeda ofensas e agressões. De não piorar situações que estejam complicadas. De não propagar nem ser agente do pessimismo, do negativismo.
O poder extraordinário de tratar a todos como gostaríamos de ser tratados. De ajudar e contribuir. De plantar para todos, não exclusivamente para colher para si e para os seus.
O poder que a pessoa tem de ser e agir como gente do bem.
Fonte:http://www.correiodeuberlandia.com.br/papogeraes/2013/03/10/o-poder-de-quem-nao-sabe-que-tem/
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Aquele que acredita que o interesse coletivo está acima do interesse individual , que acredita que tudo e possível desde que tenha fé em Deus e coragem para superar os desafios...
Vida difícil? Ajude um estranho .
Pode parecer ilógico -no mínimo pouco prioritário- ajudar um estranho quando as coisas parecem confusas na nossa vida. Mas eu venho aprendendo que este é um poderoso antídoto para os dias em que tudo parece fora do lugar.
Como assim, pergunta o meu leitor mais cético? E eu explico:
Há duas situações clássicas onde podemos auxiliar uma pessoa que não conhecemos. A primeira é através de doações e gestos similares de caridade. Estes atos são maravilhosos e muito recomendáveis, mas não é deles que quero falar hoje. Escolhi o segundo tipo: aquelas situações randômicas onde temos a oportunidade de fazer a diferença para uma pessoa desconhecida numa emergência qualquer. Na maioria das vezes, pessoas com quem esbarramos em locais públicos, envolvidas em situações que podem ir do estar atrapalhado até o precisar de mãos para apagar um incêndio.
Eu vejo pelo menos seis motivos para ajudar um estranho:
1) Divergir o olhar de nossos próprios problemas
Por um momento, por menor que seja, teremos a chance de esquecer nossas preocupações.
Dedicados a resolver o problema do outro (SEMPRE mais fácil do que os nossos), descansamos nossa mente. Ganhamos energia para o próximo round de nossa própria luta.
Esta pausa pode nos dar novo fôlego ou simplesmente ser um descanso momentâneo.
2) Olhar por um outro ângulo
Vez ou outra, teremos a oportunidade de relativizar nossos próprios problemas á luz do que encontramos nestes momento. Afinal, alguns de nossos problemas não são tão grandes assim...
Uma vez ajudei Teresa, a senhora que vende balas na porta da escola de meu filho. A situação dela era impossível de ser resolvida sozinha, pois precisava “estacionar” o carrinho que havia quebrado no meio de uma rua deserta. Jamais esquecerei o olhar desesperado, a preocupação com o patrimônio em risco, com o dia de by Savings Sidekick">trabalho desperdiçado, com as providências inevitáveis e caras. E jamais me esquecerei do olhar úmido e agradecido, apesar de eu jamais ter comprado nada dela. Nem antes nem depois.
Olhei com distanciamento o problema de Teresa. E fiquei grata por não ter que trabalhar na rua, por ter tantos recursos e by Savings Sidekick">oportunidades. E agradeci por estar lá, naquela hora, na rua de pouco movimento, e poder oferecer meus braços para ela.
3) Não há antes, nem depois ...
Na intricada teia de nossos by Savings Sidekick">relacionamentos, dívidas e depósitos se amontoam. Ajudar um conhecido muitas vezes cria vínculos ou situações complexas. Ás vezes, ele espera retribuir. Outras vezes, esperamos retribuição. Se temos ressentimentos com a pessoa, ajudá-la nem sempre deixa um gosto bom na boca. Se ela tem ressentimentos conosco, fica tudo muito ruim também.
Já com estranhos são simples. É ali, naquela hora. Depois acabou. E não há antes. Que alívio!
(mas não vamos deixar de ajudar os conhecidos dentro de nossas possibilidades, hein?)
4) A gratidão pelo inesperado é deliciosa
Quem se lembra de uma vez em que recebeu uma gentileza inesperada? Não é especial? E nem sempre estamos merecendo, mal-humorados por conta do revés em questão.
Ou quando ajudamos alguém e recebemos aquele olhar espantado e feliz?
Ontem mesmo, eu estava numa fila comum de banco. Um senhor bem velhinho estava atrás de mim. Na hora em que fui chamada, pedi que ele fosse primeiro. “Mas por que, minha filha?”. “Pelos seus cabelos brancos”, respondi. Ele, agradecido, me deu uma balinha de hortelã. Tudo muito singelo, muito fácil de fazer, mas o sentimento foi boooom.
5) Quase sempre, é fácil de fazer.
Uma vez eu fiquei envolvida por uma semana com uma mãe e um bebê que vieram para São Paulo para uma cirurgia e não tinha ninguém para esperar no aeroporto. Levei para um hotel barato, acompanhei por uma semana e tive medo de estar sendo usada, reforçada pelo ceticismo de muitas pessoas ao meu redor. No final, deu tudo certo e a história era verdadeira.
Mas na maioria dos casos, não é preciso tanto risco ou tanto tempo. Uma informação; um abaixar para pegar algo que caiu; uma dica sobre um produto no supermercado. Dar o braço para um cego (nunca pegue a mão dele, deixe que ele pegue o seu braço, aprendi com meu experiente marido). Facílimo, diria o Léo. E vamos combinar, fácil é tudo que precisamos quando o dia está difícil, certo?
6) Amor, meu grande amor
Finalmente, ajudar estranhos evoca o nosso melhor eu. É comum termos sentimentos de inadequação, baixa auto-estima e insatisfação conosco quando estamos sob tempo nublado. E ajudar o outro nos lembra que somos bons e capazes. Ajudar um estranho demonstra desapego, generosidade, empatia pelo próximo. E saber que somos tudo isto quando o coração está cinza... É para olhar com orgulho no espelho, não?
Portanto, se hoje não é o seu dia... Faça o dia de alguém. E se é um dia glorioso... Vai ficar melhor!
Fonte:http://www.vivermaissimples.com/2011/03/vida-dificil-ajude-um-estranho.html
Fonte:http://www.vivermaissimples.com/2011/03/vida-dificil-ajude-um-estranho.html
Karoline Toledo Pinto
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