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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
Experimento de cientista brasileiro cria comunicação entre cérebros de roedores
Informações motoras e táteis foram transferidas do cérebro de um roedor para o outro por meio de uma interface criada por pesquisadores da Universidade Duke, nos EUA, liderados pelo neurobiólogo brasileiro Miguel Nicolelis.
Para o experimento, foram usados pares de roedores, nos quais um era o codificador e o outro, o decodificador.
Em uma das etapas, o codificador deveria pressionar a alavanca certa para obter água, de acordo com o acionamento de uma luz de LED. Havia duas alavancas: quando a luz se acendesse acima de uma delas, a da esquerda ou a da direita, ele deveria acioná-la.
Durante a tarefa, os cientistas registravam a atividade elétrica das células de seu córtex motor por meio de microeletrodos implantados no cérebro do roedor codificador.
Essa informação foi transmitida ao córtex motor do decodificador por meio de pulsos elétrico inseridos no cérebro do animal. Segundo Nicolelis e colegas escrevem na "Scientific Reports", o animal decodificador conseguiu acertar qual era a alavanca certa em cerca de 70% das tentativas, lembrando que ele não teve a dica da luz dada ao primeiro roedor.
Quando o decodificador acertou, ele recebeu a recompensa e, ao mesmo tempo, foi enviado um feedback ao codificador, que recebeu de novo a gratificação. Com isso, é estabelecida uma colaboração entre os animais. "Essa foi a grande surpresa. Não sabíamos o que ia acontecer, já que isso nunca foi feito antes", afirmou Nicolelis à Folha, por telefone.
Em vídeo divulgado junto com o estudo, o neurocientista disse ainda que, quando havia uma falha na realização da tarefa e o codificador ficava sem a recompensa, ele realizava a tarefa de forma mais clara, "limpando" seu sinal cerebral, para receber a gratificação.
"Isso mesmo sem ele saber que, em outra caixa, havia outro animal realizando a tarefa."
Uma segunda etapa do experimento usou informações táteis: o roedor codificador tinha que perceber, com seus bigodes, qual era a abertura larga e qual era a estreita e indicar, virando o focinho para a esquerda ou direita, qual era qual. De novo, a informação foi transmitida em tempo real entre os roedores com sucesso. O decodificador, mesmo sem ter encostado nas aberturas, soube indicar em 65% das ocorrências, qual era a largura percebida pelo codificador.
Com o treinamento do uso da interface cérebro-cérebro, diz Nicolelis, o decodificador conseguiu criar uma representação dos bigodes do primeiro animal.
"Vimos que, quando os animais interagem, ocorrem modificações em ambos. Estamos começando a realizar esse trabalho em macacos, e os resultados se amplificam, dada a maior complexidade", disse Nicolelis à reportagem.
O trabalho com primatas deve ser apresentado ainda neste ano em um congresso científico.
Uma terceira parte do estudo com roedores demonstrou que é possível enviar essa informação a uma grande distância: um roedor no Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra, no Rio Grande do Norte, realizou a tarefa, captada por um segundo roedor em Duke, na Carolina do Norte, EUA.
Um laboratório foi preparado ao longo de dois anos para realizar o experimento, e a equipe brasileira recebeu treinamento específico. "Hoje, além de Duke, só há um outro local onde é possível reproduzir esse trabalho, em Natal."
Para o neurocientista, o trabalho é uma demonstração de que é possível criar um novo tipo de computação, no qual cérebros de diferentes animais podem colaborar em um só pensamento para resolver uma tarefa.
"Queremos estudar a possibilidade de um sistema de computação orgnânico, usando as características únicas aos cérebros de mamíferos que não podem ser reproduzidas por um computador. Ainda não sabemos qual é a capacidade disso, mas agora vamos medir objetivamente."
Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/1238282-experimento-de-cientista-brasileiro-cria-comunicacao-entre-cerebros-de-roedores.shtml
domingo, 24 de fevereiro de 2013
O que é voluntariado?
Ao analisar os motivos que mobilizam em direção ao trabalho voluntário, (descritos com maiores detalhes a seguir), descobrem-se, entre outros, dois componentes fundamentais: o de cunho pessoal, a doação de tempo e esforço como resposta a uma inquietação interior que é levada à prática, e o social, a tomada de consciência dos problemas ao se enfrentar com a realidade, o que leva à luta por um ideal ou ao comprometimento com uma causa.
Altruísmo e solidariedade são valores morais socialmente constituídos vistos como virtude do indivíduo. Do ponto de vista religioso acredita-se que a prática do bem salva a alma; numa perspectiva social e política, pressupõe-se que a prática de tais valores zelará pela manutenção da ordem social e pelo progresso do homem. A caridade (forte herança cultural e religiosa), reforçada pelo ideal, as crenças, os sistemas de valores, e o compromisso com determinadas causas são componentes vitais do engajamento.
Não se deve esquecer, contudo, o potencial transformador que essas atitudes representam para o crescimento interior do próprio indivíduo.
Segundo definição das Nações Unidas, "o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos..."
Em recente estudo realizado na Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, definiu-se o voluntário como ator social e agente de transformação, que presta serviços não remunerados em benefício da comunidade; doando seu tempo e conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário, atendendo tanto às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como às suas próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político, emocional.
Quando nos referimos ao voluntário contemporâneo, engajado, participante e consciente, diferenciamos também o seu grau de comprometimento: ações mais permanentes, que implicam em maiores compromissos, requerem um determinado tipo de voluntário, e podem levá-lo inclusive a uma "profissionalização voluntária"; existem também ações pontuais, esporádicas, que mobilizam outro perfil de indivíduos.
