
O reverendo, que militou ao lado de Martin Luther King na luta pelos direitos civis, participa de debate no Rio com Gilberto Gil
Por Leonardo Cazes
Cinquenta anos após o histórico discurso “Um sonho”, de Martin Luther King, nos degraus do Lincoln Memorial, em Washington, a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos continua no velho e em novos fronts: combate à pobreza, defesa do casamento gay e o fim do envolvimento americano em guerras pelo mundo estão na pauta do reverendo Jesse Jackson. Aos 72 anos, ele mantém o mesmo entusiasmo de quando abandonou o Seminário Teológico de Chicago para se juntar a King no Movimento pelos Direitos Civis e afirma, em entrevista ao GLOBO, que, apesar dos avanços, a desigualdade entre negros e brancos permanece forte no país. Jackson vai participar, hoje, às 18h, da conferência “A democratização e o desenvolvimento da África”, junto com Gilberto Gil, no festival Back2Black, na Cidade das Artes.
— Quando Martin Luther King fez o seu discurso, em 1953, o sonho de que falava era que a promessa, não cumprida até então, fosse honrada. Naquela época, a maioria dos afroamericanos não podiam votar nem utilizar serviços públicos. Nós tínhamos liberdade, mas não tínhamos igualdade de direitos. Éramos livres para sermos humilhados — diz Jackson. — A desigualdade no acesso ao emprego, ao dinheiro, ao sistema de saúde, à justiça e à moradia continua muito presente. Somos a maioria nas prisões, mas não nas nossas universidades.
A principal atividade, hoje, do reverendo é o comando da Rainbow PUSH Coalition, uma organização que mantém viva a luta pelos direitos civis. Recentemente, o grupo trabalhou fortemente pela reversão do resultado do julgamento do assassino de Trayvon Martin. Martin, um adolescente negro, foi morto pelo segurança George Zimmerman em um condomínio na Flórida, em fevereiro do ano passado. Em julho deste ano, Zimmerman foi inocentado das duas acusações de homicídio, com a justificativa de ter agido em legítima defesa, gerando grande comoção na comunidade negra.
Elogio a Obama
Jackson, que chegou a disputar, sem sucesso, as primárias do Partido Democrata em 1984 e 1988 para ter o direito de concorrer à presidência, é apoiador de primeira hora do presidente Barack Obama. Ferrenho defensor do Obamacare, a reforma da saúde feita pelo presidente que amplia cobertura para os mais pobres, ele critica duramente os republicanos, que paralisaram o país durante três semanas numa luta pela sua revogação, e faz uma avaliação positiva do mandato.
— Nos cinco anos em que ele está na Casa Branca, Obama enfrentou muitas resistências por parte dos republicanos. Então, ele está fazendo um bom trabalho frente a tamanha resistência.
O reverendo afirmou estar muito honrado de vir ao Brasil, “o país mais africano fora da África”. Sobre o debate com Gilberto Gil, ele disse que os Estados Unidos deveriam elaborar uma espécie de Plano Marshall para o continente africano. Jackson, entretanto, condenou práticas culturais tradicionais em alguns países que envolvem violências contra mulheres e crianças.
— É preciso respeitar as mulheres e as crianças. Não podemos discriminar nenhum ser humano em nome da religião.
Fonte:http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2013/11/16/jesse-jackson-desigualdade-racial-ainda-esta-muito-presente-nos-eua-515277.asp