Ao analisar os motivos que mobilizam em direção ao trabalho voluntário, (descritos com maiores detalhes a seguir), descobrem-se, entre outros, dois componentes fundamentais: o de cunho pessoal, a doação de tempo e esforço como resposta a uma inquietação interior que é levada à prática, e o social, a tomada de consciência dos problemas ao se enfrentar com a realidade, o que leva à luta por um ideal ou ao comprometimento com uma causa.
Altruísmo e solidariedade são valores morais socialmente constituídos vistos como virtude do indivíduo. Do ponto de vista religioso acredita-se que a prática do bem salva a alma; numa perspectiva social e política, pressupõe-se que a prática de tais valores zelará pela manutenção da ordem social e pelo progresso do homem. A caridade (forte herança cultural e religiosa), reforçada pelo ideal, as crenças, os sistemas de valores, e o compromisso com determinadas causas são componentes vitais do engajamento. Não se deve esquecer, contudo, o potencial transformador que essas atitudes representam para o crescimento interior do próprio indivíduo.
Fonte: http://www.voluntarios.com.br/oque_e_voluntariado.htm
Dia Mundial do Rim chama atenção para doença crônica
O Dia Mundial do Rim é comemorado nesta quinta-feira (8) para chamar a atenção da população sobre a doença renal crônica. De acordo com a Sociedade Brasileira de Nefrologia, a enfermidade será a epidemia do século XXI. Em Minas Gerais, existem mais de dez mil pessoas em tratamento, segundo a Secretaria de Estado da Saúde.
O diretor da Sociedade Mineira de Nefrologia, José Augusto Meneses, explicou que a doença crônica renal faz os órgãos pararem de funcionar, mas que é silenciosa nos estágios iniciais. Pessoas que têm pressão arterial alta, diabetes, sobrepeso, que são sedentárias e tabagistas têm maiores fatores de risco e devem realizar exames.
Segundo Meneses, a realização de exames como o de urina rotina e o de medição do nível de creatinina no sangue são importantes para constatação da doença. Ele conta que mudanças no estilo de vida como uma alimentação saudável, redução de sal nos alimentos são medidas simples mais importantes para evitar que o problema desenvolva.
Nesta quinta-feira (8), estão sendo feitas em Minas atividades em praças públicas e centros de nefrologia para chamar a atenção da população. Em Belo Horizonte, na Praça da Estação, estudantes de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estarão alertando os belo-horizontinos.
Fonte:http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2012/03/dia-mundial-do-rim-chama-atencao-para-doenca-cronica.html
Numero de negros no Congresso Nacional não é proporcional à população
No Brasil 50% da população é negra e parda, mas no Congresso não soma 10% dos parlamentares
A proporção de parlamentares negros no Congresso Nacional historicamente não espelha a realidade da população brasileira
Enquanto no Brasil a proporção de negros na população ultrapassa os 50%, entre pretos e pardos, na Câmara dos Deputados a proporção fica em 8,9%, com 46 dos 513 representantes do povo. Apesar de ruim, o quadro melhorou nas últimas décadas.
De acordo com o primeiro Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil, publicado em 2008, na legislatura de 1983 a 1987 havia apenas quatro deputados negros. O número passou para 10 de 1987 a 1991, para 16 entre 1991e 1995 e caiu para 15 entre 1995 e 1998. O levantamento feito com base nos empossados em janeiro de 2007 mostra 11 deputados pretos, dos quais uma mulher, e 35 pardos, com duas mulheres. A publicação ressalta que 8,9% dos deputados eram negros, quando a proporção na população em 2006 era 49,5%.
No Senado, de 1987 a 1994 o único representante negro foi Nelson Carneiro. De 1994 a 1998 assumiu o mandato Abdias Nascimento e, de 1995 a 2002, a casa contou com Benedita da Silva e Marina Silva, as primeiras senadoras afrodescendentes do Brasil. Em 2007, haviam quatro senadores pardos e um preto. Na legislatura atual, entre os 81 senadores, o único que se autodeclara negro é Paulo Paim.
Um dos organizadores do relatório, o coordenador do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Sociais (Laeser) do Instituto de Economia (IE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcelo Paixão, explica que a análise apresentada no relatório foi feita com base em registro fotográfico, mas que não houve qualquer contestação ao método ou ao resultado.
“Não há contestação ao fato de que 92% do Congresso Nacional são formados por pessoas de pele clara, isso é uma coisa óbvia, você olha do alto do plenário do Congresso e vê os que estão lá presentes”. De acordo com ele, esse levantamento não foi feito na publicação seguinte, lançada em 2011, mas a realidade não mudou muito nesse período.
“Talvez não me surpreenderia se a realidade mostrada em 2008 tenha ficado ainda pior. A gente está começando a ter uma carência no Brasil de personalidades negras com capacidade efetiva de se eleger, de terem mais espaço na cena pública, com maior visibilidade. Nomes como Paim, Vicentinho, Benedita, todos recuaram muito. Veio a figura do Joaquim Barbosa, mas em outro eixo, uma outra forma, não dá para comparar muito o contexto. Então, a realidade descrita ali [no relatório] continua válida”.
Deputada benedita da Silva (PT-RJ): a luta da população negra do Brasil para ser reconhecida ainda está longe de ser vencida (Foto:Ag.Câmara)
De acordo com a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), atualmente há 30 negros na Câmara. Para ela, o problema atual da baixa representação vem de um processo histórico que começou com a escravidão.
“Mas isso não é uma coisa que a gente possa construir facilmente. Tem todo um processo que nós entendemos como sendo fatores que implicaram a pouca presença da comunidade negra, principalmente nesses espaços políticos, que são espaços de decisões e, sendo [assim], não são espaços caracterizados para negros ou afrodescendentes”.
Ela lembra das lutas desde Zumbi dos Palmares, a Revolta da Chibata, a dos Alfaiates e movimentos abolicionistas que levaram, pouco a pouco, à conquista de espaço.
“Hoje, na República, por exemplo, nós vamos encontrar o negro não só lutando por sua cultura, por sua identidade, mas por um espaço mais de poder, mais de decisão. E é evidente que essa construção está sendo feita. Hoje você tem, são poucos, mas você tem alguns negros que conseguiram superar essas fases e já estão aí nesses espaços construindo possibilidades e pautando esse caminho”.
Para a secretária de políticas de ações afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Ângela Nascimento, o problema da representatividade é ainda mais grave entre as mulheres. Ela acha que são necessárias ações afirmativas para corrigir as desigualdades.
“A gente compreende que, diante da participação da população negra, do significado da população negra na história deste país, é necessário que haja medidas que corrijam a sub-representação das mulheres negras nos cargos políticos. É fundamental que a gente atue para que elas tenham uma participação capaz de reverter esse quadro de desigualdade”.
Segundo levantamento do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), as mulheres pretas, pardas e indígenas são a maioria entre os 5,3 milhões de jovens de 18 a 25 anos que não trabalham nem estudam no país. Elas somam 2,2 milhões, correspondente a 41,5% desse grupo. Do total de jovens brasileiros nessa faixa etária (27,3 milhões), as negras e indígenas representam 8%, enquanto as brancas na mesma situação chegam a 5% (1,3 milhão).
Debate sobre os direitos da população negra proposto pela ONU coincide com os 10 anos de criação da Seppir
Reconhecimento raro: “Troféu Raça Negra”, que tem por objetivo premiar aqueles que contribuíram e ajudaram a enaltecer a cultura negra em várias atividades em 2012 premiou o ator infantil Jean Paulo Campos, a atriz Cacau Protásio, e o gari e passista de samba Renato Sorriso.
Akemi Nitahara
Agência Brasileira
A Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, no dia 13 de dezembro, resolução propondo o período de 2013 a 2022 como a Década do Afrodescendente. O documento ainda precisa ser ratificado pela Assembleia Geral das Nações Unidas para a campanha ser proclamada oficialmente, mas a ideia é aprofundar o debate sobre os direitos da população negra e contra o racismo e a discriminação racial.
A discussão vem no momento em que o Brasil comemora os dez anos da criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Segundo a secretária de políticas de ações afirmativas do órgão, Ângela Nascimento, nesse período foram implantadas ações de política de igualdade racial nos estados e municípios, mas a participação política dos negros ainda precisa ser impulsionada.
“A gente está trabalhando um conjunto de propostas dentro do programa de ações afirmativas, a ser lançado; Embora o programa não esteja focado em participação política, nós queremos reforçar a importância das ações afirmativas para impulsionar o aumento dessa participação política dos homens e mulheres negras”.
O coordenador do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Sociais (Laeser) do Instituto de Economia (IE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcelo Paixão, lembra que, apesar participar intensamente nos movimentos sociais, a população negra não consegue ter representação eleita.
“É muito difícil para o movimento popular se representar no parlamento porque você tem que ampliar a zona de alcance de um candidato para além daquele público específico. Você tem que atingir um público que tem outro porte de preocupações. Então o fato é que o movimento negro se fortaleceu, mas a representação parlamentar, não”.
De acordo com Paixão, um negro que se candidata enfrenta o mesmo problema que qualquer negro ou negra que procura uma profissão de maior destaque e remuneração na sociedade, posições mais facilmente aceitas quando ocupadas por brancos.
“Acho que a importância da gente ter na vida política a representação proporcional à própria população decorre da importância que temos de imaginar que todas as pessoas que fazem parte de um país têm contribuições a dar”.
Para o coordenador, uma barreira para o acesso a um sistema de representação por conta de alguma característica como cor da pela, sexo, sotaque, ou o que for, significa que se pode estar descartando pessoas boas no que fazem e isso acaba sendo uma perda para o país como um todo.
Paixão acredita que uma solução para o problema pode vir com a reforma política. A assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) Eliana Graça, defende a inclusão de cotas raciais nas candidaturas, como já ocorre com a participação feminina.
“Nós temos uma proposta de reforma política que tem uma série de princípios. A gente defende aquela lista partidária pré-ordenada. No caso são as eleições proporcionais, o partido teria que definir a lista com alternância de sexo e o critério de composição da lista teria que observar também o critério étnico-racial de acordo com a expressividade daquela população naquela região, naquele estado”.
A deputada federal Benedita da Silva também defende que as cotas raciais nas candidaturas entrem na reforma política. Para ela, a representação deve ser proporcional à população.
“Nós somos a população majoritária. No processo democrático e dentro da pluralidade, é evidente que ter negros em todos os espaços seria uma coisa que deveríamos encarar como natural, praticamente uma coisa automática, [mas não é assim]. Essa é a primeira importância: direitos iguais com pessoas diferentes”.
A reforma política envolve uma série de projetos de lei em tramitação na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Entre os pontos em discussão estão a mudança do dia da posse de presidente, governadores e prefeitos, que atualmente é no dia 1º de janeiro do ano seguinte à eleição, e a unificação das eleições municipais com a federal e as estaduais. Dessa forma, os brasileiros iriam às urnas a cada quatro anos, e não de dois em dois, como é hoje.
Ausência de negros nas esferas decisórias leva à falta de políticas públicas específicas
Ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF com a presidenta Dilma Rousseff: excessões como esta estimulam negros a seguirem na luta por espaços nas esferas mais altas do poder público e político (Foto:Carlos Humberto-STF)
Akemi Nitahara
Agência Brasil
A baixa representatividade da população negra nas esferas de poder leva ao círculo vicioso da falta de acesso a esses postos e também à dificuldade de evolução na escala social.
Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marcelo Paixão, coordenador do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Sociais (Laeser) do Instituto de Economia (IE), quando uma pessoa de pele escura evolui na escala social, mais barreiras ele tem para desfrutar da condição conquistada.
Ele lembra que não se pode deixar de lado o fato de que as práticas sociais existentes, independentemente das condições econômicas, não favorecem a mobilidade social ascendente da população negra. “Porque no Brasil houve uma espécie de consenso de que as melhores posições deveriam ser ocupadas por um determinado grupo de cor e um determinado grupo de sexo. E que as outras funções sociais de menor destaque, as mais precárias, essas sim, poderiam ser exercidas por pessoas negras.
Na opinião do professor, não pode ser acaso que entre cantores e jogadores de futebol se encontrem tantos negros de destaque e em funções como na Confederação Nacional da Indústria e no Congresso Nacional não haja quase nenhum. “A abolição se deu há mais de 100 anos, já teria dado tempo de uma mudança ter se processado no país, se não existissem essas outras barreiras”.
A assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Eliana Graça, lembra que essa dificuldade de acesso dos negros à estrutura de poder leva à falta de discussão da pauta política racial.
“Os direitos e os interesses da população negra não conseguem chegar na estrutura de poder. A crença nossa é que você tendo essas pessoas ocupando espaços de poder, elas têm condições de [atender] as necessidades dessa população. Não tem um olhar com esse corte específico, quer dizer, a pauta política, de uma maneira geral, não atende a população negra, porque você não tem pessoas que defendam essa pauta”.
A deputada federal Benedita da Silva vai além. Para ela, a exclusão prejudica o desenvolvimento de todo o país.
“Como você perde um segmento que tem uma cultura forte, expressiva no campo da economia, da política, da ciência, da tecnologia. Os negros que vieram [para o país durante a escravidão] não eram analfabetos, como tentam passar historicamente. Tinham conhecimento [e havia entre eles alguns que eram] até reis e rainhas nos seus países respectivos, com sua língua, suas tradições”.
Para Benedita, a representação racial na política tem melhorado, mas ainda esta muito longe do que seria ideal. Ela acredita que o negro está brigando mais para conquistar mais espaço, mas ainda está muito aquém dessa representação.
“Você ainda pode dizer: fulano está ali, sicrano está lá. É uma conquista, não deixa de ser, mas você ainda pode [contar essas pessoas] nos dedos das mãos. O que nós buscamos é que daqui a um pouco mais seja uma coisa tão natural que não dê para [contar].”
Para a secretária de políticas de ações afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Ângela Nascimento, a dificuldade começa com a falta de acesso a diversos mecanismos que facilitam a entrada no poder político, como o ensino superior.
“Na vida da população negra o acesso ao ensino superior foi mais difícil. Essa realidade começa a ser mudada com a política de cotas. O acesso a determinadas oportunidades de cargos públicos também foi mais difícil, tem sido ainda mais difícil para a população negra”.
Ângela diz que a expectativa com a lei de cotas, que passa a ser agora para todas as universidades e institutos federais, aumente mais a participação da juventude que está acessando a universidade a outros cargos, “inclusive ao poder político”.
Segundo dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a proporção de pretos que frequentavam o ensino superior subiu de 2,3% no ano 2000 para 8,4% em 2010. Entre os pardos, o número passou de 2,2% para 6,7%.
Apenas um prefeito de capital eleito em 2012 é negro
João Alves Filho (DEM-SE), prefeito de Aracaju: unico negro a comandar uma prefeitura de capital no Brasil. Retrato explícito da desigualdade na ocupação dos espaços de poder herdado da formação escravagista da nação brasileira. (Foto:Assessoria)
Akemi Nitahara
Agência Brasileira
João Alves Filho, do Democratas, é o único negro entre os prefeitos de capital que tomaram posse no dia 1º de janeiro. Ele volta ao cargo em Aracaju (SE), depois de ter sido prefeito da cidade na década de 1970 e governador do estado em duas ocasiões.
O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marcelo Paixão, coordenador do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Sociais (Laeser) do Instituto de Economia (IE) lembra que, no Brasil, poucos negros exercem funções de destaque. Essa mudança de paradigma já ocorreu nos Estados Unidos, que reelegeram um negro para a presidência.
“O Barack Obama é produto de uma coisa que mudou nos Estados Unidos, que foi o acesso da população negra aos espaços sociais mais prestigiados. A política eu não diria que foi [a área] mais privilegiada dessa mudança não, mas [isso se observa] no acesso às universidades, a grandes empresas, na mídia, há uma visibilidade pública maior. E isso acaba favorecendo que as pessoas achem menos estranho ter pessoas diferentes, de pele escura, exercendo funções de comando”.
Paixão lembra que os Estados Unidos têm uma história que se inicia com a guerra civil e passa pelo período das leis segregacionistas, o que nunca ocorreu no Brasil. Mesmo assim, os norte-americanos produziram um presidente de evidente origem negra e o Brasil não.
Para a deputada federal Benedita da Silva, apesar de o Brasil ainda não eleger muitos negros, outras lutas e representações sociais importantes foram alcançadas nos últimos anos.
“Os Estados Unidos já elegeram e reelegeram um negro para a presidência. E o Brasil ainda não conseguiu, mas já elegeu um operário, elegeu uma mulher, penso que estamos avançando, porque são lutas muito importantes também, e a cada dia vemos esses movimentos crescer e serem representados. Creio que daqui a pouco a comunidade negra vai estar em outro patamar”
Para a assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) Eliana Graça, o problema é cultural e histórico, envolvendo a disputa do poder.
“Os negros não se candidatam não é por que não têm competência, não é bem isso. Primeiro que você tem uma cultura na sociedade que é machista e racista, né, então nós ainda não conseguimos derrubar esse racismo, nós temos uma história de submissão da raça negra, a questão da escravidão, que a gente não superou totalmente”.
Eliana considera que houve avanços, mas os próprios partidos políticos não oferecem oportunidades iguais de acesso às candidaturas. Além disso, ela destaca que os negros são a parcela da população que tem menos acesso à renda e a um bom trabalho.
“Com essas campanhas milionárias, como é que os negros concorrem, sem ter o financiamento público de campanha? Porque hoje se elege quem tem dinheiro”.
A secretária de políticas de ações afirmativas da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Ângela Nascimento, afirma que, se por um lado existe a ideia de que os negros são importantes na vida da sociedade brasileira, por outro eles não são vistos como tendo as mesmas condições dos brancos para ocupar os espaços de decisão.
“Se nós somos um Brasil que sempre foi colocado como miscigenado e se há uma participação bastante expressiva da população negra, porque há sub-representação da população negra nessas instâncias [de poder]?”
Para Ângela, se todos são iguais, os negros também podem dividir igualmente os espaços de poder. “Considerando que essas desigualdades estão concentradas na população negra, é fundamental que ela seja protagonista dessas mudanças”. De acordo com ela, o Brasil criou o imaginário perverso de que negros são ótimos para trabalhar e incapazes de comandar, algo que precisa ser transformado
Fonte:http://www.pautaextra.com.br/rec_tudo.php?id=326
Vício por comida
O que leva alguém a perder o controle do que come e engordar até correr o risco de morte? Compulsão. Assim como as demais dependências, a obesidade mórbida já é considerada por alguns especialistas uma consequência de um vício. Vício por comida.
Pensei nisso ao entrevistar Tânia Caetano e Marli dos Santos, ambas internadas em Suzano para emagrecer antes da cirurgia bariátrica no Hospital das Clínicas.
A história de ambas é impressionante e nos mostra o quanto estamos distantes de entender e tratar com eficiência as compulsões. Não estou convencida de que a cirurgia bariátrica, por si só, seja capaz de "curar" boa parte dos obesos mórbidos que se submetem a ela.
Karime Xavier/Folhapress
Tânia Brito Caetano, 29, e Marli Matos dos Santos, 53, internadas no Hospital de Retaguarda de Suzano
Em seu livro, "The Compass of Pleasure" (A bússola do prazer, sem edição no Brasil), o neurocientista David Linden, professor na Universidade Johns Hopkins, revela como agem os diferentes tipos de prazer nos circuitos cerebrais e como eles podem se tornar vícios.
Para ele, do ponto de vista fisiológico e químico, o prazer extremo pela comida pode, sim, virar dependência.
"Nós gostamos de pensar em "metabolismos" para explicar por que ganhamos peso. Na verdade, 90% das pessoas que estão severamente obesas o são porque comem demais, não porque têm desordens metabólicas. Isso acontece porque seus cérebros são diferentes."
As pessoas comem porque sentem prazer, e o prazer está associado à liberação de dopamina no cérebro. Esse neurotransmissor dispara quando ingerimos uma comida deliciosa, por exemplo. A dopamina integra o sistema de prazer e recompensa.
Assim como os demais vícios, as pessoas começam porque se sentem bem. Nas que têm predisposição para o vício, segundo Linden, vão precisando de mais e mais. Todo o desejo se transforma em necessidade. A dependência gera mudanças estruturais, químicas e elétricas dos neurônios.
A literatura médica mostra que hoje de 30 a 40% dos obesos têm distúrbios relacionados à compulsão alimentar. Na bíblia da psiquiatria, esse tipo de compulsão é definido por comer num intervalo curto de tempo uma quantidade de alimento muito maior do que outra pessoa poderia comer no mesmo período de tempo, e acompanhada por uma perda do controle do que e do quanto está comendo naquele momento.
Em geral, essa perda de controle vem acompanhada de tristeza ou de ansiedade. Os obesos com compulsão alimentar, quando comparados com obesos sem compulsão alimentar, consomem uma quantidade de calorias muito maior. Neles, a recidiva e o reganho de peso (mesmo depois da cirurgia bariátrica) são mais frequentes do que nos que obesos não compulsivos.
David Linden aposta que, em um futuro distante, teremos meios de ativar nossos mecanismos de prazer de forma não invasiva, talvez algo como um capacete de beisebol que, colocado na cabeça, ativará seus circuitos cerebrais do prazer na intensidade que você desejar.
Enquanto esse futuro incerto não chega, só nos resta torcer para que Tânia, Marli e tantos outros que enfrentam as mais diversas dependências consigam segurar a onda com os meios que dispomos (terapias, medicamentos e cirurgias). Só por hoje.
Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/colunas/claudiacollucci/1229684-vicio-por-comida.shtml
sábado, 23 de fevereiro de 2013
“Ordem é abordar indivíduos negros e pardos”
PM dá ordem para abordar ‘negros e pardos’ e diz que não houve racismo. A reportagem, então, pediu um ofício semelhante em que o alvo das abordagens fosse um grupo de jovens brancos, mas não obteve resposta
Desde o dia 21 de dezembro do ano passado, policiais militares do bairro Taquaral, um dos mais nobres de Campinas, cumprem a ordem de abordar “indivíduos em atitude suspeita, em especial os de cor parda e negra”. A orientação foi dada pelo oficial que chefia a companhia responsável pela região, mas o Comando da PM nega teor racista na determinação.
O documento assinado pelo capitão Ubiratan de Carvalho Góes Beneducci orienta a tropa a agir com rigor, caso se depare com jovens de 18 a 25 anos, que estejam em grupos de três a cinco pessoas e tenham a pele escura. Essas seriam as características de um suposto grupo que comete assaltos a residências no bairro.
A ordem do oficial foi motivada por uma carta de dois moradores. Um deles foi vítima de um roubo e descreveu os criminosos dessa maneira. Nenhum deles, entretanto, foi identificado pela Polícia Militar para que as abordagens fossem direcionadas nesse sentido.
Para o frei Galvão, da Educafro, a ordem de serviço dá a entender que, caso os policiais cruzem com um grupo de brancos, não há perigo. Na manhã de hoje, ele pretende enviar um pedido de explicações ao governador Geraldo Alckmin e ao secretário da Segurança Pública, Fernando Grella.
PM dá ordem para abordar ‘negros e pardos’. (Foto: Ofício Policial)
O DIÁRIO solicitou entrevista com o capitão Beneducci, sem sucesso.
Fonte:http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/01/ordem-e-abordar-individuos-negros-e-pardos.html
Jovens negros: o massacre das principais vítimas do Brasil
Com baixa expectativa de vida, jovens negros são as principais vítimas do Brasil
Em quase todos os países, assim como no Brasil, as principais causas de mortes entre as pessoas são doenças como as cardíacas, isquêmicas, acidentes vasculares cerebrais, câncer, diarreias e HIV. Mas outro fator vem ganhando as primeiras posições nas últimas décadas: o da violência. Segundo dados da Vigilância de Violências e Acidentes do Sistema Único de Saúde (Viva SUS 2008-2009), o homicídio tem ficado em terceiro lugar do ranking de causas de mortes dos brasileiros e, estratificando-se pela faixa etária de 1 a 39 anos, este número alcança a primeira posição.
Ratificando este índice, de acordo com a pesquisa Global Burden of Disease (GBD) – Carga Global de Doença, em português, publicada neste mês pela revista inglesa The Lancet e organizada pela Universidade de Harvard, dos Estados Unidos, o Imperial College, de Londres, e a Organização Mundial da Saúde (OMS), o fator violência é apontado como a principal causa de mortes entre jovens no Brasil e Paraguai. Entre os países da América Latina, a Argentina, Chile e Uruguai têm os assassinatos em 12ª colocação, enquanto na Europa Ocidental, que inclui países como Inglaterra, França e Espanha, as mortes violentas ficam em 50ª lugar.
Além de idade, as vítimas têm cor. Jovens negros são as principais vítimas do Brasil
Dados nacionais desenvolvidos pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Observatório de Favelas e o Laboratório de Análise da Violência (LAV-Uerj) e divulgados no mês de dezembro de 2012 destacam a parte deste número de homicídios que acontece ainda na adolescência. De acordo com o Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), criado em 2007 por estas instituições, o número de mortes entre jovens de 12 a 18 anos vem aumentando ao longo do tempo. Para cada mil pessoas nesta faixa etária, 2,98 é assassinada. O índice em 2009 era de 2,61. Este índice representa cerca de 5% dos casos de homicídio geral. Entre as principais causas de homicídio está o conflito com a polícia. E o estudo aponta uma expectativa não muito animadora: até 2016 um total de 36.735 adolescentes poderão ser vítimas de homicídio. Leia também
Para Luiz Eduardo Soares, cientista político e especialista em segurança pública, esse quadro já não é novidade para quem estuda o assunto, mas traz uma reflexão urgente. “Há 20 anos estamos vendo este cenário se repetir. E é isso que o torna cada vez mais grave porque sabemos quem são as vítimas, mas não somos capazes de ajudá-las, de reverter estas estatísticas”, lamenta.
Doriam Borges, do LAV-Uerj e um dos responsáveis pelo levantamento do IHA, explica que o índice de homicídios entre os jovens expressa a metamorfose que a violência vem sofrendo ao longo do tempo. “Nas décadas de 1960 e 1970, a violência era caracterizada por assalto a bancos e, embora houvesse homicídio e latrocínio, o número era menor. Atualmente, o tráfico de drogas nacional e internacional foi ganhando força no país, mas o que é mais relevante é o aumento do tráfico de armas e a facilidade de acesso a estes instrumentos”, explica.
Além de idade, as vítimas têm cor
Em artigo publicado pela Carta Capital em agosto do ano passado, ‘A violência contra jovens negros no Brasil’, o especialista em análise política pela Universidade de Brasília (UNB) e ex- consultor da Unesco e da Fundação Perseu Abramo para o tema das relações raciais e de juventude, Paulo Ramos, aponta que o diagnóstico apresentado ao Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) pelo Governo Federal, baseado no DataSUS/Ministério da Saúde e no Mapa da Violência 2011 , mostra que em 2010 morreram no Brasil 49.932 pessoas vítimas de homicídio, um total de 26,2 para cada 100 mil habitantes. Dessas vítimas, 70,6% eram negras. No mesmo ano, 26.854 jovens entre 15 e 29 sofreram homicídio, ou seja, 53,5% do total de vítimas em 2010. Destes 74,6% eram negros e 91,3% do sexo masculino. Paulo Ramos reforça ainda que faltam força e organização política para a mudança deste cenário. ‘Existe uma dissonância entre elementos fundamentais para o êxito de uma ação que vise combater os homicídios de jovens negros. Para estas políticas, quando há orçamento, não há reconhecimento de diferenças; quando o projeto aborda a juventude negra, não há recursos. E quando há reconhecimento com recursos, não existe foco nos jovens mais vulneráveis’, explica, no artigo.
Em entrevista à EPSJV/Fiocruz, o consultor relembrou que estes índices de violência aos jovens negros vêm sendo apontados há muito tempo pela sociedade civil e por organizações não-governamentais, mas pouco tem sido feito para mudar essa realidade. “Se pegarmos o histórico, em 1968 foi lançado um livro chamado ‘O Genocídio do Negro no Brasil’; uma década depois, em 1978, foi criado o Movimento Negro Unificado, um ato cujo estopim foi a morte de alguns negros em São Paulo. Fora isso, existem iniciativas de comunidades negras como a criação de uma carteirinha contra a abordagem violenta de policiais, entre outras. Apesar disso, continuamos vendo em dados e estatísticas os mesmos resultados. Precisamos ir além para não vermos mais isso se repetindo”, analisa.
A edição de 2012 do Mapa da Violência : ‘A cor dos homicídios no Brasil’ desenvolvido pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, Secretaria de Políticas de promoção de Igualdade Racial e a Flacso Brasil mostra que este índice está aumentando ao passar das décadas. A pesquisa mostra que entre 2002 e 2010, segundo os registros do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), morreram no país 272.422 cidadãos negros, com uma média de 30.269 assassinatos ao ano. Além disso, destaca ainda o ano de 2010 como o mais crítico, por ter um somatório de 34.983 mortes por essa causa.
“Várias pesquisas há muito tempo têm mostrado que as vítimas são preferencial jovens, negros e solteiros. No estudo realizado pela LAV-UERJ em parcerias com as outras instituições, é possível perceber que os adolescentes negros têm quase três vezes mais chances de serem vítimas de homicídio do que os jovens brancos da mesma faixa etária”, explica o pesquisador Doriam Borges. E completa: “Vivemos em uma sociedade socialmente e racialmente desigual. E elas têm uma relação muito forte. Não é que os negros deveriam ser mais vítimas, mas, por conta de toda essa desigualdade social, eles continuam sendo vítimas porque já são vítimas de tantas outras violências há muito tempo”.
Violência e políticas públicas
O relatório do Sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva SUS), a ser divulgado no início deste ano, mostra que os indivíduos do sexo masculino representaram a maior proporção dentre os atendimentos de casos de violência realizados pelo SUS, totalizando 71,1%. Além disso, ele estratifica, evidenciado que a faixa etária de 20 a 30 anos concentra 34,8% deste montante; e os atendimentos envolvendo pessoas com cor da pele parda e preta são de 51,4% e 17,8%, respectivamente.
Deborah Malta, coordenadora de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, explica que o Ministério tem feito diversas estratégias para dar suporte à implementação de políticas públicas nessa área. “Enquanto política setorial, temos reportado as ações sobre mortalidade, apoiando os estados para que desenvolvam projetos específicos de prevenção, proteção e vigilância. Além disso, o Ministério da Saúde vem desenvolvendo projetos de capacitação de equipes de saúde em relação a acidentes e violência e ao trabalho de notificação de vítimas de violência. Mas, como a compreensão deste tipo de violência está muito relacionada a um conjunto de questões sociais, muitas vezes extrapola a capacidade de intervenção e de dar respostas do setor de saúde”, explica.
No entanto, Paulo Ramos critica a falta de políticas públicas, especialmente de saúde, focadas nesta população negra. “Hoje o Ministério da Saúde desenvolve ações para as mulheres, que acabam atendendo às necessidades das jovens negras, mas políticas especificamente para os homens não existem”, analisa.
Doriam Borges concorda que as políticas públicas existentes hoje são muito abrangentes e que precisam ser mais focalizadas a públicos específicos. “É preciso em primeiro lugar uma política séria de desarmamento. A chance de os jovens morrerem por arma de fogo é muito maior do que por outros meios. Além disso, é importante que se criem políticas específicas de prevenção e redução de homicídios contra adolescentes e jovens, que é o público alvo. Não temos políticas específicas de violência letal. Temos algumas políticas mais abrangentes, como as de segurança pública, mas, muitas vezes, as políticas públicas de segurança acabam sendo mais reativas, e nós precisamos de políticas preventivas na área de letalidade de juventude”, comenta. De acordo com a pesquisa do IHA, o risco de morte com arma de fogo entre adolescentes é seis vezes maior do que por outros meios.
Como forma de orientar políticas públicas mais específicas, as instituições responsáveis pelo IHA também criaram o Guia Municipal de Prevenção da Violência Letal contra Adolescentes e Jovens com intuito de proporcionar uma metodologia de orientação aos gestores municipais na elaboração de políticas públicas voltadas para a redução da violência desta faixa etária. “Nesse guia, damos algumas orientações sobre como os gestores podem desenvolver políticas públicas. Cada cidade precisa de políticas específicas para suas realidades”, aponta Doriam.
Fonte:http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/02/jovens-negros-o-massacre-das-principais-vitimas-do-brasil.html
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Vida difícil? Ajude um estranho .
Pode parecer ilógico -no mínimo pouco prioritário- ajudar um estranho quando as coisas parecem confusas na nossa vida. Mas eu venho aprendendo que este é um poderoso antídoto para os dias em que tudo parece fora do lugar.
Como assim, pergunta o meu leitor mais cético? E eu explico:
Há duas situações clássicas onde podemos auxiliar uma pessoa que não conhecemos. A primeira é através de doações e gestos similares de caridade. Estes atos são maravilhosos e muito recomendáveis, mas não é deles que quero falar hoje. Escolhi o segundo tipo: aquelas situações randômicas onde temos a oportunidade de fazer a diferença para uma pessoa desconhecida numa emergência qualquer. Na maioria das vezes, pessoas com quem esbarramos em locais públicos, envolvidas em situações que podem ir do estar atrapalhado até o precisar de mãos para apagar um incêndio.
Eu vejo pelo menos seis motivos para ajudar um estranho:
1) Divergir o olhar de nossos próprios problemas
Por um momento, por menor que seja, teremos a chance de esquecer nossas preocupações.
Dedicados a resolver o problema do outro (SEMPRE mais fácil do que os nossos), descansamos nossa mente. Ganhamos energia para o próximo round de nossa própria luta.
Esta pausa pode nos dar novo fôlego ou simplesmente ser um descanso momentâneo.
2) Olhar por um outro ângulo
Vez ou outra, teremos a oportunidade de relativizar nossos próprios problemas á luz do que encontramos nestes momento. Afinal, alguns de nossos problemas não são tão grandes assim...
Uma vez ajudei Teresa, a senhora que vende balas na porta da escola de meu filho. A situação dela era impossível de ser resolvida sozinha, pois precisava “estacionar” o carrinho que havia quebrado no meio de uma rua deserta. Jamais esquecerei o olhar desesperado, a preocupação com o patrimônio em risco, com o dia de by Savings Sidekick">trabalho desperdiçado, com as providências inevitáveis e caras. E jamais me esquecerei do olhar úmido e agradecido, apesar de eu jamais ter comprado nada dela. Nem antes nem depois.
Olhei com distanciamento o problema de Teresa. E fiquei grata por não ter que trabalhar na rua, por ter tantos recursos e by Savings Sidekick">oportunidades. E agradeci por estar lá, naquela hora, na rua de pouco movimento, e poder oferecer meus braços para ela.
3) Não há antes, nem depois ...
Na intricada teia de nossos by Savings Sidekick">relacionamentos, dívidas e depósitos se amontoam. Ajudar um conhecido muitas vezes cria vínculos ou situações complexas. Ás vezes, ele espera retribuir. Outras vezes, esperamos retribuição. Se temos ressentimentos com a pessoa, ajudá-la nem sempre deixa um gosto bom na boca. Se ela tem ressentimentos conosco, fica tudo muito ruim também.
Já com estranhos são simples. É ali, naquela hora. Depois acabou. E não há antes. Que alívio!
(mas não vamos deixar de ajudar os conhecidos dentro de nossas possibilidades, hein?)
4) A gratidão pelo inesperado é deliciosa
Quem se lembra de uma vez em que recebeu uma gentileza inesperada? Não é especial? E nem sempre estamos merecendo, mal-humorados por conta do revés em questão.
Ou quando ajudamos alguém e recebemos aquele olhar espantado e feliz?
Ontem mesmo, eu estava numa fila comum de banco. Um senhor bem velhinho estava atrás de mim. Na hora em que fui chamada, pedi que ele fosse primeiro. “Mas por que, minha filha?”. “Pelos seus cabelos brancos”, respondi. Ele, agradecido, me deu uma balinha de hortelã. Tudo muito singelo, muito fácil de fazer, mas o sentimento foi boooom.
5) Quase sempre, é fácil de fazer.
Uma vez eu fiquei envolvida por uma semana com uma mãe e um bebê que vieram para São Paulo para uma cirurgia e não tinha ninguém para esperar no aeroporto. Levei para um hotel barato, acompanhei por uma semana e tive medo de estar sendo usada, reforçada pelo ceticismo de muitas pessoas ao meu redor. No final, deu tudo certo e a história era verdadeira.
Mas na maioria dos casos, não é preciso tanto risco ou tanto tempo. Uma informação; um abaixar para pegar algo que caiu; uma dica sobre um produto no supermercado. Dar o braço para um cego (nunca pegue a mão dele, deixe que ele pegue o seu braço, aprendi com meu experiente marido). Facílimo, diria o Léo. E vamos combinar, fácil é tudo que precisamos quando o dia está difícil, certo?
6) Amor, meu grande amor
Finalmente, ajudar estranhos evoca o nosso melhor eu. É comum termos sentimentos de inadequação, baixa auto-estima e insatisfação conosco quando estamos sob tempo nublado. E ajudar o outro nos lembra que somos bons e capazes. Ajudar um estranho demonstra desapego, generosidade, empatia pelo próximo. E saber que somos tudo isto quando o coração está cinza... É para olhar com orgulho no espelho, não?
Portanto, se hoje não é o seu dia... Faça o dia de alguém. E se é um dia glorioso... Vai ficar melhor!
Fonte:http://www.vivermaissimples.com/2011/03/vida-dificil-ajude-um-estranho.html
Fonte:http://www.vivermaissimples.com/2011/03/vida-dificil-ajude-um-estranho.html
Karoline Toledo Pinto
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